Deixando de lado todas as questões comerciais com o Equador; ignorando a parcialidade com que o presidente Rafael Correa está tratando estes assuntos, passando por cima de contratos e deixando de submeter o assunto ao crivo do judiciário; levando em conta o inacreditável costume de o governo brasileiro engolir imposições de nossos vizinhos, resta uma pergunta: Como pode o presidente Lula calar-se diante da atitude ditatorial do presidente Rafael Correa ao suspender as garantias constitucionais dos cidadãos brasileiros Fernando Bessa e Eduardo Gedeon, funcionários da empreiteira Norberto Odebrecht, abrigados na embaixada do Brasil, desde o dia 23 de setembro? Por decreto, Correa os proibiu de deixar o país; sem processo legal, nada.
Por suas posições em atritos passados com outros vizinhos, o governo Lula e seu chanceler Celso Amorim podem até achar tudo isso muito natural, mas os cidadãos brasileiros, não. Estes, certamente, solidarizam-se com seus conterrâneos Bessa e Gedeon. Não se viu, todavia, grandes demonstrações de indignação na imprensa a respeito deste absurdo. Talvez a crise econômica esteja obnubilando a consciência nacional.
É notória a incapacidade do presidente Lula para administrar conflitos. Salta aos olhos a sua dificuldade de enfrentar o contraditório quando tem de tatear o terreno. Prefere ceder a negociar, como fez quando o presidente boliviano Evo Morales, tal qual Correa, mandou o exército tomar conta das instalações da Petrobrás.
Nossa diplomacia, por motivos ideológicos, que os tem de sobra, ou por ordem presidencial, não se dá nem mesmo o trabalho de protestar energicamente contra a truculência do governo do Equador. Ante a expulsão da Odebrecht do Equador, o máximo que o governo brasileiro ousou foi suspender uma missão comercial que estava programada e anunciar a intenção, quem sabe, de suspender investimentos na infra-estrutura do país.
Outrossim, está dada a senha para o novo governo paraguaio insistir na revisão do Tratado de Itaipu. Ou, no mínimo, seguir pleiteando o aumento dos valores de mercado, diga-se pagos pela energia que compramos da cota não utilizada pelo Paraguai.
Talvez a lógica perversa a reger esta pusilanimidade seja a mesma que levou o país, para vergonha nacional, a deportar os lutadores cubanos Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara com inédita presteza, quando cabia acolhê-los. Diante daquele vergonhoso episódio, nada mais surpreende.
Pode-se aceitar muitas coisas dos governos, mas é intolerável que abandonem seus cidadãos. E não se diga que o seu acolhimento pela nossa embaixada representa uma atitude em si. Não. Aí, o Brasil faz o mínimo, faz o que qualquer um faria. Dos cidadãos, a Pátria exige sacrifícios, mas a via é de mão dupla. Ou deveria ser.
Luiz Leitão [email protected]
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