Não Empreste Livros
Conheço gente que trabalha de sol a sol, deixa de comer carne; que 'manéra' nas cervejas por alguns dias úteis, só para comprar AQUELE livro que deseja ardentemente ler, do qual ouviu falar sábias palavras "Nenhum de nós sairá da ilha"
Agatha Christie - O Caso
dos Dez Negrinhos
Conheço gente que trabalha de sol a sol, deixa de comer carne; que 'manéra' nas cervejas por alguns dias úteis, só para comprar AQUELE livro que deseja ardentemente ler, do qual ouviu falar sábias palavras; ou que a banda legal da crítica especializada elogiou muito bem, quando não é sazonal lançamento midiático de praxe ou mero best-seller de tapuia. Esse ser humano valoriza realmente cultura, e, principalmente cultura literária e sabe bem o que é isso, o quanto vale isso, o quanto isso pode e faz cabeças e sentenças. E sabe saber. Um "fanático por livros de boa qualidade", na maioria das vezes compra-o como deleite, e o tendo como todo seu com prazer e estima, claro, de sua rica propriedade e acervo, em seu lastro de primeiríssima grandeza, orgulhando-se sobremaneira dessa muito bem paga aquisição de peso, de quilate. Em compensação...Conheço gentalha que quer parecer o que não é, faz panca de leitor topetudo, mas é mixuruca mesmo, feito jeca total repete à exaustão frases feitas e bonitas - quando não bregas de cultura de almanaque - que decora, surrupiando direitos autorais de outrem, nunca comprou com o suor de seu trabalho um bom livro sequer, só recebeu ocasionais piedosas (no mal sentido da palavra) doações(...) de lixo; vive só emprestando, acha que tem uma boa biblioteca mas, na verdade, tem um depósito de rejeitos. Ninguém dá livro relativamente bom pra gente assim.Pior: tem gente que se ufana do carro zero, do relógio importado, da casa na praia, de diploma disso e daquilo, tem pose, tem panca, mas só eventualmente tem ocasional valor pela verdadeira leitura de boa qualidade (e pela cultura propriamente dita) e, ainda assim, só se circunstancialmente um desavisado en passant lhe emprestar um livro de peso. Falso leitor. Xarope. Mero ledor. Quer parecer o que não é. Inverte valores reais.
Conheço gente fina que tem mais livros do que móveis em casa. Tem conteúdo. Os livros são a instrumentalização de seu profundo saber de conteúdo, qualidade e profundidade. Clássicos. Paradoxalmente, conheço quem empresta e, esqueça! Não devolve nunca, pensa que a obra é pertencimento dele, passa para terceiros e o livro roda, o livro acaba num lugar qualquer, paradeiro desconhecido. Também conheço quem rouba livros, surrupia assim na cara dura, cara de pau, principalmente obras qualificadas, só para dizer que tem (nunca lê, e se for ler não entenderia), não tem base para tanto, não tem suporte de qualificação, e se lhe negam um eventual empréstimo concorrido de livro importante ou da moda, de ocasião livresca, esbraveja, agride, destrata. Mas gentinha assim, topetuda com status e tudo, nunca disponibilizou um por cento do que ganha mensalmente para investir generosamente em livraços de valor, sequer leu os mil melhores livros de todos os tempos, muito menos os cem melhores clássicos da história universal da humanidade, nem sequer sapeou os dez melhores livros da tradição histórico-cultural brasileira. Dá pena.
