A tentativa de tornar a Geórgia e a Ucrânia membros da aliança OTAN é uma política de pé quebrado que garante novos conflitos adicionais com a Rússia. Há um caminho melhor, diz Aviel Roshwald.
Entretanto, continuar insistindo na incorporação, no final, desses países na OTAN é insensatez. Verdade, estados soberanos como a Geórgia e a Ucrânia têm todo o direito de solicitar admissão na OTAN. A OTAN, porém, não tem obrigação de permitir que sejam admitidas. Admitir a Geórgia significaria comprometer a aliança com um país cujas fronteiras estão em disputa com a Rússia. Estaria ela realmente disposta a invocar o Artigo 5 do Tratado do Atlântico Norte e arriscar-se a escalada até um confronto nuclear com a Rússia a propósito da Ossétia do Sul e da Abcázia? E, se não, onde isso deixaria a credibilidade da OTAN?
Deixar a Ucrânia juntar-se à OTAN quase inevitavelmente deflagraria uma secessão, orquestrada por Moscou , da Ucrânia em relação à etnicamente russa península da Criméia, lar da base da marinha russa no Mar Negro. Atende ao interesse de alguém ver outro estado europeu desfazer-se em fragmentos? Estaria o ocidente disposto a colocar a reputação da OTAN na reta a respeito de qualquer conflito de fronteiras subsequente entre uma Ucrânia destituída e uma Criméia controlada pelos russos? Repetindo: se não, isso debilitaria o poder de dissuasão da aliança como um todo. Fazer a OTAN avançar ainda mais para o leste seria superestendê-la. O que deixaria a aliança diante de dilemas muito mais penosos e perigosos até do que aqueles suscitados pela crise georgiana.
Um desafio criativo
A OTAN, e as potências ocidentais em geral, precisam mudar de direção. A iminente eleição presidencial nos Estados Unidos oferece uma oportunidade. O que o próximo presidente estadunidense precisa fazer é empreender uma revisão estratégica das relações com a Rússia, seguida de intensas negociações de bastidores que têm que incluir aliados da OTAN. O objetivo deveria ser uma acomodação geral com a Rússia baseada em concessões realistas que serão difíceis de ser aceitas por ambos os lados, mas necessárias para evitar confronto perigoso adicional.
Em quaisquer dessas conversas, os planos de defesa contra mísseis e expansão da OTAN servirão, na verdade, como úteis moedas de barganha. Em troca de dar um fim definitivo ao aumento da OTAN e do cancelamento ou modificação do sistema de defesa contra mísseis, os aliados ocidentais deveriam insistir em cooperação russa muito mais enérgica e sistemática para acabar com o programa do Irã suspeito de envolver armas nucleares (*) . Deveriam também exigir que a Rússia respeitasse a soberania, a integridade territorial, e as instituições democráticas de seus vizinhos, com mecanismos mais fortes tornados disponíveis para a Organização de Segurança e Cooperação na Europa - Organisation for Security and Cooperation in Europe (OSCE) para superintendência de processos eleitorais e proteção de direitos humanos em seus estados-membros.
(*) Tanto quanto eu saiba, o Irã tem pleno direito, pela lei internacional, de desenvolver seu programa nuclear para fins pacíficos e, assim, a proposta do autor deste texto parece apoiar uma medida sem apoio legal no sentido de interferir com referido programa.
De sua parte, poder-se-á esperar, razoavelmente, que a Rússia insista em que ex-repúblicas soviéticas aceitem políticas externas que respeitem interesses fundamentais de segurança de Moscou (*) .
(*) Que eu saiba, a Rússia já faz isto o tempo todo, então não entendi a idéia. Quem está fazendo o contrário é exatamente o ocidente.
Durante os últimos anos da guerra fria, quando o extremo perigo de fazer o circo pegar fogo veio a ser plenamente apreciado por ambos os lados, abordagens nuanceadas e sutis de resolução de conflitos foram desenvolvidas, as quais ajudaram a conter os riscos de escalada. A diplomacia flexível e imaginativa desenvolvida durante as décadas finais da época da guerra fria é enormemente necessária hoje.
Com uma abordagem nova desse tipo, há toda razão para acreditar-se que o ocidente e a Rússia poderão criar um arcabouço para negociação de suas diferenças e uma base para estabilidade de longo prazo em todo o continente europeu.
Autor da publicação: Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme
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