CURITIBA/BRASIL - O até então famoso, sério e respeitado HSBC, segundo maior banco do mundo, é acusado de ter ajudado 8,7 mil clientes brasileiros a depositar cerca de U$$ 7 bilhões em sua filial na Suiça, sem que a origem do dinheiro fosse declarada è Receita Federal.
Por ANTONIO CARLOS LACERDA
No centro de uma polêmica global por ajudar corruptos e evasores de divisas de todo o mundo, o HSBC de Genebra, na Suiça, abriu conta e recebeu o depósito de dinheiro em sua sede suíça proveniente de propinas no caso do escândalo de roubo na Petrobrás.
Isso é pelo menos o que revela em sua delação premiada o ex-gerente executivo de engenharia da Petrobrás Pedro Barusco, que abriu um total de 19 contas em nove bancos na Suíça para receber propinas.
A informação faz parte do "Termo de Colaboração Premiada" entre Barusco e o Ministério Público Federal.
O documento aponta que o ex-gerente da Petrobrás "reconhece ter também recebido o valor aproximado de US$ 6 milhões em nome da Offshore Vanna Hill, em nome de sua esposa Luciana Adriano Franco em conta bancária no Banco HSBC, Genebra, Suiça, os quais reconhece como sendo produto ou proveito de crimes por ele praticado".
O texto indica que Barusco renunciou "a todo e qualquer direito sobre eles e comprometendo-se a prontamente praticar qualquer ato necessário à repatriação desses valores em benefício do país". Sua esposa, no mesmo documento, "reconhece o depósito mencionado" e "igualmente renuncia a todo e qualquer direito sobre eles".
Na delação, a data da abertura da conta não é indicada. Mas entre os detalhes colhidos pelo MP está o registro de uma transferência no dia 12 de novembro de 2011 do HSBC para a empresa criada por Barusco no Panamá, a Rhea Comercial. O valor seria de US$ 980 mil.
Para realizar seus depósitos no HSBC, Barusco afirma ter se utilizado dos serviços do Bernardo Friburghaus, operador que também aparece na delação premiada de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobrás.
Lavagem. Na semana passada, uma revelação feita por uma rede de jornais de todo o mundo apontou como o HSBC funcionou como um instrumento para lavar dinheiro, gerando uma polêmica internacional sobre o papel dos bancos e da Suíça no combate à corrupção.
Segundo os dados, o banco HSBC ajudou a mais de 8,7 mil brasileiros a depositar US$ 7 bilhões em contas secretas na Suíça. No mundo, o banco auxiliou a mais de 100 mil clientes a levar para a Suíça suas fortunas, nem sempre declaradas em seus países. A lista desses clientes é um exemplo de como o sistema bancário do país alpino lucrou ao manter contas de criminosos, traficantes, ditadores e milionários que optaram por não pagar impostos ou pilharam seus países.
No Brasil, a Receita Federal se limitou a indicar que abriu investigações para apurar "hipóteses de omissão ou incompatibilidade de informações" prestadas ao Fisco Brasileiro por brasileiros correntistas do Banco HSBC.
No caso do HSBC, o Brasil aparece com destaque na lista, sendo o quarto país com maior número de clientes no ranking das nacionalidades que mais usaram o banco e as contas secretas. No total, foram mais de 6,6 mil contas.
Entre as personalidades brasileiras estava Edmond Safra. No mundo, a lista conta com nomes como Fernando Alonso, Emilio Botin, David Bowie, Tina Turner ou o Rei Abdallah, da Jordânia.
Os documentos foram colhidos pelo Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo e revelam a frequência pela qual personalidades viajavam para a Genebra para consultar suas contas e administrar suas fortunas.
Bloqueio. Em março de 2014, Barusco tentou fazer transferências e retirar seu dinheiro da Suíça. Mas indicou em sua delação que suas contas foram congeladas naquele mês pelas autoridades suíças, que já investigavam o caso. A Operação Lava Jato, que investiga desvios de recursos em contratos da Petrobrás foi deflagrada justamente em março do ano passado.
A Justiça suíça confirmou a informação e indicou que o sistema criado por Barusco de abertura de diversas contas e a criação de empresas offshore refletem um esforço de "camuflar" a origem do dinheiro. Os suíços, porém, evitam dar detalhes sobre o volume de dinheiro bloqueado.
ANTONIO CARLOS LACERDA é Correspondente Internacional doPRAVDA.RU
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