Intervenção de Iván Márquez no CNE por motivo da inscrição do Partido FARC
Palavras de Iván Márquez no Conselho Nacional Eleitoral [CNE] por motivo da inscrição da Força Alternativa Revolucionária do Comum [FARC] como novo partido político.
Durante a revolução e a guerra civil espanhola, Pablo Neruda disse sobre González Tuñón que "foi o primeiro que blindou a rosa", isto é, que enamorou a poesia com a política de emancipação dos povos e a classe trabalhadora insurreta.
Companheiras e companheiros
Amigos da paz com justiça social para Colômbia.
Quero proclamar nesta sede do CNE que o conflito armado que dilacerou a Colômbia por mais de meio século, a partir deste momento, é história; é história. Que todos os colombianos de boa vontade, ao contemplarem o prodígio do Acordo de Paz tecido em Havana se abracem e celebrem, tanto nas cidades como nos sulcos da pátria, e elevem agradecidos suas orações ao céu. Começa uma nova era para Colômbia, a de mobilização da esperança, da rebeldia e dos tumultos de sonhos de um povo, que cansado do abuso de seus governantes, já não quer seguir sendo pisoteado.
Os discriminados e todos aqueles que sempre ansiaram ter um bom governo sabem que 50 anos de rebeldia armada contra um regime injusto não foram em vão. A luta armada gerou consciência, porém também acumulou uma potência transformadora, que é como uma grande força, por enquanto invisível, porém material ao mesmo tempo porque é capaz de derrubar injustiças e eliminar a iniquidade. Essa força já está entre nós, entre o povo e todos os que desejam mudanças... Ao nos converter hoje em Força Alternativa Revolucionária do Comum, FARC, estamos entregando ao povo essa potência; essa força arrasadora para que com suas próprias mãos direcione a mudança.
É o momento das decisões. De atuar resolutamente e de maneira coletiva se queremos pátria para todos, porque, repito, já temos em nossas mãos os elementos que nos faziam falta para construir, desde o sistema e a institucionalidade, uma nova ordem social que abrace a todos os filhos da Colômbia, sem privilégios indignantes e sem violência, e que restaure a dignidade do povo.
Chamamos a nossos irmãos que militam sob o íris de todas as bandeiras políticas a que busquemos conjuntamente os caminhos da unidade. UNIDOS SEREMOS FORTES E MERECEREMOS RESPEITO; DIVIDIDOS E ISOLADOS PERECEREMOS, nos diz Simón Bolívar, O Libertador.
Ao povo liberal e conservador, aos comunistas e ao Polo, aos Verdes, e a Poder Cidadão, à Marcha Patriótica e à UP, ao Congresso dos Povos, às organizações sociais que travaram as mais extraordinárias batalhas nas ruas por seus direitos, aos militares e policiais, aos ex-paramilitares e a todos os ex-combatentes, aos altos Oficiais e mandos médios das Forças Armadas, à grande população cristã, à gente que pensa, os chamamos a dialogar para buscar um pacto de unidade dos colombianos com uma só bandeira, que recolha os sentimentos de todos e assim abordar a construção do futuro, do país que queremos deixar para as novas gerações e que preencha a estas de orgulho por viverem numa pátria inclusiva, em paz, justa e soberana.
Para trás ficou a guerra com sua carga de dor e luto; viramos essa página triste. Agora devemos nos dedicar a reconciliar a família colombiana, cicatrizando as feridas com Verdade, e nos comprometendo todos os envolvidos no velho conflito armado com um rotundo NUNCA MAIS que surja desde nossos corações, e o compromisso sagrado que no sucessivo nossas disputas políticas se farão pela via civilizada.
O Acordo de Paz será o primeiro tijolo da imponente obra arquitetônica do edifício da paz que será levantado pelo mutirão nacional.
A hora da mudança toca precipitadamente e com urgência à porta da Colômbia, porque todos e todas já nos cansamos de tanto abuso, da corrupção e da podridão das esferas do poder. Já nos cansamos da impunidade e do desrespeito à Nação por parte de alguns magistrados que ausentes de sentimentos de pátria posam de impolutos e que se creem intocáveis frente à lei enquanto enchem os bolsos. Já nos cansamos do exercício desse estilo parlamentar de certos congressistas demagogos acostumados aos mais elevados salários, cevados nas partidas e nas propinas, de presidentes desalmados e apocalípticos que persistem em sua loucura da guerra. Já nos cansamos da maneira impune como saqueiam e roubam as riquezas do país enquanto o povo vive jogado na miséria. Não qu eremos seguir sendo o terceiro país mais desigual do mundo; queremos ser o primeiro em respeito à dignidade humana e à natureza.
