Daniel Lima e Kelly Oliveira - repórteres da Agência Brasil
Brasília - No momento de grande crise mundial, até as projeções e estimativas dos economistas apresentam muitos contrastes e instabilidade. Governo, mercado, bancos, institutos de pesquisa e entidades de classe prevêem um cenário em que a economia brasileira pode ter desde uma queda de 1,5% até um crescimento de 2%. Há estimativas para otimistas e para pessimistas.
O professor Fabio Kanczuk, da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (USP), afirmou que projeções para o crescimento da economia são importantes tanto para as empresas quanto para os trabalhadores. No caso das empresas, as estimativas servem para que saibam qual será a demanda pelos seus produtos.
Um dos parâmetros que servem de base para os cálculos do desempenho da economia é o Produto Interno Bruto (PIB), a soma dos bens e serviços produzidos no país.
"Se o PIB é alto [a indústria e o comércio], vão vender mais e têm que produzir mais. Se o número é baixo, se produzir mais vai ficar cheio de estoque e não terá para quem vender e pode até quebrar", disse Kanczuk.
O professor da USP lembrou, ainda, que alguns setores são "muito elásticos", ou seja, a demanda por produtos cai quando há menor crescimento ou retração da economia, diferentemente do que ocorre com, por exemplo, itens básicos da alimentação, como arroz e feijão, que as pessoas precisam consumir sempre.
Já para os trabalhadores, as projeções sobre o PIB têm a ver com a disponibilidade de emprego e até mesmo com as perspectivas salariais do mercado de trabalho. "Em geral, o trabalhador não dá a menor bola para o PIB. Mas quando o PIB aumenta, cresce o emprego e quando é baixo perde-se o emprego".
Segundo Kanczuk, um dos motivos para as estimativas para o PIB serem contrastantes são os diferentes modelos usados pelos economistas para definir a projeção. "Tem gente que acha que o PIB tem mais a ver com indústria, outros com comércio, outros com as commodities", explicou.
Outro fator é o que o professor chamou de "jogo político normal", uma vez que o governo, segundo ele, não projeta números ruins para não piorar a expectativa do mercado."Tem ainda gente biruta no mercado que prevê algo próximo de menos 5% [de retração]. É aí um jogo de interesse particular. A pessoa arrisca e, se acertar, ganha status", disse.
Para Kanczuk, as projeções feitas com vários modelos variam de retração de 2% à estabilidade, ou seja, 0%, não haveria crescimento. "É o que dá para obter com os modelos. Sair disso, que tem a ver com questão política, que empurra o número para cima, ou de arriscar e colocar o número para baixo para estimular a carreira", disse.
A projeção do professor é de uma retração de 1%. "Com os dados que a gente tem hoje, a projeção dá negativa. Mas a possibilidade maior é de nos surpreendermos com um resultado mais para cima do que para baixo."
Para o economista da SulAmérica, Newton Rosa, as projeções sobre o PIB atualmente dependem muito da avaliação que cada um está fazendo da evolução da crise financeira internacional. Na sua opinião, se for avaliado que as medidas adotadas pelos governos estão surtindo efeito e que a economia brasileira é sólida, é possível "trabalhar com uma trajetória de crescimento".
Mas, no cenário em que o crédito está escasso e, por conseqüência, há menos investimento e consumo, "a conclusão é que a recessão não só vai pegar 2009, mas vai também avançar em 2010". "Num cenário como esse, a economia brasileira, que também depende da economia mundial, vai terminar sofrendo. Conseqüentemente, deve acusar retração neste ano e talvez [um crescimento] medíocre no ano que vem", disse o economista.
A projeção do economista é de queda de 0,8% no PIB deste ano. "Como eu trabalho com um cenário onde a economia vai responder positivamente às medidas fiscais e monetárias que estão sendo adotadas em todas as partes do mundo, acredito que a gente comece a ver o esboço de alguma reação ainda no segundo semestre deste ano", disse Rosa.
"Infelizmente, é bola de cristal mesmo. Por mais que você tente sofisticar as suas projeções e os seus modelos, você está partindo de pressupostos, de hipóteses que podem se verificar ou não", acrescentou Newton Rosa.
Confira as mais recentes projeções de variação do PIB do Brasil em 2009:
Fundo Monetário Internacional (FMI): - 1.3%
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp): de - 1% a - 1,5%
Mercado financeiro (consultados pelo Banco Central): - 0,49%
Banco Central: + 1,2%
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea): de + 1,5% a + 2,5%
Ministério da Fazenda: + 2%
Fonte: Agência Brasil
http://www.socialismo.org.br/portal/emprego-salario/128-documento/892-crise-atual-pode-ser-mais-intensa-do-que-a-de-1929-diz-sociologo-
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