A diplomacia brasileira precisa estar atenta para a campanha que vem sendo feita, nos últimos tempos, pelos países ricos no sentido de exigir das nações emergentes - leia-se Brasil, China e Índia - maiores concessões para que possam reduzir os déficits que acumularam.
Milton Lourenço (*)
A diplomacia brasileira precisa estar atenta para a campanha que vem sendo feita, nos últimos tempos, pelos países ricos no sentido de exigir das nações emergentes - leia-se Brasil, China e Índia - maiores concessões para que possam reduzir os déficits que acumularam. Como se sabe, tanto EUA como a maioria dos países da União Europeia estão comprometidos por imensas dívidas, tanto do governo quanto do setor privado, como resultado de seus próprios erros de política econômica.
Ninguém que advoga o pensamento liberal pode ser contra a abertura do mercado nacional, mas isso tem hora certa para ocorrer. E não pode ser feito só porque o mundo rico passa hoje por dificuldades e precisa desovar sua produção para diminuir seus déficits comerciais e reduzir os níveis do desemprego em seus territórios. Por isso, não faz sentido hoje, diante das circunstâncias, o Brasil reduzir suas tarifas de importação como reivindicam as nações desenvolvidas. Até porque a valorização do real neutralizou ou anulou a proteção que as tarifas asseguravam.
Além disso, se não sofreu solavancos desastrosos em função da crise financeira global eclodida há pouco mais de dois anos, o Brasil não vive uma situação tão confortável assim que lhe permita fazer sacrifícios ou correr maiores riscos para ajudar os países ricos a saírem de suas dificuldades.
Na verdade, os problemas brasileiros não são poucos, ainda que a propaganda oficial tenha se empenhado em mostrar o País como uma ilha de prosperidade em meio a um mundo em convulsão. Basta ver que o Brasil, antes da crise global, acumulava um superávit de US$ 46 bilhões e, hoje, esse valor caiu para US$ 14,5 bilhões. Tudo em função de políticas fiscais e de câmbio de outras nações que acabaram por provocar a valorização do real.
Com a valorização da moeda, as importações dispararam a ponto de o País hoje enfrentar a ameaça de desindustrialização. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), no setor industrial, o superávit de 2006 de US$ 14 bilhões virou em 2010 um déficit de US$ 35,3 bilhões. A sorte é que, também em função da conjuntura externa, as exportações agrícolas passaram de US$ 32 bilhões em 2006 para US$ 50 bilhões em 2010, como resultado da elevação dos preços das commodities. Foi o que permitiu ao País manter o equilíbrio em suas contas externas.
Sem contar que, a rigor, o Brasil já deu uma contribuição significativa para ajudar os EUA a sair do buraco. O País em 2006 exibia no setor industrial um superávit de US$ 7 bilhões em relação aos EUA, que se transformou em déficit de US$ 9 bilhões em 2010. Segundo dados do MDIC, as exportações industriais para os EUA caíram 40%, enquanto as importações cresceram 51%. É isto que precisa ser mostrado, sem que seja necessário criar qualquer contencioso com aquele país.
Além disso, o Brasil precisa estar preparado para um cenário menos favorável no plano internacional, principalmente se os EUA, acossados pelo baixo crescimento, partirem para a adoção de uma política mais dura, como sobretaxar os produtos chineses, o que em contrapartida poderia provocar retaliações protecionistas por parte da China, numa escalada sem precedentes que afetaria todo o comércio global. Portanto, nos dias de hoje, todo cuidado é pouco.
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(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC).
E-mail: [email protected] Site: www.fiorde.com.br
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