AS ELEIÇÕES EM BH
José Maria Rabêlo
O que estamos vendo nas eleições municipais em Belo Horizonte reproduz as mais repulsivas práticas políticas do passado. Em princípio parece ser o que pretendem mostrar o candidato a prefeito não necessita ter nenhuma identificação com a cidade, com suas lutas e sua realidade; basta contar com um padrinho de peso (se dois, melhor ainda) para sagrar-se vencedor.
Nada tenho pessoalmente contra o sr. Márcio Lacerda, que mal conheço. Mas sua designação como candidato, é preciso dizê-lo, resulta de um contubérnio que avilta as tradições democráticas de Belo Horizonte. A população nunca ouvira falar de seu nome. Ele poderia andar pela Avenida Afonso Pena, que passaria inteiramente despercebido. As organizações de base da sociedade, que o PT alardeia respeitar, não foram ouvidas nem cheiradas sobre sua indicação. Tanto que os primeiros programas do sr. Lacerda, no rádio e na tv, foram destinados a apresentá-lo aos eleitores, a mostrar o que é e o que faz, o apito que toca. Como um produto qualquer oferecido pela primeira vez em um supermercado.
Em outros tempos, de melancólica memória, assim se fazia. Na República Velha, os coronelões da política mineira, reunidos no que se chamava pejorativamente de a Tarasca, em referência a um monstro do folclore francês, decidiam entre si os candidatos a serem eleitos. A eleição servia apenas para justificar a farsa. Mais recentemente, na ditadura militar, os senadores biônicos eram urdidos à sombra das baionetas, a fim de assegurar o domínio do Congresso pelo governo, anulando a soberania do voto popular.
Agora, a Tarasca (o monstro), que pensávamos morta, levanta-se da tumba para ditar as normas do próximo pleito. O governador e o prefeito, de partidos que sempre se enfrentaram, esquecem-se de suas antigas animosidades, a fim de impor ao eleitorado um nome de sua conveniência de momento. E, sem nenhum constrangimento, saem por aí, como camelôs a vender sua mercadoria contrabandeada. Dispondo de tempo privilegiado no horário eleitoral, de espaço suspeitíssimo dado por alguns jornais, de propaganda milionária de rua, de programas de televisão produzidos por famosas agências de publicidade, de dinheiro, muito dinheiro, juntam-se as duas mais poderosas máquinas administrativas do Estado para esmagar os adversários, numa disputa absolutamente desigual e antidemocrática.
A eleição torna-se, assim, desnecessária e dispensável; os coronéis já decidiram quem vai ganhar, como um prato feito servido aos eleitores.
É triste assistir a tão lamentável retrocesso. Depois de quatro eleições, em que a população belorizontina deu mostras de grande consciência política ao eleger prefeitos por seus compromissos com a cidade, temos agora uma audaciosa tentativa de escamoteação da vontade popular, com um candidato biônico concebido em nome de interesses que o eleitor desconhece. Será por isso que o Sr. Márcio Lacerda aparece sempre olhando para baixo, envergonhado de sua própria candidatura?
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