Ponta Delgada, 14 de Fevereiro de 2010
O controlo da Comunicação Social sempre foi uma tentação para quem está na governança de um Estado. Esse pecado todos o cometem, se não em actos, pelo menos em pensamento, de modo que não há quem possa atirar a primeira pedra Ninguém gosta de ser criticado, menos ainda, sob a forma de denúncia, sobretudo quando se tem o rabo preso Como parece ser o caso do actual Governo.
No tempo do Tio António, a coisa era simples, como simples era tudo As notícias que não convinham ao regime, eram simplesmente riscadas com lápis azul e pronto Todos percebiam logo que algo havia sido censurado Não sabíamos talvez, pelo menos de imediato, se o plumitivo responsável por tal atrevimento havia sido também abafado em algum calaboiço lá para os lados de Peniche ou de Caxias Hoje a coisa é mais subtil. Faz-se uns telefonemas para uns amiguinhos a combinar a compra deste ou daquele meio de comunicação social e pronto Depois, corre-se com os infaustos jornalistas que tiveram a coragem de falar mal do Governo. Tudo muito civilizado e moderno Trata-se pois de um negócio sob o patrocínio do Estado Salazar teria aprendido muito nesta matéria se alguns dos políticos actuais com ele tivessem convivido. Talvez tivesse permitido dispensar uma polícia política truculenta e semi-analfabeta, como era a PIDE, que chegava a censurar e a reprimir simples actos de manifestação popular, evitando assim muitos constrangimentos políticos à sua Ditadura
A actual turbulência mediática, e não só, espevitada pelo Semanário Sol, à volta das escutas telefónicas, que envolvem figuras gradas da nomenclatura socialista, nomeadamente o nosso premier José Sócrates, não é novidade. A novidade talvez esteja na sua oportunidade e, nesse caso, explica o alarido.
Vejamos. No momento em que Portugal se encontra mal situado no ranking financeiro internacional, em que os investidores e credores estrangeiros fogem do nosso mercado, como o diabo da cruz, José Sócrates tem razões para gritar Tirem-me por favor deste filme!!! Todavia não se demite sem dividendos políticos, ou seja, repetir a dose do seu camarada António Guterres ou do colega Durão Barroso. Se calhar ainda ninguém lhe prometeu um cargo extra-nacional, no Areópago Internacional, habitualmente reservado aos boys que cumprem exemplarmente os desígnios da Globalização, como tem sido o seu caso. Por outro lado, a confirmarem-se as denúncias, o cargo de Primeiro-ministro dá-lhe alguma imunidade e permite-lhe gerir as suspeições a seu respeito de forma sobranceira. Por sua vez, a oposição, de uma maneira geral, está mais preocupada com o seu umbigo do que encontrar uma solução viável para a saída da crise, embora fale muito do desemprego, dos reformados, dos velhinhos, das criancinhas, etc, etc. Quer dizer, espreita uma oportunidade de entrar no repasto do Poder para continuar a saga da partilha do Estado e dos seus recursos, que são de todos nós, por uma clientela partidária que vive viciosamente à mesa do Rei e por amiguinhos ricalhaços, que lhes abonam as campanhas para terem mais tarde chorudas licitações ao abrigo dos riscos da concorrência. Então das duas uma, ou Portugal não está de facto mal, ou o Mundo está louco
De facto não se discute um verdadeiro projecto de Salvação Nacional, assente nos nossos recursos e capacidades, que mereça a confiança dos portugueses e que justifique mais sacrifícios a quem sempre tem apertado o cinto, o povo. Pelo contrário. Discutem-se medidas paliativas, mistificadoras das reais necessidades do País, inscritas num Orçamento Geral do Estado que mitiga verbas a quem mais precisa, enquanto prodigaliza os grandes interesses financeiros e económicos de um sistema podre, corrupto e corruptor, obra de uma governança que entregou em muitos casos o ouro ao bandido
Veja-se a questão da ZEE, a mais recente, que por força do Tratado de Lisboa, o tal do Porreiro, pá, colocou uma incalculável riqueza piscatória, e não só, sob a gestão dos tecnocratas de Bruxelas que estão ao serviço dos interesses das grandes potências europeias. Ou têm dúvidas? Mais, presta-se a autorizar treinos de poderosas aeronaves da USAF, no espaço aéreo dos Açores, sem qualquer contrapartida para a Região, como aliás já praticamente acontece com a Base das Lajes, cujo pagamento está reduzido a umas quantas Bolsas de Estudo, entregues a uns poucos privilegiados escolhidos a dedo Entretanto, os escândalos de corrupção surgem como cogumelos e a elite portuguesa, salvo raras excepções, vive como se em Portugal não existisse graves problemas sociais, com quase 700 mil desempregados e mais de 2 milhões de pobres. Nesta salganhada toda, poucos são os que ajuízam a nossa situação com objectividade e apontem verdadeiras soluções. Mesmo alguns destes, sugerem alternativas que são, a mais das vezes, mais do mesmo
Estamos nesta matéria como os trogloditas da Caverna de Platão. Confundimos as nossas sombras, que se projectam lugubremente nas paredes, com a realidade e só sabemos dar urros Vivemos um modelo de desenvolvimento que se esgotou, como se esgotou o nosso sistema politico partidário. Quiçá a própria República que agora comemora um Século. Se têm ainda dúvidas, perguntem ao Zé, sobretudo aquele que não tem trabalho e logo não tem futuro. Os mentores deste mito platónico têm sede no exterior porém contam com muitos cúmplices internos bem posicionados na hierarquia do Poder, quanto a nós os mais responsáveis, que, face ao afundamento do nosso Titanic, são os primeiros a correr para as poucas balsas disponíveis
A governança da nossa elite esgotou a Economia Nacional. Entrou festivamente na desconstrução do nosso aparelho produtivo em nome da modernidade, um chavão que é cada vez mais sinónimo de mediocridade, da abertura irrestrita dos mercados, etc. Veio a Crise Financeira Internacional, que para nós foi mais que intencional (Os resultados o confirmam ), e erodiu o que restava dela. Foram-se os anéis e os dedos estão no ir O Estado Português, sempre obediente aos ditames externos, foi em socorro do sistema bancário. Fê-lo em nome de uma suposta perda de confiança. Será? Claro que tudo isso teve como resultado imediato um acréscimo da divida externa, já de si crescente devido ao arbítrio das taxas de juro. Uma dívida que resulta primariamente de gastos administrativos e outros Alguns, para compensar a falta de moeda em circulação, provocada pelo défice da nossa Balança Comercial.
Não esquecer que de tudo que comemos, bebemos, vestimos e calçamos, 80% vem de fora, num país que já foi auto-suficiente em bens alimentares. Haja pois dinheiro para encher a pança Daí astronómica dívida externa de crescimento à velocidade da luz Agora agravada pelos palpites de uns quantos senhores que vivem lá para os lados Wall Street, que se enganaram na previsão da Crise, mas que não se enganam a respeito dos que devem aos seus patrões Ninguém nos tira a ideia, de que isto não tenha a mãozinha invisível de Adam Smith que sorrateiramente vai enxugando a Economia Soberana dos países, com a cumplicidade pateta das elites nacionais. Abre os olhos Zé e bate o pé!!!
Artur Rosa Teixeira
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