Fora do Eixo e Mídia Ninja

Pau que bate em Chico também bate em Francisco - Importante leitura para as mídias ambientais que sempre estão de pires na mãos, este debate que se desenrola sobre a forma de financiamento do Mídia Ninja, projeto de comunicação do Coletivo Fora do Eixo.

Por Amyra El Khalili

Importante leitura para as mídias ambientais que sempre estão de pires na mãos, este debate que se desenrola sobre a forma de financiamento do Mídia Ninja, projeto de comunicação do Coletivo Fora do Eixo.

Confesso que tive dificuldade de entender a engenharia financeira do Mídia Ninja, ainda que em partes eu concorde com algumas estratégias. Mas disse, "em partes". Como sei que matematicamente dois mais dois são quatro e que a única lei imutável do universo é que tudo muda, a conta por eles apresentada no programa Roda Viva (TV Cultura) , na minha cabeça financeira, não fechava!

Seja como for, o debate está apenas começando. ...

Moeda Alternativa - Cubo Cards

O Banco Palmas foi injustamente processado pelo Banco Central por criar uma moeda paralela no nordeste, o Palmas. O processo movido pelo Bacen foi julgado improcedente. Sistemas de trocas não são novidades em comunidades que necessitam de circulação monetária como alternativa ao capital especulativo produzido pelo  sistema financeiro, como limites em contas, cartões de créditos, empréstimos e garantias. Acontece que, para uma moeda alternativa ser sucesso, a caminhada é longa. Assim como para "desmonetarizar" o convencional deve-se construir uma cadeia de fornecedores, produtores e parceiros integrada. A  "descomoditização" também requer um trabalho de consciência e engajamento de todas cadeias produtivas, sobretudo um rigoroso controle financeiro e de prestação de contas, além de relações transparentes entre pares.

A integridade dos gestores do Banco Palmas os inocentou de coisa bem pior. Eles são profissionais e estavam preparados para gerir e gerar a moeda Palmas.

No entanto, para implantar uma moeda social, um novo modelo econômico que se propõe a desmonetarização é necessário também um longo processo de construção participativa.  Ninguém conseguiu, que eu saiba,  em tão pouco tempo quebrar paradigmas mecanicistas para substituí-los pelos sistemas coletivistas.

Quantos anos o Banco Palmas levou para criar a moeda Palmas? Qual foi o trabalho de educação financeira desenvolvido para a implantação da moeda Palmas? Como foi a relação entre produtores e fornecedores para que ambas as pontas tivessem aceitação da moeda Palmas? (1)

Ao ler as explicações de Pablo Capilé sobre os fluxos financeiros, imagino que ele realmente acredite no que prega, porém o que está no foco da discussão é o uso do recurso público, as relações e acordos entre pares e, como não poderia deixar de ser, como se dá as relações de uso-produção versus trabalho-remuneração.

Não dá para dispensar o caretinha do contador ou o chato do economista financeiro quando se vive num mundo onde o que o mantém é a economia de mercado, que é , seja no capitalismo ou no socialismo, a economia que vivemos.  O que não significa, no entanto, que não possamos trabalhar-lutar para construir a economia que queremos. Porém, insisto, é necessário passar pelo processo de transição. Há uma etapa anterior a ser cumprida. Queimar etapas do aprendizado significa correr riscos muito maiores do que podemos suportar e estarmos também dispostos a arcar com as suas consequências.

Almoço Grátis

E por falar em "DINHEIRO", não existe almoço grátis!

Falar de moeda alternativa, economia solidária, defender novos modelos econômicos exige dos interlocutores muito mais do que transparência nas relações comerciais. Ops! Tremendo palavrão "comercial" que escrevi. ...Não pode escrever-falar "comercial", mercados, negócios, commodities, comércio, bolsas, pois essas palavras demonizadas são proibidas pelo politicamente correto e ideologicamente engajado. Então devemos substituí-las por outras que não tenham a conotação de que, na verdade, estamos todos falando, cada qual com seus códigos, de dinheiro. Você pode recusá-lo ou não. Seja com trabalho voluntário ou o justo direito de recebê-lo pelo seu nobre e valoroso trabalho-produto. Eu chamo mesmo de commodity convencional, commodity ambiental , e no caso da cultura e bens intangíveis, commodity espacial. Cada qual no seu modelo econômico, evidentemente. (2)

Aliás, seria muito bom que os mídias ambientalistas retomassem a discussão sobre o financiamento das mídias ambientais sem o "pai-trocínio" da Petrobrás, da indizível empresa Mor do setor de biotecnologia e dos cowboys mercadistas do carbono. Se é que agora, com tantos multifacetários meios de comunicação sócioeconômicos, podemos chamar de nicho jornalístico  as "mídias ambientais".

Se bem conheço o que significa falar de 'DINHEIRO', podem substituir as palavras por quaisquer outras que mais cedo ou mais tarde o vil metal aparecerá.

Dinheiro, falem bem ou falem mal, mas falem de DELE!

Nota:

(1)   (http://www.bancopalmas.org.br/)

(2)   Pós RIO+20 - Reflexões conceituais sobre a "comoditização" dos bens comuns. Por Amyra El Khalili - http://port.pravda.ru/cplp/brasil/12-12-2012/34094-reflexoes_rio-0/

 

Amyra El Khalili* é economista, autora do e-book "Commodities Ambientais em Missão de Paz: Novo Modelo Econômico para a América Latina e o Caribe". São Paulo: Nova Consciência, 2009. 271 p. Acesse gratuitamente www.amyra.lachatre.org.br

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http://www.cartacapital.com.br/sociedade/fora-do-eixo-6321.html

 

 

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