A presidenta Cristina Kirchner e o ex-presidente Lula reivindicaram o processo de integração regional e coincidiram em questionar o papel conservador dos grandes meios de comunicação. Também destacaram a educação como fator de justiça social.
Nicolás Lantos - Página 12
Buenos Aires - A presidenta Cristina Fernández de Kirchner e o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva coincidiram quinta-feira (16) em criticar o papel dos meios de imprensa como um fator de poder conservador no processo que se vive na América do Sul há uma década. "É incrível: quando os criticamos, dizem que estamos atacando-os. Mas quando os meios de comunicação nos atacam, dizem que é democracia. Isso não pode ser assim", afirmou o dirigente do Partido dos Trabalhadores (PT), enquanto a chefa de Estado argentina insistiu: "Poderão inventar dez mil manchetes e editar 25 mil frases, mas nunca poderão apagar a vivência dos argentinos sobre o que aconteceu nesta década". Os dois compartilharam o ato pela inauguração da Universidade Metropolitana pela Educação e o Trabalho (UMET), onde também reivindicaram o processo de integração regional que, segundo Lula, "está em seu melhor momento".
Durante a cerimônia, o tema excludente foi a importância de fazer chegar a educação para toda a população como ferramenta para reduzir a desigualdade, mas acabou derivando, uma e outra vez, no papel dos setores conservadores e dos grandes conglomerados comunicacionais na hora de opor-se a esses avanços. Nesse sentido, o brasileiro destacou que "dar uma oportunidade aos que nunca tiveram oportunidades" é a única forma de empoderar-se diante dos embates daqueles que historicamente exerceram a tomada de decisões.
"Ampliar e multiplicar direitos outorga uma legitimidade extraordinária a qualquer governo", porque "quando se constrói justiça social, podem vir todos os jornais e canais de televisão dizer o contrário, mas as pessoas não se esquecem" dos benefícios a que tiveram acesso, afirmou o ex-presidente. "Venha quem venha depois, ninguém poderá negar o apoio que o governo dos Kirchner deu aos pobres", agregou, antes de comparar o processo que encabeçou e que agora leva adiante a presidenta Dilma Rousseff com os ciclos peronistas na Argentina: "Os setores conservadores do Brasil não entendem o que aconteceu nesta década. Como não entendem o que aconteceu aqui nos anos 40 e o que acontece agora", concluiu.
"Você não imagina as coisas que disseram do governo peronista, não sabe as coisas que disseram de Eva e de Perón", respondeu CFK. "Mas não puderam com eles porque haviam ampliado direitos. Agora poderão ter dez mil manchetes e editar 25 mil frases, mas nunca poderão apagar a vivência de cada argentino do que aconteceu nessa década: os direitos, as obras, as escolas, os milhões de trabalhadores que hoje têm trabalho." A Presidenta também se permitiu uma ironia: "Cada vez que querem nos criticar, nos dizem que não somos como o Brasil. Mas a verdade é que, por sorte, somos sim. Somos como Lula, somos como Dilma", celebrou, levantando aplausos na plateia.
"Que cada um escolha"
CFK e Lula também coincidiram em dar ênfase na importância da educação como fator chave para a inclusão e a justiça social. "Alguns falam de governos populistas, eu prefiro dizer governos que acreditam na igualdade de oportunidades para que cada um possa escolher que vida quer ter", afirmou Fernández de Kirchner. Lula, por sua parte, enumerou os eixos que sustentam uma política inclusiva neste sentido: acesso de mais jovens à educação universitária, valorização do trabalho docente, redução da brecha digital e uma maior inter-relação entre o sistema educativo e o sistema produtivo.
"Não fazemos milagres, não existem milagres na política. A educação cumpre uma função fundamental na tarefa de fazer a sociedade mais justa - afirmou Lula -. No Brasil, lutamos contra todos os monopólios e isso inclui também o monopólio da educação" por parte das classes mais altas, acrescentou, porque "isso não é outra coisa que o monopólio do poder". Nesse sentido, destacou a importância de "beneficiar todos, mas especialmente aqueles a quem a educação foi negada historicamente".
A Presidenta marcou um contraponto ao lembrar que na Argentina "depois de 2001, a classe média esteve à beira da extinção" e grande parte da tarefa enfrentada pelo kirchnerismo nessa década passou por recuperar esse setor, que sempre foi muito forte nesse país, diferente do que acontecia no Brasil, onde as desigualdades eram mais notórias. "Quero lembrar às classes médias que golpeavam com martelos nas portas dos bancos que, ainda que às vezes se esqueçam, foi este governo o que lhes devolveu suas poupanças", concluiu a Presidenta, destacando que "este foi o governo no qual os trabalhadores, os sindicatos e as organizações de direitos humanos voltaram a entrar na Casa Rosada".
Por último, ambos coincidiram na necessidade de continuar incentivando a integração regional que começaram, já há uma década Lula, Néstor Kirchner e Hugo Chávez. "Derrubamos o mito da rivalidade brasileiro-argentina que impedia que crescêssemos juntos e servia aos interesses que estavam contra os nossos. Os poderosos necessitam a divisão para seguirem sendo poderosos, e vocês quebraram esta pretendida desunião", sustentou Fernández de Kirchner. O brasileiro, por sua parte, concluiu: "Temos o direito e a obrigação de lutar por um mundo mais justo. Será mais justo quando os direitos não forem patrimônio apenas daqueles que tenham dinheiro para comprá-los".
Tradução: Liborio Júnior
Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Fonte Carta Maior
http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=fcbc95ccdd551da181207c0c1400c655&cod=11529
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