NÃO EMEPRESTE SEU LIVRO. Faça a pessoinha mais interesseira do que interessada e de gordo olho invejoso no seu, comprar ela mesma, ela também, um livro. Quem só empresta não vale o que come. Não vale o que diz. Conta prosa e olha lá. Quem pode, valora a arte, compra, quem não pode que se acuda com uma biblioteca pública, freqüente sebos popularescos, se socorra assim para o desfrute pretendido, não fique emprestando sem nunca comprar, sem nunca ter um de seu. Você pode emprestar, é claro, falando sério, para aquele seu melhor amigo do peito, fiel, ético, legal, jóia rara, ou irmão querido que de vez em quando gasta uma boa nota comprando do bom e do melhor também, até porque, ele pode trocar com você, qualidade por qualidade, ou emprestar por conta do crédito que tem, se você em tempos de vacas magras estiver de caixa baixa. Mas quem só empresta não presta. Já pensou? Não se preste a isso. Cada um tem o que merece? Conheço gente pomposa e metida a cult, que bobamente repete, que nem papagaio de pirata, estúpidas frases feitas, prontinhas mas bobinhas, vazias espiritualmente, cultural e filosoficamente falando, daí você vai ver e o vigarista tem na ponta da boca uma coleção de provérbios chinfrins tirados de rastaquaras livrecos na verdade surrupiados, emprestados e nunca devolvidos, sempre pedidos com jeitinho porque ele é bom de papo furado e ruim de estima, ganha de favor, de quem não entende nada de nada, e acaba assim, pobre coitado, orgulhoso daqueles rejeitos normalmente ultrapassados, vencidos, de falsa auto-ajuda, de filosofia dos tempos da onça, que chega até a ser vulgar de tão medíocre ou arcaica, ou de pseudo-espiritualidade, porque, afinal, o melhor do esoterismo é a ajuda-mútua, o melhor do espírito é a prática de um humanismo de resultados. Quem lê mais vale mais, claro, Vale enormemente mais quem lê poesia, e, vale ainda muito mais, no entanto, quem com o suor de seu rosto paga regiamente pelo que lê, valorizando assim a obra, o autor, o livro. Quem só lê livro emprestado, desvalora o autor, a obra, a idéia, o tema, a história pensada e sabida, assim como quem xerocopia. Esse é o que podemos classificar de leitorzinho chulé. Lê porque não sabe agir, enfrentar, conquistar, percorrer decantações, vencendo-as. Só empreste livro para quem, por si mesmo já tem bastantes livros. Quem ama, compra. Quem compra sabe o valor que tem, adquire os clássicos, os importantes de fato e não se troca e nem se vende por uma idéia narrativa de livro. Não confunde as coisas. Não há verdades perfeitas e acabadas. Vidas são livros abertos. Não empreste livros para quem é louco e ao lê-los rasamente julga-se dono da verdade. Se é verdade não tem dono. Tal tipo só se escora numa cultura de almanaque, em filosofia de ocasião, porque tipinho assim só empresta por má formação, não investiu dignamente em seu trabalho árduo dia após dia, de sol a sol; seu suor sagrado, seu sangue empreendedor, na mais valia que é comprar um livro para assim tirar formação essencial e a posse de seu melhor tesouro. Quem sempre só empresta, não presta. Viver emprestando livros para quem deve e não paga, não tem nada a ver; não tem nada nunca porque foi falso fácil, não criou coragem limpa e digna para peitar situações e crescer vencendo-as, porque foi dissimulado, ou só conseguiu sobreviver às custas dos outros, não vai nutrir zelo íntimo real, e emprestar alguma coisa pra ele só serve para nutrir ego doentio de quem nunca por si mesmo se deu valor. Filie-se a uma biblioteca, com carteirinha de foto e tudo. Cobre que ela melhore o acervo, a partir de políticas públicas nesse sentido. Como você tem uma conta no bar, no analista, no açougue, no bazar ou brechó; como você cotiza grana pro dízimo, pra roupa, pra viagem de férias, ora, cara pálida, disponibilize uma cota xis para poder comprar os livros que precisa ter, que quer. Salário é sal. Se você não mereceu um, vai ter que ficar pedindo favores mesmo, depender dos outros. E pedir humilha o pedidor que tem vergonha, torna-o escravo da própria inapetência. Emprestar sem nunca comprar; sem nunca dar retorno, é sinal de fuga, válvula de escape, de doença mental, desvio de personalidade. Qual é a sua? Eu sou possessivamente dono dos meus livros. Alguns, até, furtaram e eu sempre, comprei de novo outra vez. Outros, falsos amigos íntimos (falsos amigos são ladrões volúveis de nosso preciosismo tempo de existir) emprestaram e nem tiveram o trabalho ético da devolução. Maldizendo, rogando praga tive que comprar outro, recomposição de acervo básico, sabe como é, essencial. A magnífica posse de um livro comprado por você mesmo não tem preço que estime. É uma coisa meio que divinizada. O livro emprestado não dignifica o seu portador em trânsito, muito menos a leitura, sequer permite releitura, anotações, cismas, alumbramentos, ponderações pertinentes, conferências de técnicas, tópicos frasais, estilos, principio, meio e fim, essas coisas, não necessariamente nesta ordem. Livro ótimo, adorável, aleluia, é para ser rasurado, relido, bebido-comido, gasto enormemente de tantas prazerosas releituras de manejos e marcas, como muito bem se gosta, o que se adora, deleita, desfruta, tipo como usar bem e realmente com bom proveito. Livro assim é um santo remédio pra vadiação, hobby, viagem, devaneio, o si for de si, dentro do livro, alma aberta, vela solta, gavetas neurais se desenferrujando, espírito crusoé em uma ilha à mão, capa e espada, brochura, orelha e final feliz. Sacou o alumbramento que é estar com um mundo nas mãos, um bom livro? Terra à vista. Vida à vista. Obra nua. Não se empresta o que presta.
NÃO EMPRESTE LIVROS.
