O que nos dizem gregos e gregas, e o que podemos dizer a eles

Que lições podemos extrair da experiência grega dos últimos oito anos? Ofereço, para reflexão e debate, algumas (hipó)teses que a experiência me sugere:


1. A Eurozona é uma jaula de ferro. Jaulas não se democratizam. Jaulas têm de ser destruídas.

2. O poder está com os grandes bancos alemães, franceses, ingleses e holandeses.

3. Governo nacional surgido de uma maioria parlamentar não tem margem de manobra nem qualquer poder real. Só pode aplicar o que Bruxelas, Berlim e Frankfurt o mandem aplicar. 

4. Atualmente, a soberania nacional não tem sentido algum. A soberania popular sim, mas sob certas condições.

5. A única alternativa possível a esse sistema terá de ser construída de baixo para cima erga omnes (para todos), com visão ampla e sem exclusivismo ideológico.

6. Esta alternativa deve ter por objetivo satisfazer as necessidades fundamentais das pessoas, com vistas a oferecer gestão correta dos bens comuns, quer dizer, autogestão desses bens.

7.Esta alternativa pode e deve ser construída hic et nunc (aqui e agora), independentemente da politicagem tradicional, dos prazos eleitorais e das estruturas estabelecidas numa democracia representativa. 
 

8.Só povo que tenha soberania alimentar e seja economicamente autônomo pode das as costas aos bancos e ao sistema deles, e dar sentido concreto ao seu "NÃO".
 

9.Os gregos e gregas não podem eleger: se quiserem dar sentido ao seu "NÃO", eles/elas têm de pôr em prática um "SIM". Sim a:

a)    Um retorno à terra, plantando e cultivando para ter o que comer: "A terra para os que trabalham a terra". 

b)    Criação de suas próprias moedas locais, autogeridas, não bancárias, cujo curso se ajustará em função do tempo. 

1DD (δημοτικη δραχμή/dracma popular) = 1 hora de vida.

c)     Criação de suas próprias fontes de energia, renováveis, gratuitas, limpas.

d)    Criação de suas próprias estruturas de poder popular (λαοκρατία/laocracia**) para gestão dos bens comuns e dos territórios, e das relações sociais. Uma democracia direta, horizontal, sem delegação, sem burocratização, com cargos de eleição popular designados por sorteio e revogáveis a qualquer momento.

Só se se converter em zona liberada na Europa, a Grécia poderá conseguir que a Europa incline-se na direção de uma lógica de saída da jaula de ferro. 

Nem euro nem dracma! Laocracia!

Foto agorapanos77

 


* Contados a partir de 6/12/2008, data do assassinato de Alekos Grigoropoulos, em Exarchia, que iniciou ciclo prolongado de lutas, com altos e baixos.

**  Laocracia: poder popular. O termo designa as estruturas que a Resistência grega pôs em funcionamento nas zonas liberadas durante a "guerra civil", de 1945 a 1948.

15/9/2015, Fausto Giudice, Tlaxcala

 

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