Por: Pastor Alape, Integrante do Secretariado Nacional das FARC-EP
Iniciou 2016, o ano que será transcendental e definitivo na história de nosso país. Será o ano em que a paz se abra caminho, com passos certos ainda que nada fáceis. Não há dúvidas de que se firmará o Acordo Final e se iniciará o longo processo para sua implementação, porque, devemos ser claros, a firma do Acordo Final não é a paz como tal. Esse momento apenas será o início do silenciamento da guerra e do duro esforçar para o desmonte total do fenômeno do paramilitarismo e da luta contra as vozes isoladas, porém com imenso poder, que têm obstaculizado o rumo da paz. Uma nova era, a da paz, está se gestando em nossa pátria.
O ano de 2015 foi intenso e laborioso. As duas delegações, governo e guerrilha, desenvolvemos uma intensa atividade na Mesa de Conversações, a qual se tornou esgotadora muitas vezes. Esvaziamos o ponto cinco da Agenda, subscrevendo um Acordo que centra seus desenvolvimentos na satisfação dos direitos das vítimas à justiça, no qual a verdade sobre o conflito será conhecida pela sociedade colombiana, e a reparação e a não repetição determinarão as garantias para a conquista de uma paz com justiça social, estável e duradoura.
Os últimos três meses foram árduos e rígidos devido às dúvidas semeadas pelo governo ao desconhecer em seu conjunto a Jurisdição Especial para a Paz, depois que a 23 de setembro, em ato solene, com a assistência do presidente Juan Manuel Santos e do comandante geral das FARC-EP, Timoleón Jiménez, e em presença do presidente de Cuba, Raúl Castro, sob a lente das câmeras da imprensa internacional, os chefes das duas delegações de paz, Iván Márquez e Humberto De la Calle, firmaram o acordo sobre justiça. Acordo que, ademais, foi apresentado como um passo determinante para a paz da Colômbia ante a assembleia das Nações Unidas pelo próprio presidente Santos.
Por tudo isto, em 14 de dezembro, quando encerramos finalmente e em forma total o ponto sobre vítimas, se notava o cansaço acumulado pelos integrantes das delegações. Ainda que, na verdade, a nota predominante era a alegria. Nessa manhã, ao encontrar-nos nos corredores com documentos em mão, todos a passo acelerado, cruzávamos olhares de aprovação pelo alcançado. Alguns membros das delegações estabelecemos maior comunicação e comentamos em forma rápida e positiva o construído, assim como o que esperávamos da Mesa em 2016.
O governo de Cuba, com sua longa experiência nestes assuntos, reconheceu firmemente a profusão de emoções que flutuava no ambiente do Palácio de Convenções durante os últimos dias do fim de ciclo de conversações e às portas do próprio 15, pelo qual acertou a programar para a noite de 14 de dezembro, em homenagem às vítimas, um vibrante concerto de piano do maestro Frank Fernández. Aí estivemos as duas delegações, acompanhando a representação das vítimas, junto a boa parte dos integrantes das comissões de juristas e histórica da verdade do conflito, ao lado de um número importante de diplomatas de América e Europa, rodeados ademais por cubanos e colombianos residentes em Havana.
Na manhã do dia 15, após finalizar o ato de apresentação do Acordo, intercambiamos palavras de despedida com alguns funcionários da delegação do governo cujo contrato terminava, razão pela qual não regressariam neste ano. Em meio a expressão de sentimentos que costuma acompanhar este tipo de despedidas, falamos também das emoções emanadas pelo concerto da noite anterior. Com o doutor Gonzalo Restrepo coincidimos em que a interpretação do maestro Frank Fernández havia sido um ato sublime, e pude constatar que tanto a ele como a mim, assim como à maioria de assistentes, se nos havia feito um nó na garganta quando o maestro, depois de ter se despedido, voltou a sentar-se frente ao piano para interpretar Noite de paz, noite de amor. Seu gesto nos preencheu de um verdadeiro êxtase, até o ponto de ouvir, como se fora um coro de vozes que brotassem do piano, o belo estribilho brilha a estrela da paz.
Estou convencido de que neste ano brilhará a estrela da paz para iluminar a nova era que estamos construindo para Colômbia.
La Habana, 10 de janeiro de 2016
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