Diga ao curioso ou invejoso pedidor bobo: -Quer ler? Vá comprar!Compre o seu. Querer saber de ótimos livros e só emprestar sempre, é posse pífia, é coisa de janota e boçal vazio de propósito. Escutou barbaridades sobre a obra russa? Poupe para comprá-la, lê-la, tê-la. Pratique essa idéia. A posse de adquirir uma obra de vulto, de um trabalho cultural gigante, vale o momento rico, precioso. Emprestar é incentivar gratuidades ignorantes de quem quer aparecer sem ser. Ler é ver muito bem isso. Emprestar é estimular zé-mané a habituar-se a ser servido sem ter feito por merecer. Não caia nessa.
Só empreste seus ótimos livros, na base de troca. Casco por casco. Pau a pau. Só empreste seus ótimos livros para quem também só tem ótimos livros, não cacarecos. Assim realmente vale a pena. Quem ama ler, estudar, aprender sempre, saber mesmo, paga o justo preço da sapiência evolutiva, sabe que livro não é curso e nem faculdade, mas sustentáculo de. Sabe o justo valor de quem pesquisou, passou noites compondo personagens e tragédias e rapsódias e romances; estudou, sentiu, pensou, viu a cena antes, fílmica, cresceu, passou a vida lutando arduamente por uma idéia, um projeto, vencendo os percalços, dentro do caminho de uma edificação-livro, com renúncias, fugas, reajustamentos. Só por Deus. Ler de graça é não se dar valor. Tudo tem seu preço. Pague a pena. Pague pra ver. Pague pra ler. Querem emprestar? Ora, retruque, se enxergue, vá comprar.
Aliás, quando é que você vai cobrar o livro que nunca devolveram, e, vai ver, nunca leram? Tá esperando o quê? Cem Anos de Solidão?
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Silas Corrêa Leite - Estância Boêmia de Itararé-SP
E-mail: [email protected]
Site: www.itarare.com.br/silas.htm
SILAS CORRÊA LEITE, Ciber Poeta - Resumo 2016
Silas Corrêa Leite, Educador (Prefeitura, Estado, Particular), Jornalista Comunitário e conselheiro diplomado em Direitos Humanos, ciber poeta e livre pensador humanista, começou a escrever aos 16 anos no jornal "O Guarani" de Itararé-SP. Fez Direito e Geografia, é Especialista em Educação (Mackenzie), com extensão universitária em Literatura na Comunicação (ECA), entres outros cursos. Autor entre outros de "Porta-Lapsos", Poemas, Editora All-Print (SP); "Campo de Trigo Com Corvos", Contos premiados, Editora Design (SC), obra finalista do prêmio Telecom, Portugal 2007; "O Homem Que Virou Cerveja", Crônicas Hilárias de um Poeta Boêmio, livro ganhador do Prêmio Valdeck Almeida de Jesus, Salvador Bahia, 2009, Primus Editorial, SP; GOTO, A Lenda do reino do Barqueiro Noturno do Rio Itararé, Editora Clube de Autores, Romance, 2014, O Menino Que Queria Ser Super-herói, Romance Infantojuvenil, Amazon, entre outros. Seu e-book de sucesso "O Rinoceronte de Clarice", onze ficções, cada uma com três finais, um feliz, um de tragédia e um terceiro final politicamente incorreto, por ser pioneiro, foi destaque na mídia como O Estadão, Jornal da Tarde, Folha de SP, Diário Popular, Revista Época, Revista Ao Mestre Com Carinho, Revista Kalunga, Revista da Web, Minha Revista (RJ). e também na rede televisiva, Programa "Metrópolis"/TV Cultura; Rede Band/Programa "Momento Cultural"; Rede 21-Programa "Na Berlinda", Programa "Provocações", TV Cultura/Antonio Abujamra. Por ser única no gênero e o primeiro livro interativo da Rede Mundial de Computadores, foi recomendada como leitura obrigatória na matéria "Linguagem Virtual" no Mestrado de "Ciência da Linguagem" da Universidade do Sul de SC. Foi tese de Doutorado na Universidade Federal de Alagoas ("Hipertextualidade, O Livro Depois do Livro"). Texto acadêmico no link: http://bdtd.ufal.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=197. Premiado nos Concursos Paulo Leminski de Contos, Ignácio Loyola Brandão de Contos; Lygia Fagundes Telles Para Professor Escritor, Prêmio Biblioteca Mário de Andrade (Poesia Sobre SP/Gestão Marilena Chauí)), Prêmio Literal (Fundação Petrobrás/Curadoria Heloisa Buarque de Hollanda), Prêmio Instituto Piaget (Lisboa, Portugal/Cancioneiro Infanto-Juvenil; Prêmio Elos Clube/Comunidade Lusíada Internacional; Vencedor do Primeiro Salão Nacional de Causos de Pescadores (USP/Parceiros do Tietê), Prêmio Simetria Ficções e Fantástico, Portugal (Microconto).
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