O fantasma de George Bush que persegue Barack Obama

O fantasma de George Bush que persegue Barack Obama

Dalia González Delgado/Granma

GUANTÁNAMO ainda não deixa dormir Barack Obama. Após mais de dez anos da abertura do cárcere - no território ilegalmente ocupado a Cuba - o tema estava esquecido por muitos, até que a greve de fome protagonizada por uma centena de reclusos voltou a colocá-lo na palestra pública.

Trata-se "da perigosa expansão do poder executivo e as detenções ilegais, as prisões secretas e a tortura", sublinha, num editorial, o The New York Times.

Obama, como para lembrar que não esqueceu uma das promessas que o levou ao poder, disse recentemente que "continua considerando" necessário o fechamento do cárcere.

 

"Guantánamo é caro e ineficaz", argumentou. "A ideia de que vamos manter indefinidamente presos indivíduos que não têm sido julgados, é contrária ao que somos como país".

 

Mas nem todos coincidem com o presidente. Um jornalista do The Washington Post, Benjamin Wittes, declarou que "inclusive, se graças a um milagre, o cárcere fechasse, teríamos que construí-lo noutro lugar".

"A prisão não está servindo aos interesses de segurança nacional", comentou, por sua vez, o vice-presidente do Center for American Progress (CAP), Ken Gude, um centro de pesquisas em Washington.

Mas suas razões, tais como as de Obama, são mais pragmáticas do que humanitárias. "Não há razão para que estejam lá, há alternativas melhores que Guantánamo", declarou o acadêmico à BBC Mundo. "É inevitável que nalgum momento vai fechar. Daqui a 25 anos não estaremos debatendo isto", concluiu.

O certo é que, até o momento, não se estão dando passos na direção de Obama. De fato, o professor da Universidade da Califórnia, Raul Hinojosa, opina que a greve de fome traz à baila que os EUA não têm controle sobre a situação e não sabem o que vai acontecer com seus prisioneiros. A administração "não tem uma solução neste momento", explicou Hinojosa à Russia Today.

Segundo o general John Kelly, chefe do comando sul do exército dos EUA, os presos tinham a esperança de que Barack Obama fechasse o lugar. "Estavam devastados quando perceberam que o presidente dava marcha a ré", afirmou o funcionário.

O cárcere abriu depois dos acontecimentos de 11 de setembro de 2001, para encerrar ali os suspeitos de terrorismo, embora não houvesse provas em sua contra. As detenções indefinidas e os depoimentos de ex-reclusos têm feito com que a prisão ganhe merecida fama de campo de concentração. Lá se aplicam modalidades de tortura, como o isolamento em celas com temperaturas extremas, ou o waterboarding (afogamento simulado).

 

Guantánamo é um dos legados mais escuros de George W. Bush, o qual recentemente, sem remorsos, afirmou que se sentia "muito bem" com as "decisões difíceis" que tinha tomado "para proteger a América".

O limbo legal em que vivem aproximadamente 166 prisioneiros - chegaram a ser mais de 700 - gerou críticas da comunidade internacional, tanto de países como de organizações defensoras dos direitos humanos.

A senadora democrata Dinane Feinstein, presidenta do Comitê de Inteligência do Senado, solicitou ao executivo reiniciar o processo de transferência e libertação de 86 presos que há mais de três anos têm permissão para voltar aos seus países.

Embora, talvez Obama não tenha capital político para fechar o cárcere, poderia, pelo menos, para exorcizar fantasmas, exercer pressão e iniciar esses processos de transferências para os que estão detidos ali, há mais de dez anos.

 

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