Opinião: O preço das ambições

Ambições políticas custam caro em todos os sentidos. Que o diga o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), que tentou se reeleger governador de Minas Gerais, em 1998, ao inacreditável custo de R$ 80 milhões pelas contas da Polícia Federal, embora oficialmente sua campanha tenha saído por R$ 8,55 milhões. Raros são os homens públicos que, cumprida a missão, se retiram do cenário. Políticos, quando se aposentam, o fazem compulsoriamente no mais das vezes.

Com ou sem corrupção, o custo das ambições costuma ser socializado. Veja-se o caso do presidente da Argentina, Néstor Kirchner, que manobra para contornar a Constituição e se reeleger à sombra de sua mulher, Cristina, candidata ao cargo nas eleições que se avizinham. Kirchner falseia os índices de inflação, tabela preços e persegue empresas. A conta, como de costume, vai para o povo.

Nove anos se passaram desde o caso do senador Azeredo, que se diz ter sido a gênese do atual mensalão, e por causa dele o partido teria se sentido, digamos, impedido de manifestar-se pelo impedimento de Lula à época das declarações do publicitário Duda Mendonça na CPI dos Correios. Agora, o fantasma que assombrava Azeredo e parecia exorcizado ressurge e paira também sobre outra cabeça, a do ministro das Relações Institucionais Walfrido dos Mares Guia, que diz ter ajudado Azeredo informalmente em 1998. O problema é justamente esse, a informalidade da ajuda.

Mas deixemos de lado as questões técnicas, os detalhes, sórdidos ou não; isso de acusar e provar é lá com o Ministério Público, a PF e o Judiciário.

As convicções perdem feio para as ambições quando se trata de garantir o futuro político, a manutenção do poder. Consciências solúveis (e volúveis), estas. Confiar em quem? Crer no quê? O combativo senador de ontem já não o é hoje, dizem as más notícias: O nobre senador Demostenes Torres (DEM-GO) que vinha sendo quase uma exceção no licencioso ambiente do Senado não é mais aquele. Lábil, o senador que, dizem, poderá mudar de partido, se não de convicções, parece ter sucumbido ao canto de sereia presidencial. Lula se propõe a apoiá-lo nas eleições de 2010, quando ele tentará revalidar seu mandato na Casa ou, melhor ainda, e vivam as ambições, disputar o governo de seu Estado, Goiás.

A justificativa da providencial transfugia é que o partido poderá negar-lhe a legenda. E por que o DEM seria tão ingrato com tão combativo senador? O fato é que Demostenes estaria disposto a inverter sua opinião acerca da prorrogação da CPMF, já admitindo votar a seu favor. Como se dizia aqui, a conta da ambição será debitada ao distinto e indefeso público. Seu caso não é, evidentemente, de corrupção, mas apenas de mudança de posição, por assim dizer.

O preço das ambições desmedidas de nossos homens “públicos” está embutido nas nomeações para os bons cargos nas empresas estatais, nas autarquias, nos incontáveis cargos de “confiança” dos governos federal, estadual e municipal.

Uma parte dessa fatura poderá ser recuperada na Justiça Cível, onde o foro é democrático e sem prerrogativas, mas o custo maior, do atraso, das pessoas que deixam de receber serviços públicos decentes e adequados, não raro é pago com a vida, esse não se cobra de ninguém. É o custo velado das ambições dos homens que deveriam servir, proteger e cuidar dos que os elegem.

Eventualmente, uma denúncia põe cobro à roubalheira, como ocorreu nos casos do mensalão, da operação “Navalha”, da quebra de sigilo do caseiro pelo ex-ministro Antonio Palocci e em tantos outros casos. Os controles são parcos e falhos; as ambições são ligeiras e fartas.

Luiz Leitão

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