Convidamos todo mundo a construir um país decente e a instaurar um Governo que dê um tratamento humano e solidário a seus cidadãos, que lhes dê possibilidades de comida, moradia, educação, saúde, água potável, rodovias, lazer, transporte público barato, tendo em conta aos pobres da Colômbia desde os planos territoriais até os planos nacionais de desenvolvimento; um Governo que seja respeitoso da comunidade internacional, de seus vizinhos, com os quais há que caminhar lado a lado, como irmãos. Um Governo que meta ombro ao futuro para as novas gerações.
Queremos ver um campo florescido de projetos produtivos recuperando para Colômbia sua soberania alimentar... Se isto ocorre já não terão mais seus cultivos de uso ilícitos. Nos comprometemos a desdobrar uma intensa pedagogia de substituição para que os campesinos pobres deixem de semear coca. O exercício da mineração deve ser responsável para que não degrade a terra e a natureza, e que o resultado das explorações seja dirigido fundamentalmente a impulsar o progresso dos colombianos, e para que não levem tudo, deixando-nos com uma mão na frente e outra atrás.
Santos nos reiterou que não faltará à paz, e acreditamos nele. Lhe acreditamos por sua determinação, porque um Nobel de paz presidindo uma República não pode ser inferior ao laurel que a história cingiu sobre sua fronte.
Agradecemos a todos os colombianos o imenso aporte que têm feito à paz, respaldando-a sempre. E para todos aqueles que morreram sonhando com um país em paz, como Manuel Marulanda Vélez, Jacobo Arenas e Alfonso Cano, nossa mais sincera homenagem desde o altar da pátria.
Ex-combatentes das FARC: somos uma comunidade de irmãos e irmãs, somos família, e nela incluímos a todos os excluídos. Seguiremos então como uma grande família unida, exigindo o cumprimento das garantias socioeconômicas prometidas pelo Governo. Vamos buscar por todos os meios a materialização dos projetos produtivos e a construção de cidadelas de paz, para que, em companhia das Juntas de Ação Comunal e de todos os que queiram, brindemos alma às alternativas de bem viver.
Não esquecemos de nossos prisioneiros. Por isso reclamamos que todos eles saiam dos cárceres como reza o Acordo de Paz. E por isso também pedimos hoje, muito respeitosamente, ao Governo do presidente Trump que, firmada a paz em Colômbia, nos ofereça, como um gesto adicional de respaldo a esta concórdia, a liberdade de Simón Trinidad que já acumula 12 anos de prisão. Lhe pedimos esta graça esperando que nos ajude para que o caso de Simón seja assumido pela Jurisdição Especial para a Paz.
Juventude da Colômbia, nossa vênia e nosso reconhecimento. Gritemos VIVA A JUVENTUDE para reconhecer o trabalho abnegado por uma pátria nova que desdobram em suas bandeiras ao vento a Juventude Rebelde, a JUCO, as juventudes liberais e conservadoras do país. Eles saberão trabalhar unidos em busca de dignidade para todos. Confiamos plenamente em vocês, em sua criatividade e seus sentimentos solidários.
Nosso objetivo continua sendo a superação da velha e injusta ordem social, encarando sua realidade hoje, de todo coração, comprometidos sem descanso numa constante luta pelas mudanças pelas quais muitos combatentes ofereceram suas vidas, tal como o concebera o comandante Manuel, e motivados na grande causa da paz com justiça social e soberania; aportando cada um de nós à conquista dos propósitos, sempre apoiados nas massas, e convencidos de que o triunfo será nosso, isto é, dos colombianos, mais cedo que tarde.
Marcharemos contra a tempestade se necessário for para consolidar a paz. SOMOS A ALTERNATIVA. Com nossa vermelha rosa blindada, VAMOS PRA FRENTE!
JURAMOS VENCER, E VENCEREMOS.
Tradução > Joaquim Lisboa Neto
www.farc-ep.co
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