As causas da desestabilização crescente no Médio Oriente e em África são estruturais e não se resolvem com a recepção de refugiados a contragosto e, menos ainda, com bombardeamentos. Emblematicamente os dois gráficos seguintes, revelam esses problemas estruturais resultantes das grandes desigualdades que dividem a orla mediterrânica. Essas desigualdades são de per si violentas; e onde há violência, há resistência que, pacífica ou não, por norma, atrai mais violência, destruição e sofrimentos. Mesmo que não seja referido explicitamente nos discursos editoriais, na base dos conflitos estão as relações desiguais que caraterizam o capitalismo.
A compreensão ocidental dos problemas vividos, nasce e cinge-se, desde há muitas décadas à leitura das questões relativas à infraestrutura económica à qual se exige produza o desenvolvimento económico - cujo nome disfarça o extrativismo predatório - como solução; sem tocarem na propriedade dos meios de produção, na distribuição do rendimento gerado, nem evitarem a destruição dos ecossistemas. Em contrapartida canta-se a estúpida narrativa neoliberal do investimento que gera emprego, do baixo salário como base da competitividade, do consumo montado em dívida.
Há uma superstrutura ideológica de crispação, de choque de civilizações, teorizada por Huntington, que atualizou para o mundo pós-colonial o complexo de superioridade do colonizador, exigente da obediência e da mimetização de hábitos "civilizados" pelo colonizado mas, pouco votado a compreender o sentir e a racionalidade inerente à cultura dos indígenas, dos nativos, mantidos atrasados pelos 3 M's de René Dumont, no referente à África. Essa superioridade geradora de direitos de liderança e de imposição aos recalcitrantes designa-se, muitas vezes por eurocentrismo e é a fonte de uma dívida menos falada do que a financeira, que é a dívida colonial.
A contestação radical que foi conhecida na Europa nos anos 60/70 do século passado baseava-se em filosofias de raiz europeia e foi essa mesma a base política dos movimentos de libertação anticoloniais. Naquela época, as culturas europeias confrontaram-se com a imolação pelo fogo de monges budistas no Vietnam, em luta contra a ditadura local, totalmente incompreensível para os europeus, incapazes de entender a força da mensagem de protesto daqueles sacrifícios serenos e pacíficos. Do mesmo modo, os atentados praticados por muçulmanos, com o rebentamento de cintos com explosivos, para atingir o inimigo, são actos que resultam da falta de esperança, da humilhação racista, da vingança de parentes vitimados ou da vingança comunitária, face a um opressor ou agressor e não a procura de benfeitorias no Além. Uma vez mais, as causas estão no terreno, na pobreza, nas desigualdades, na falta de futuro, na humilhação comunitária, na agressão externa, na repressão. Na antiga Saigão, em Nova Iorque, em Paris. Podem colocar um polícia em cada porta, um a vigiar cada IP de computador, vigiar fronteiras e escrutinar listas de passageiros, aumentar as trocas de informações e bombardear países inteiros que nada disso irá alterar a essência do que é espelhado nos gráficos acima inseridos.
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