Regada a farta distribuição de cargos, não foi surpresa a eleição de José Sarney para presidente do Senado, mas a confirmação do fato ainda choca os que desejam ver o País livre das velhas raposas de sempre.
Quem lê a crônica política sabe que o grão mestre da política de resultados, a realpolitik, foi apoiado pela gente do Partido dos Democratas, o velho PFL de roupa nova. Embora a intenção da troca de identidade fosse a mudança, ainda que não muito radical, o novo hábito não desfez o velho monge.
E José Ribamar Sarney não obteve o apoio dos tucanos porque achou que não valia o preço pedido - em cargos na mesa diretora do Senado. Esnobados, os bravos homens do PSDB se bandearam para o lado do concorrente ora derrotado, o petista Tião Viana.
O novo presidente do Senado e do Congresso Nacional traz a tiracolo o senador Renan Calheiros, que ocupara este mesmo cargo do qual teve de renunciar sob pesadas acusações que, no entanto, não foram consideradas suficientes por seus pares para cassar-lhe o mandato.
Como se recorda, a desculpa oficial do exímio escritor e político maranhense para não se candidatar à presidência do Senado, que acaba de assumir, era a doença de sua filha Roseane, que a obrigará a se submeter a uma delicada cirurgia. Mas era somente um álibi, porque nada impede Sarney de assisti-la.
O senador potiguar Garibaldi Alves, muito elogiado quando devolveu a medida provisória da "pilantropia" ao governo federal, despede-se da presidência do Congresso nacional com uma nódoa no currículo: sua candidatura à reeleição, por legalmente impossível, era apenas um artifício para enfraquecer a candidatura do petista Tião Viana. Deu certo. Tal ato de lealdade e bravura não haverá de ficar sem justa recompensa.
O novo presidente da Casa prometeu "independência" do Executivo. Se isso for verdade, o inverso não necessariamente haverá de sê-lo.
Tempos alvissareiros aguardam o Senado sob a batuta do experiente e arguto Sarney com Renan Calheiros na liderança do PMDB.
Ali ao lado, na Câmara dos Deputados, Michel Temer, outro pemedebista, assume pela terceira o comando da Casa com as locuções heróicas de praxe nessas ocasiões: Minha gestão não será a do PMDB, mas a de todos os deputados. Agora não há eleitores e não eleitores. Há deputados do Poder Legislativo brasileiro."
Em que pesem as belas, talvez sinceras, palavras do novo presidente da Câmara, o fato é que de certa forma se instalou no Congresso o monopólio do poder político com o qual o presidente Lula haverá de conviver e negociar até o final de seu derradeiro mandato.
Luiz Leitão
Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter