A hipocrisia da grande mídia
O jornalismo norte-americano sempre foi visto no Brasil como um modelo a ser seguido. Nas escolas de comunicação e nas redações dos nossos jornais, o New York Times e o Washington Post sempre foram apresentados como parâmetros de comportamento.
O livro de Gay Talese O Reino e o Poder, que conta a história do New York Times em centenas de páginas, se transformou numa bíblia para muitos jornalistas.
Apesar disso, uma coisa que sempre foi marca desses jornais americanos, não é seguida no Brasil, a opção clara e aberta por um dos candidatos nas eleições nacionais.
Em vez disso, nossos grandes jornais quase sempre optaram por uma pretensa imparcialidade. Possivelmente porque seja mais fácil por lá escolher um lado, Democratas e Republicanos sempre foram lados de uma mesma moeda, o certo é que aqui, a mídia impressa se declara isenta em época de eleição.
Talvez, o último grande jornal brasileiro que não seguia esse modelo, tenha sido a Última Hora, criada por Samuel Wainer para defender basicamente os interesses do PTB de Getúlio Vargas e João Goulart. Depois que o jornal acabou, na esteira do golpe de 64, todos os jornais brasileiros passaram a se declarar isentos em relação à disputa eleitoral.
Veja-se o que ocorre nessas semanas que antecedem à eleição presidencial de outubro.
Obviamente, ninguém é ingênuo para acreditar que essa imparcialidade seja real.
O fato de não assumirem publicamente uma candidatura, facilita a estes veículos um posicionamento ambíguo.
Enquanto a linha editorial oficial pode se dizer isenta, o noticiário é dirigido no sentido de favorecer o candidato (os) que esteja mais de acordo com o posicionamento do veículo.
Isso é feito, destacando ou minimizando, em textos e fotos, as atividades de cada um dos candidatos. Tudo isso ainda poderia ser visto como uma tendência discutível que pode favorecer aleatoriamente "A" ou "B", não fosse a presença em cada um desses veículos dos jornalistas de opinião que ocupam cada vez mais as páginas dos jornais.
São eles, no passado chamado de formadores de opinião, e que hoje se apresentam como "influenciadores", que realizam esse trabalho de sapa contra os candidatos que o jornal não pretende ver como vencedores.
Aqui no Rio Grande do Sul, basta acompanhar as edições de Zero Hora no período eleitoral para ver como funciona esse sistema de apoio a um ou outro candidato, ao lado de um processo de destruição da imagem dos que devem ser vencidos, tudo isso sem abandonar a aparência de isenção.
Por tudo isso, surpreende, quando uma grande publicação nacional como a Revista Carta Capital, assume publicamente o apoio a uma candidatura à Presidência da República, no caso a de Fernando Haddad, do PT e PCdoB.
No editorial em que anuncia esse posicionamento, o Diretor de Redação da publicação, Mino Carta, diz que, "Carta Capital, conforme a tradição de publicações da Europa e Estados Unidos e da própria a esta altura, apoiou as duas candidaturas de Lula e Dilma. Não há como imaginar, por enquanto, Lula saia da cela de 25 metros quadrados, banheiro incluso e volte à luz do sol, ou a ver as estrelas, como escreveu o já citado Dante. A partir desta edição, apoiamos Fernando Haddad, candidato de Lula e nosso"
Marino Boeira é jornalista,formado em História pela UFRGS
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