* Murilo Badaró Presidente da Academia Mineira de Letras
A tarefa do cronista semanal seria mais alegre se ele pudesse escrever exclusivamente sobre temas agradáveis. Como, por exemplo, falar das belezas do parque de Inhotim, em Brumadinho, relatar casos pitorescos de velhos carnavais, comentar a disputa entre as tenistas russa e eslava para ver quem ganha no tênis, pois na formosura ambas são campeãs. Enfim, seria muito mais prazerosa esta atividade. De repente, aparecem nos jornais várias notícias desagradáveis, às quais deve o cronista estar atento.
Por esta razão vou lhes falar hoje sobre o enorme buraco negro da educação brasileira, identificado nos diversos aspectos que envolvem o problema da preparação da juventude brasileira.
Astrologicamente, você já sabe, buraco negro clássico é um objeto com campo gravitacional tão intenso que a velocidade de escape excede a velocidade da luz, descoberto pelas sondas espaciais. Aqui no Brasil, o buraco negro da educação está bem próximo de nós e está caracterizado pela falta de velocidade com que o governo age para extirpá-lo da vida nacional. Ei-lo.
O Ministério da Educação determina a suspensão de quase sete mil vagas nas escolas de direito, pela ineficiência comprovada nos diversos cursos. Vivam as exceções. Mas há uma enorme distorção num país que tem 589 mil alunos matriculados nos cursos de direito, superando os 571 mil da ativa com registro da OAB, enquanto precisa desesperadamente de engenheiros, físicos, biólogos, especialistas em agricultura e pecuária. E tem mais. Por enquanto, estou comentando o buraco negro que está em cima, na área universitária.
Quando tratar do buraco que está mais embaixo, as coisas ficam mais pretas ainda. Proliferam as faculdades de administração, as de pedagogia, de direito, de jornalismo, sejam elas públicas ou particulares, para atender a corrida em busca do canudo, do velho diploma que dá título de doutor ao portador, mas não lhe garante sucesso no mercado de trabalho. Um país de acelerado ritmo de desenvolvimento, necessita de profissionais qualificados num mercado com carência de especialistas em diversas modalidades.
Vamos continuar sendo, por muito tempo ainda, um país de bacharéis, no seu mais amplo sentido. Em lugar de buscar solução para esta crise que se agrava a cada instante, cuida o governo, sempre desatento, de atribuir vagas para alunos de cor e pela procedência desta ou daquela escola, esquecendo de melhorar o salário dos professores, classificado de fracasso nas palavras do presidente Lula. O buraco negro mais embaixo, nos ensinos fundamental e médio, é cada vez mais negro. Um em cada cinco jovens entre 18 e 29 anos que vivem nas zonas urbanas abandonou a escola antes de completar o ensino fundamental.
Quase trinta por cento dos alunos urbanos jovens tiveram estudo insuficiente e parte deste percentual continua tecnicamente analfabeto. Estes números são oficiais, saídos do PNAD 2006 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE, órgão submetido diretamente à Presidência da República. Roberto Campos dizia que pesquisa é como o biquíni. Mostra tudo, menos o essencial.
O essencial da educação brasileira está à vista de todos. É o crescente número de faculdades de fins de semana, de cursos totalmente defasados da realidade brasileira, de cuidados deficientes com a educação na zona rural, de professores mal remunerados, de escolas materialmente em péssimo estado, de falta de equipamentos pedagógicos modernos, enfim, dificuldades a suscitarem maus presságios para o futuro. Para completar este triste buraco negro, o episódio em que o radicalismo ideológico impediu a visita do Papa Bento XVI à Universidade la Sapienza, em Roma, onde proferiria a aula inaugural, ele que é considerado dos mais respeitados intelectuais da atualidade. Felizmente, no Brasil o problema da sobrevivência parece ter retraído a ação ideológico-radical nas escolas em meio ao alunado, apesar de ainda subsistir intensa e coordenada na alta cúpula do corpo docente. O buraco negro já foi identificado. Resta desmanchá-lo.
(e-mail [email protected] murilobadaro.blogspot.com)
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