A cultura e a alma de um povo
José Aparecido de Oliveira foi o primeiro secretário de Estado de Cultura de Minas Gerais e o primeiro ministro da Cultura do Brasil. Dizia que um povo sem cultura é como um corpo sem alma. Foi pioneiro na conscientização da defesa do nosso patrimônio artístico e arquitetônico, e na defesa permanente da cultura e da arte brasileira. Vislumbrou o Ministério da Cultura quando lançou, de forma inédita no Brasil, a campanha em defesa do patrimônio artístico e arquitetônico da cidade do Serro, em 1974, com ampla divulgação pelo país, ganhando apoio e incentivo do grande historiador nacional Hélio Silva, do grande arquiteto nacional, Oscar Niemeyer, e do grande cartunista nacional, Ziraldo.
Muitos se juntaram ao seu pioneiro movimento, que culminou com um grande ato em praça pública no Serro, no ano de 1975. Para lá rumaram em precária estrada de terra os maiores nomes da intelectualidade brasileira, para fazer um grande comício em defesa do nosso patrimônio artístico e arquitetônico que definhava, um verdadeiro ato público pela cultura brasileira, isso tudo em plena Ditadura. Sua presença foi tão marcante nesta campanha que até um ministro do governo militar se fez presente, Severo Gomes, sendo José Aparecido de Oliveira um político cassado pelo Golpe de 1964.
As ruas do Serro, as montanhas de Minas e os degraus da igreja do Carmo assistiram a bela solenidade naquele improvável ano de 1975, quando foi gravado em pedra e enterrada em sua escadaria uma urna contendo os jornais da época, revistas, fotos, editoriais e documentos daquele movimento pelo tombamento do patrimônio histórico do Serro. Era o início de tudo...
Pouco tempo depois, sendo ele o segundo deputado federal mais votado por Minas Gerais nas eleições de 1982, negociou com o novo governador de Minas, Tancredo Neves, a criação da Secretaria de Estado de Cultura, pensando sempre em cuidar da alma do povo das Minas, que via seu legado histórico e cultural sendo consumido pelo tempo.
Como secretário de Estado, congregou as várias entidades culturais do país, que culminou no Fórum Nacional de Secretários da Cultura, quando foi lançada a pedra fundamental do Ministério, chegando ao presidente João Batista Figueiredo a sugestão de que o ano de 1985 fosse decretado como o Ano Nacional da Cultura, o que foi aceito pelo último presidente militar do Brasil. O Fórum foi fundado com a ajuda de Darcy Ribeiro, que a exemplo de Minas criara a secretaria de Estado da Cultura do Rio de Janeiro.
Depois da eleição de Tancredo Neves como presidente da República, José Aparecido de Oliveira levou para o Planalto Central a experiência exitosa da Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais, fundando assim o Ministério da Cultura, sendo ele o primeiro ministro. Seu projeto inicial implantava centros culturais comunitários por todo o Brasil, colocava na ordem do dia a restauração de prédios históricos e das grandes estações ferroviárias do país, criou a Assessoria de Assuntos de Cultura Negra e a Assessoria de Assuntos da Cultura Indígena, imaginando interligar as várias matrizes da cultura brasileira, sabendo ser ela fundida em uma só.
Trinta anos depois, o Brasil tornou-se um país sem Ministério da Cultura, como um corpo sem alma.
Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor
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