As informações de caráter científico de grande parcela dos componentes do ministério do presidente interino Michel Temer são absolutamente precárias. Os despautérios formulados por seus integrantes poderiam, com alto grau de confiabilidade, por um lado ser atribuídos ao nível de despreparo com o qual se defronta o ensino no Brasil...
Iraci del Nero da Costa *
As informações de caráter científico de grande parcela dos componentes do ministério do presidente interino Michel Temer são absolutamente precárias. Os despautérios formulados por seus integrantes poderiam, com alto grau de confiabilidade, por um lado ser atribuídos ao nível de despreparo com o qual se defronta o ensino no Brasil; já considerada uma segunda vertente explicativa poder-se-ia evocar a ignorância generalizada típica dos políticos brasileiros os quais, em sua maioria, não dominam os elementos culturais mínimos exigíveis de integrantes de um poder Legislativo suficientemente capacitado para representar os interesses de uma imensa população, esta sim, condenada a um pífio sistema educacional.
Assim, inúmeras asseverações dos atuais ministros revelam-se inteiramente descabidas obrigando-os a retirá-las poucas horas depois de serem impropriamente enunciadas.
O próprio presidente atual, como que a ecoar sua antecessora, ora afastada, viu-se enredado em afirmações despropositadas as quais foi obrigado a reformular ou a abandonar logo após serem divulgadas.
Sentimo-nos, pois, eleitores e povo em geral, imersos em um ambiente dominado por pesadelos incompreensíveis. Disso decorre nossa agônica desesperança com respeito à tão desejada melhora a qual vê-se maciçamente alvejada pelos recorrentes deslizes cometidos pelos integrantes do governo interino de Michel Temer.
A mais recente afirmação desarrazoada efetuou-a o ministro da Saúde - Ricardo Barros - o qual, questionado sobre o fato de os homens procurarem menos do que as mulheres o auxílio médico, respondeu tratar-se de "uma questão de hábito, de cultura, até porque os homens trabalham mais, são os provedores da maioria das famílias e não acham tempo para se dedicar à saúde preventiva".Em seguida lembrou que é uma cultura que precisa ser modificada.
Ora, como confirmado por pesquisa lastreada em dados quantitativos e devidas a organismo vinculado ao poder federal, sabe-se que as mulheres trabalham mais do que os homens: "As mulheres brasileiras trabalham, em média, quase cinco horas a mais que os homens por semana. São 56,4 horas, somando o tempo gasto no emprego com o de afazeres domésticos." As informações são da Síntese de Indicadores Sociais, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e levam em conta dados de 2013.
Por outro lado, também se mostra generalizada a opinião segundo a qual os homens procuram a assistência médica menos do que o gênero oposto.
Explicar tal fenômeno não parece apresentar dificuldade insuperável. Senão, vejamos.
Os homens, sobretudo os mais maduros, foram educados segundo o falso modelo que os considera fortes, dominadores e capazes de enfrentar destemidamente toda e qualquer limitação à sua superioridade.
Correlatamente, o gênero masculino é levado a compreender-se como o elemento mais responsável pela obtenção de recursos para manter a família; assim, o reconhecimento de uma fraqueza que os leve à procura de ajuda médica poderá representar uma indesejada condição que, possivelmente, venha a impedir a continuidade de sua atividade produtiva voltada à aquisição dos aludidos recursos econômicos. Enfim, qualquer circunstância que os possa afastar do "trabalho" certamente representará um golpe em sua função básica, daí a "fuga" do auxílio médico.
Cumpre lembrar, também, que as mulheres, dados seus problemas vinculados à maternidade, aos ciclos menstruais e a eventuais disfunções ginecológicas, mostram-se mais dispostas a recorrer à ajuda médica do que os homens.
Destarte, não é absurdo admitir que as mulheres são mais equilibradas e menos refratárias do que os homens quando tomamos como referência o apoio propiciado pela medicina.
Enfim, os homens são possuídos por uma subjetividade que os afasta da medicina; já as mulheres são tomadas por uma objetividade que as aproxima do socorro médico.
* Professor Livre-docente aposentado da Universidade de São Paulo.
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