Penhorar transnacionais para reconstruir a Síria ?
Thierry Meyssan
O Presidente Trump fez-se eleger com a promessa de derrubar o capitalismo financeiro e de restaurar o capitalismo produtivo. Nesta lógica, ele considera que as reparações de guerra devidas à Síria não devem ser pagas pelos Estados Unidos, mas, sim por sociedades transnacionais. É esta revolução das relações internacionais desejável e possível ?
Henry Kravis no Fórum de Davos. Próximo de John McCain, o fundador do KKR é membro do Council of Foreign Relations e do Grupo de Bilderberg (do qual a sua mulher é administradora). Ele emprega o General David Petraeus (antigo director da CIA) com quem organizou as transferências de fundos e de armas para o Daesh (E.I.). Amigo de longa data de Emmanuel Macron, financiou secretamente a sua campanha eleitoral.
Foram 114 os Estados membros dos «Amigos da Síria» a financiar a sua destruição pelos jiadistas. Mas, após o seu fracasso, nenhum quer pagar seja o que for para a sus reconstrução. Ora, eles não tiveram qualquer problema em apoiar os Estados que acolhiam refugiados sírios ; estando sub-entendido que não se tratava aqui de um gesto humanitário, antes de um meio de privar a Síria dos seus recursos humanos.
Acima de tudo, todos esperavam enriquecer mascarando com isso o seu crime e obtendo ainda contratos de reconstrução.
A 7 e 8 de Agosto, a Comissão Económica das Nações Unidas para a Ásia Ocidental (ESCWA), reunida em Beirute, estimou o custo mínimo da reconstrução em 388 mil milhões de dólares. Ela deverá apresentar um relatório detalhado sobre este assunto em Setembro. Desde já, consciente que o que o país sofreu nada tem a ver com «uma guerra civil», mas com uma agressão estrangeira, ela colocou no título deste relatório : Syria, 7 years at war. Quer dizer, A Síria, 7 anos em guerra e não 7 anos deguerra.
A título de comparação, o Líbano, cuja população é três vezes menor, apenas conseguiu obter US $ 11 mil milhões (bilhões-br) de dólares de ajuda internacional aquando da conferência CEDRE, em Abril passado.
Os Estados Unidos, que planearam (planejaram-br) a guerra desde 2004, não querem dar um cêntimo. Segundo a Administração Trump, esta guerra foi concebida pela Administração Bush Jr. e conduzida pela de Obama. Ora, essas duas Administrações não serviam os interesses do povo norte-americano, mas, antes as de uma classe financeira transnacional. Eles, é certo, destruíram a Síria, mas também a economia dos EUA. Não caberia, pois, a Washington pagar, antes a esses tipos e às corporações transnacionais directamente implicadas na guerra.
Por exemplo, o fundo de investimento norte-americano e rival do Carlyle Group, KKR de Henry Kravis (valor bolsista US $ 150 mil milhões). Ele emprega o General David Petraeus e fez transitar fundos e armas para a Alcaida e o Daesh [1]. Ou o construtor automóvel japonês Toyota, que forneceu todos os veículos novos do Daesh (valor bolsista 170 mil milhões de dólares) [2]. Ou ainda o fabricante de máquinas de construção Caterpillar que vendeu aos jiadistas as tuneladoras necessárias à construção das suas redes subterrâneas (valor bolsista US $ 76 mil milhões de dólares). Sem falar da cimenteira franco-suíça Lafarge-Holcim que produziu 6 milhões de toneladas de cimento para a construção dos seus bunkers (valor bolsista de 40 mil milhões de dólares) [3], etc.
O envolvimento destas empresas na aplicação do plano do Almirante Arthur Cebrowski para destruir os Estados e as sociedades do Médio-Oriente Alargado Médio explica-se provavelmente pela certeza de que elas teriam acesso aos recursos naturais da região sob a protecção dos exércitos ocidentais.
Fazer pagar multinacionais não exclui a obtenção de reparações de certos Estados como a Arábia Saudita, o Kuweit, o Catar ou a Turquia que financiaram, ou cujos cidadãos publicamente financiaram, os jiadistas.
Se a República Árabe da Síria conseguir reunir as provas do seu papel durante a guerra, ela terá o direito de exigir a execução perante os tribunais do país da sua sede social. Assumindo a argumentação do Presidente Trump, ela poderá contar com o apoio da nova Administração dos EUA.
É portanto possível, mesmo sem conseguir fazer os Estados pagar, reunir os US $ 388 mil milhões de dólares evocados pela ESCWA.
No fim de todas as guerras que deram origem à reparações de guerra, empresas nacionais foram executadas judicialmente. A novidade seria, desta vez, tirar as conclusões da globalização económica e processar empresas transnacionais.
Thierry Meyssan
Tradução
Alva
Fonte : "Penhorar transnacionais para reconstruir a Síria ?", Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 14 de Agosto de 2018, www.voltairenet.org/article202435.html
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