FIFA 2010: É a vez da África

Desde o início até ao final da Copa 2010 na África do Sul, o mundo juntou-se numa fantasia de futebol, de amizade, de boa vontade, de esportivismo e amor pelo próximo. Também escrutinou o país anfitrião e fez o seu julgamento: É a vez da África!

Em termos de eficácia e boa organização, África do Sul 2010 foi um grande sucesso, desde a maravilhosa cerimónia de abertura com aquele espetáculo da Shakira ( Shakira é espetáculo, quer no palco, quer fora, onde o seu empenho em actos de caridade a elevam ao estatuto de campeã da humanidade e de direitos básicos humanos) até a de encerramento.

Naturalmente, FIFA enviou seu exército de oficiais desde o momento da candidatura e seguiu de perto todos os desenvolvimentos mas a verdade é que África do Sul, representando o continente africano, esteve à altura do desafio e África do Sul provou que os relatórios na midia controlada foram nada mais do que tentativas de perpetuar o mito que a África é um sítio escuro com gente escura, fonte de desespero, doenças e desastres e nunca nada positivo.

Inicialmente estas “fontes” de (des)informação concentraram-se muito mais em historiazitas de criadas a roubarem nos quartos de hóteis, em pequenos furtos nas ruas, dos bagageiros nos aeroportos, do que no futebol. As mesmas fontes ignoraram por completo As Boas Notícias, enviadas pelas autoridades sul-africanas semanalmente desde há dois anos, acerca do progresso que este país africano estava fazendo em termos sociais e económicos. Mais uma vez, via-se que África tinha sido carimbada, rotulada de “falhada” e fonte de histórias do tipo “uau!”.

Mas gradulamente, o fator “uau!” desapareceu e todos concentravam não só em África mas também no futebol; não na composição étnica das equipas mas sim nos resultados e não nos pequenos incidentes à volta de alguns estádios (vejam as cenas horríveis de violência perpetradas por não-africanos em estádios à volta do mundo) mas sim, em quem metia a bola na rede.

De repente, tínhamos um Campeonato, tínhamos Copa! De repente, víamos equipas de jovens de vários continentes a festejarem juntos, gozando o momento, apertando mãos, abraçando-se, divertindo-se a praticar o esporte. De repente, ouvíamos a vuvuzela (foi divertido, mas por favor…é preciso dizer mais?) e assistíamos a Nação Arco-Iris corajosamente a misturar os grupos de adeptos nos estádios, espelho da composição étnica do país.

E funcionou.

Aqueles como eu, que antes do campeonato estavam sentindo vacinados pela massificação da estupidez através do futebol, de repente sentíamos a paixão e a boa vontade, em dois jogos no dia 11 de Junho. O primeiro foi África do Sul v. México e o segundo, França v. Uruguai.

No primeiro, a magia de ver grupos de jovens de dois continentes a jogarem juntos pela primeira vez numa fase final da Copa; no segundo, a maravilhosa organização do Uruguai de

Oscar Washington Tabarez contra a primeira das equipas cansadas/cansativas do velho continente.

Foi o campeonato dos colonizados contra os colonizadores, o campeonato da igualdade, a confirmação da globalização de conhecimento, em que já não há colossos mundiais: as duas equipas que chegaram ao final lá estavam pela primeira vez.

Teve seus “se’s”. Por exemplo, se a FIFA deveria ou não juntar-se às outras modalidades esportivas e usar tecnologia de ponta visto que seus árbitros são incapazes de tomarem decisões racionais, tais como verem uma bola a atravessar a linha do golo; se os árbitros deveriam ter punido com cartão vermelho directo intervenções horríficas tais como a que colocou Elano fora da equipa do Brasil ou aquele animal holandês a enfiar os pitões no peito de um colega espanhol; se é admissível que este arbitragem às vezes tendenciosa deveria ter ajudado a Holanda contra Uruguai, Alemanha contra Inglaterra e Espanha contra Portugal.

O prémio de consolação para Uruguai, equipa que capturou os corações do Mundo, pelas suas fantásticas e corajosas exibições de futebol em equipa, jogando com o coração, com a alma, comendo o relvado, transpirando a alegria de jogar e o orgulho de representar seu país, veio na consagração de Diego Forlán Melhor Jogador da Copa. Esperemos ver esta revitalização do Uruguai no Brasil em 2014 e esperemos ver Óscar Tabarez a continuar seu magnífico trabalho.

Seria injusto não congratular também a Espanha pelo seu futebol de fantasia, o curto passe, o maravilhoso trabalho fora da bola, ganhando posição, jogando sem medo, mesmo contra um adversário “físico” como a Holanda que não mereceu vencer a partida pela violência coletiva dos seus jogadores.

Contudo para mim, basta ver que na África do Sul, falou-se de futebol, não dos problemas africanos e isso é prova suficiente que África do Sul, representando o Continente africano, não foi menos do que qualquer outra nação organizadora em toda a história do esporte. Parabéns, África: Chegou a sua vez, e honrou o desafio!

Timothy BANCROFT-HINCHEY

PRAVDA.Ru

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