Menores e Maiores
J.C. Monjardim Cavalcanti
Tem sido muito comum e até frustrante no Brasil, quando ocorre um fato público de relevância , marcado pelo instinto selvagem , agressivo em termos humanos , socialmente grave e profundamente terrível, capaz por si só de despertar o ódio da nação, surgirem debates, pronunciamentos, desculpas, soluções impossíveis e o velho matraquear das raposas políticas , sustentadas que estarão por uma mídia sedenta de manchetes .
Estamos vivendo este drama do arrastão de um menino , inocente , puro e que acabou vítima da perversidade e da truculência animal de marginais . E no choro que chega , nas lágrimas que rolam, na solidariedade oportuna que surge, revela-se a mansidão do brasileiro , a angústia aceita por alguns e, sobretudo , as vozes doutas de uma jurisprudência capenga e demorada.
Despontam os líderes . Deixam o berço esplendido de suas mordomias , abandonam os assuntos públicos de sua responsabilidade para pousarem como paladinos de soluções que só aparecem enquanto a mídia estiver plantada nas imagens fortes , tristes , penosas e sofridas das famílias atingidas. Passado este primeiro momento , pouco a pouco o noticiário busca outros rumos e outros fatos . É preciso manter todo o seu público na espera de um novo crime , uma nova fatalidade . O esquecimento passa a ser um conveniente companheiro dos políticos e administradores , com pouquíssimas e honrosas exceções . As soluções , na realidade , estão nas raízes.
Vivemos sob o tacão da irresponsabilidade , da omissão , da corrupção ( já até aceita com alguma dose de reserva ), do abandono social , da falta de emprego , da inexistência de renda e das mínimas condições de sobrevivência . Somos, apesar de tudo , um povo que habita um país calmoso e hereditário e ainda temos força para pular e sambar , no instinto perverso que tenta matar nossas penas e sofrimentos. Mas , na verdade , a culpa não é dos menores . Ela é, muito mais , dos maiores . Da maioria deles.
Os maiores que riem do povo , esquecem seus deveres , obrigações e responsabilidades . Que deixam de priorizar o social com equilíbrio e civismo . Que continuam a patrocinar negociatas , mensalões, desvios de recursos públicos . Dos que patrocinam o empreguismo familiar . Dos que legislam em causa própria . Dos que não assumem o que prometem em suas campanhas . Dos que se omitem e se escondem. Dos que fogem ao debate . Dos que não admitem a força construtora de uma oposição consciente . E, por ai, iríamos muito mais longe .
A impunidade , a falta de priorização do processo educacional e a implantação de bolsões de emprego e renda precisam, estes sim , ser arrastados impiedosamente pelas ruas e praças de todo o país , num despontar de atitudes e reações que contribuam para mudar este terrível clima de insegurança . Chego à conclusão , portanto , de que a culpa não é dos menores . Ela nasce, se alimenta e vive da omissão e incapacidade dos maiores.
J.C. Monjardim Cavalcanti ( Cacau ) é jornalista e ex-Secretário de Comunicação do Estado .