Massacre no Líbano continua
Mesmo após o cessar fogo anunciado pela mídia global no dia 14 de agosto, tanto Israel quanto o Hezbollah continuaram a atacar alvos civis esta semana.
Por Gustavo Barreto, para o Fazendo Media, 20/8/2006
De acordo com informes da Anistia Internacional, desde o início do conflito, em 12 de julho, até o cessar fogo morreram cerca de 1.000 civis em bombardeios aéreos e de artilharia pesada efetuados por Israel no Líbano e uns 40 em ataques com foguetes lançados pelo Hezbollah contra o norte de Israel. O cessar fogo diplomático foi obtido em virtude da Resolução 1701 do Conselho de Segurança das Organizações das Nações Unidas (ONU).
"Ambos os grupos continuaram efetuando ataques indiscriminados e desproporcionados contra civis até o cessar fogo, entre eles bombardeios de infra-estrutura civil feitos pelas forças israelense em todo o Líbano. Na noite de 11 de agosto, um comboio que circulava pelo sul do vale de Bekaa, no leste do Líbano, foi bombardeado pelas forças israelenses", informou a Anistia. Pelo menos seis civis morreram, incluindo um voluntário da Cruz Vermelha libanesa, enquanto outras 32 pessoas ficaram feridas.
Segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR), viajavam neste comboio centenas de pessoas que saíam da zona de Marjayoun, no sul do Líbano, por causa de reiterados ataques israelenses. O grupo estava sendo acompanhado anteriormente por efetivos da Força Provisória das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL). Como de costume, autoridades israelenses manifestaram que o comboio havia sido atacado "por engano", porque pensavam que nele havia "combatentes do Hezbollah que transportavam armas".
Aviso de bombas veio três dias após ataques
No dia 10 de agosto, informou a Anistia, aviões israelenses atiraram folhetos no centro de Beirute advertindo os habitantes dos bairros de Hay Sallum, Bourj al-Barajneh e Shyah a abandonarem estas zonas porque poderiam ser atacadas pelas forças israelenses. Um dos bairros mencionados nos folhetos, Shyah, havia sido bombardeado três dias antes, em 7 de agosto, causando a morte de mais de 50 civis.
Uma delegação enviada pela Anistia Internacional ao Líbano visitou a região no dia seguinte ao bombardeio e encontrou um cenário de devastação absoluta, no qual ainda continuavam retirando cadáveres de mulheres, meninos e meninas de sob os escombros. Os trabalhos de recuperação prolongaram-se durante três dias.
"As forças israelenses não haviam avisado previamente os habitantes sobre os ataques aéreos iminentes. Pelo contrário, o lugar era considerado mais seguro que outros distritos da capital, e nele haviam se refugiado pessoas de outras partes do país que tiveram que fugir de seus lares", declarou a entidade.
Terror de Estado desabriga milhares e mata centenas de civis
À medida que as forças israelenses atacavam novas regiões, o número de pessoas deslocadas foi crescendo. Um mês depois do início do conflito, cerca de um milhão de pessoas - um quarto da população do Líbano - foram obrigadas a abandonar seus lares. Segundo o informe, muitas já estão voltando às suas casas desde que entrou em vigor o cessar fogo. No entanto, centenas de milhares não têm para onde regressar, pois o que resta de seus lares é um monte de escombros.
As investigações feitas pela Anistia Internacional indicam que as forças israelenses mataram centenas de civis em ataques de destruição em massa contra zonas residenciais. Outros morreram em ataques contra veículos quando os habitantes das localidades do sul do Líbano abandonavam seus lares seguindo as indicações do exército israelense. As armas de destruição em massa e os crimes de guerra foram os principais motivos oficiais para os Estados Unidos invadirem o Iraque e derrubarem com um alto custo humano o ditador Saddam Hussein. O cenário é parecido, mas os crimes mudaram de mãos.
De outro lado, cerca de 40 civis israelenses morreram em ataques do Hezbollah contra localidades como Haifa, Kiryat Shmona, Nahariya, Safed, Ma'alot e Acre. O Hezbollah lançou aproximadamente 4.000 foguetes contra o norte de Israel, muitos deles contra zonas povoadas por civis, acredita a Anistia. Uma delegação da entidade que visitou a região para investigar os ataques encontrou indícios de que alguns dos foguetes continham milhares de bolas metálicas. Este tipo de recurso aumenta a capacidade de causar vítimas, já que, ao espalharem-se, podem matar ou ferir gravemente até mesmo pessoas que não estão no local diretamente alcançado pelo foguete.
Entidade recomenda ações emergenciais
Assim como já havia feito durante a reunião de ministros exteriores de Roma, dia 26 de julho, a Anistia exigiu que fossem tomadas ações emergenciais para impedir a perda de mais vidas (leia aqui informe anterior). Além de solicitar ao Conselho de Segurança da ONU que estabeleça imediatamente uma comissão para realizar uma investigação exaustiva, independente e imparcial sobre as violações do direito internacional humanitário, cometidas por ambas partes no conflito - incluindo as que possam constituir crimes de guerra -, reivindicou que a comissão seja formada por peritos que recebam toda a ajuda e os meios necessários.
Ainda segundo a entidade, os resultados da investigação devem se tornar públicos e incluir recomendações para pôr fim a tais violações, bem como preveni-las. A Anistia fez referência explícita à "necessidade de estabelecer mecanismos de prestação de contas pelas infrações cometidas por ambas partes no conflito", fazendo menção clara aos crimes de guerra. A entidade conclui o apelo "instando a que toda pessoa contra a qual existam provas de crimes de guerra seja submetida a julgamento de acordo com as normas internacionais sobre julgamentos justos".
A cópia do documento, bem como os endereços sugeridos para envio - Embaixada do Estado de Israel, Embaixada do Líbano e Ministério das Relações Exteriores do Brasil - podem ser obtidos pelo e-mail [email protected] ou pela página da entidade, em www.br.amnesty.org.
ONU abre conta para Brasil ajudar libaneses
O Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) iniciou este mês um esforço global para arrecadar cerca de 19 milhões de dólares. O objetivo é financiar, nos próximos três meses, as ações emergenciais de assistência humanitária às vítimas do conflito no Oriente Médio. Esses recursos são suficientes para atender uma população de aproximadamente 150 mil pessoas, distribuídas entre o Líbano e a Síria, informou o Centro de Informações da ONU no Rio de Janeiro (UNIC Rio).
Os brasileiros interessados em realizar doações financeiras para a campanha do ACNUR podem depositar qualquer quantia no Banco Sudameris, agência 1515, conta corrente 9003061-9. O recibo dado às doações comprovadas pode ser incluído como despesa na declaração de Imposto de Renda dos doadores. Informações adicionais na página da ACNUR, em www.unhcr.org.
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