Tem gente no Brasil que, analisando a sua realidade, imagina se posicionar politicamente como se tivesse diante de um catálogo colorido, que vai do vermelho da esquerda radical ao azul da extrema direita
A rigor ninguém se assume como de direita no Brasil. De extrema direita, nem pensar. Os extremos assustam.
As pessoas se dizem de centro ou de esquerda com as devidas nuances. Podem de ser apenas de centro, ou, o que é mais comum, o centro adjetivado, centro democrático, centro conservador, centro responsável ou então de esquerda com uma variedade que só encontra similar em produtos de consumo. Tem a esquerda tradicional, a esquerda democrática, a nova esquerda e até a velha esquerda festiva.
Mas basta um determinado evento para que as nuances desapareçam e se volte ao velho e injustamente condenado, maniqueísmo,do certo ou do errado, do branco ou do preto, da esquerda ou da direita.
Na Revolução Russa, cujo centenário já estamos comemorando, todos os tons cinzas desapareceram e ficaram apenas o vermelho da revolução bolchevista e o azul dos monarquistas, cadetes, sociais revolucionários, mencheviques e seus afins.
Veja-se o episódio histórico do impeachment da Presidente Dilma.
Peça para alguém sintetizar numa frase, que tenha apenas sujeito, verbo e complementos, o que aconteceu.
Alguns dirão;
"O Congresso roubou um direito do povo"
Representam a esquerda, no caso.
Outros:
"O Congresso representou a vontade do povo"
Representam a direita, no caso
Haverá, porém, um outro grupo, muito grande, que vai querer usar uma preposição (mas, porém) dando um tom condicional a uma frase que deveria ser afirmativa
"O Congresso se apossou de um direito do povo, MAS, a Dilma deixou o PT roubar"
"O Congresso de apossou de um direito do povo, PORÉM, isso foi necessário para evitar um mal maior"
O uso da preposição encaminha os integrantes desse grupo, irremediavelmente, em termos práticos, para a direita.
Nas eleições de 2018, se não roubarem o direito Lula concorrer (novamente existe aí uma divisão maniqueísta de ser a favor ou contra), o primeiro turno será um deleite para os que olham a política como um caleidoscópio colorido, do vermelho do Ruy Costa Pimenta passando pelas cores que representam o Eymaael, o Zé Maria, a Luciana, o Lula, o Ciro, o Alckmim, o Dória, o Pastor Everaldo, o Levy Fidelis, até chegar ao azul (talvez o melhor fosse o roxo) do Bolsonaro.
No segundo turno, todo esse colorido vai desaparecer e as pessoas terão que decidir entre o Lula, a esquerda e o Bolsonaro, a direita, sem qualquer nuance.
Será branco ou preto, direita ou esquerda, mais uma vez.
Tomara que seja a esquerda, embora hoje isso pareça mais um sonho.
Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS
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