O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, com a popularidade em queda acelerada, implantou, ano retrasado a inspeção veicular ambiental, realizada exclusivamente por uma firma.
O sistema não poderia ser mais incômodo nem antieconômico, haja vista a necessidade de se levar o veículo, anualmente, a alguns postos onde se fazem as análises de combustão em veículos com mais de um ano de uso.
Essa verificação poderia muito bem ser feita em concessionárias de veículos autorizadas - segundo uma fonte, cada equipamento desses custava, há um ano, cerca de R$ 14.000 (+/- US$ 7,000). A taxa de inspeção, reajustada em míseros 7%, é de R$ 56,44 , e não será mais reembolsada aos proprietários.
Uma experiência, documentalmente comprovada, com a inspeção veicular imposta pela prefeitura de São Paulo, sugere que os resultados de um mesmo veículo podem variar numa amplitude inaceitável.
Em 13/1/2010, a primeira inspeção veicular de uma moto Honda CBX 250 ano 2003, com 6.500 km rodados, feita no posto da Controlar centro 503, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, resultou na reprovação do veículo, com os valores medidos: COc 9,23% - Fator dil. 0,98 e HCc 1150 ppm/vol, conforme um certificado emitido.
Antes da inspeção, a moto foi levada à Comstar Veículos, onde foram feitas a limpeza do carburador, troca de óleo e de filtro. Os mecânicos drenaram a gasolina do tanque e aconselharam o reabastecimento com gasolina Petrobrás Podium, mais cara e supostamente melhor. No cupom fiscal do posto constou gasolina comum, mas a quantidade de litros e o valor pagos correspondem à Podium.
Reprogramada a reinspeção para o dia 22/1, meros nove dias depois, sem nenhuma alteração na moto, o mesmo posto da Controlar aprovou-a com inacreditáveis 0,84% COc - fator dil 0,98, e HCc 511 ppm vol., emitindo o certificado de aprovação nº 5030903493628.Qual é a justificativa técnica da Controlar para, num passe de mágica, um veículo testado por ela passar de vilão poluidor a ecologicamente correto?
Injustificável uma diferença tão gritante, em apenas nove dias, no mesmo posto de inspeção, e com a mesma gasolina Podium, que, aliás, tem 30 partes por milhão de enxofre, quando as demais gasolinas têm 1.000 ppm de enxofre. Na Europa o limite para todas as gasolinas é de 50 ppm de enxofre.
A Petrobrás teve de 2002 até 2009 para se preparar a fim de produzir gasolina e diesel decentes e não o fez; evidentemente, porque não quis, já que capacidade técnica e capital não lhe são escassos.
Ontem, 22 de janeiro, na cidade de Cleveland Heights, Ohio, EUA, um posto anunciava a gasolina sem chumbo por US$ 2,66 o galão (3,785 litros). Isso dá US$ 0,70 por litro, ou cerca de R$ 1,26. Acabara de ocorrer outra das várias reduções de preço na mesma semana.
Evidentemente, se a Petrobrás praticasse preços diários, como faz com o álcool (perdão, agora o nome é etanol...) os usineiros quebrariam.
Mas, pelo preço que cobra, poderia, no mínimo, já estar produzindo gasolina e diesel decentes, limpos, como se faz lá fora por menos da metade do preço.
Cedo ou tarde, a inspeção veicular será estendida a todas as cidades brasileiras, com a exigência de um selo a ser colado no para-brisa, cuja remoção ou perda sujeitarão o proprietário a multa. Já tivemos selos veiculares em outros tempos; ei-los de volta, agora uma redundância, já que a falta de inspeção impede o licenciamento anual do veículo.
Seria pedir demais que os resultados sejam confiáveis?
Luiz Leitão
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