O golpe é inaceitável como fica o Brasil?
Laerte Braga
O golpe de estado em Honduras é inaceitável em todos os sentidos. A diplomacia brasileira e o presidente Lula, mais que ninguém, têm que tomar posição dura e clara, inclusive não reconhecimento da barbárie militar, rompendo relações com aquele país até que seja restabelecida a vontade popular.
Não é hora de notas de condenação. É hora de atitudes concretas e efetivas. Não existe conversa de acordo nesses momentos. Existe um presidente eleito seqüestrado por militares encapuzados típico dos golpistas em qualquer lugar do mundo, inclusive aqui no Brasil momentos antes do início de uma consulta popular.
Os fóruns internacionais clássicos, Nações Unidas e OEA Organização dos Estados Americanos têm a obrigação de reagir e impedir que se consuma um atentado ao processo democrático em Honduras.
Está evidente a intervenção do embaixador dos EUA no processo golpista, denunciada desde quarta-feira quando um general, desses com medalhas de bom comportamento e por saber comer de boca fechada e com garfo e faca, se opôs a uma decisão presidencial, com largo apoio popular, insurgindo-se em nome dos interesses de elites nacionais subordinadas, lógico, como as daqui, aos grandes grupos econômicos e bancos no perverso modelo de globalização segundo a ótica exclusiva dos donos do mundo.
A posição do governo brasileiro não pode limitar-se a uma condenação oficial do golpe. O tamanho, o peso, a importância do Brasil o tornam parte ativa do processo político latino-americano e não se pode permitir que essa região volte a ser palco de golpes de estado desfechado por elites e militares quando têm seus interesses contrariados.
Elites, em qualquer lugar do mundo, são apátridas. Regem-se por lucros e escoram-se na hipocrisia demonstrada agora da farsa democrática.
Não têm escrúpulos quando seus negócios são contrariados e quase sempre têm os militares como parceiros. Militares se arrogam o privilégio do patriotismo doentio e fanático que na verdade disfarça características de forças da barbárie a serviço dos grandes grupos.
É recente e Lula tem que se lembrar, a defesa que o ex-comandante militar da Amazônia, general Augusto Heleno fez de empresas estrangeiras que atuam ali, criticando índios, trabalhadores sem terra com o pretexto que estavam sendo manipulados por organizações internacionais. Como se a VALE, que patrocina o general, hoje na reserva, em conferências Brasil afora defendendo o patriotismo e a Amazônia, fosse nacional.
O discurso é igual em qualquer lugar do mundo entre golpistas.
Não há o que contemporizar. É restabelecer a vontade popular e pronto. Isolar Honduras enquanto estiver submetida a militares golpistas e elites pútridas como as nossas . Não há que se falar em congresso e corte suprema, basta tomarmos como exemplo o nosso congresso, a nossa corte suprema. Lembrarmo-nos de Gilmar Mendes. De José Sarney.
E nem há que se falar em gorilas. Os gorilas não merecem. São generais golpistas a soldo de empresas, bancos e latifúndios. Consideram o país, nesse arremedo de patriotismo canalha, como propriedade privada.
A ação diplomática, até para evitar que a moda volte a imperar, são várias as tentativas contra os governos de Chávez e Evo Morales. Se prestarmos atenção a cada proposta ou cada decisão do presidente do Paraguai que contraria essas elites aparece alguma figura a dizer-se estuprada ou forçada a sexo com o presidente. Lula deve lembrar-se da campanha de 1989 contra Collor quando foi vítima da mesma prática de chantagem e mentira.
Nem é hora de acreditar na grande mídia aliás hora nenhuma pode-se acreditar . Os próprios militares golpistas mostram isso quando cortam os sinais de tevê e rádio das emissoras oficiais e mantêm os sinais da emissoras privadas. São cúmplices.
Há um golpe e repressão brutal e violenta como em todos os golpes.
Não é um golpe só contra o povo hondurenho. É contra todos os povos da América Latina. E a despeito do show do presidente dos EUA, com interferência do embaixador norte-americano em Tegucigalpa. Escorados na representação diplomática dos EUA.
O desafio do governo Lula é mostrar agora que essa época de golpes é coisa do passado e tem que ser sepultada.
Não cabe a militares e nem a banqueiros, empresários e latifundiários decidir os destinos de um povo. Cabe ao próprio povo. E era isso que Zelaya pretendia com o referendo. Ouvir o povo sobre as reformas na constituição de Honduras.
E nem cabe analisar o governo de Zelaya. Essa é uma prerrogativa do povo hondurenho.
É isso que deve ser considerado, nada mais. Esse tem que ser o norte da diplomacia brasileira, do governo brasileiro, do contrário num futuro próximo podemos ser novamente vítimas de trogloditas como disse Chávez.
E não vale culpar o presidente do Irã, ou a revolução islâmica e popular naquele país. Os velhos pretextos de golpistas.
Ou é democracia ou não é, como dizia Sobral Pinto. Não existe democracia a brasileira, ou a francesa, democracia não é como Peru.
E quem enche a boca para falar em democracia são eles.
Lula tem o dever de bater de frente com essa corja que mantém intocados privilégios de elites e dos EUA. O chanceler Celso Amorim é um dos maiores da nossa História exatamente por ter a percepção da importância do processo político em curso na América Latina. Tem consciência que o seqüestro do presidente, dos embaixadores de países como a Venezuela, Cuba e Nicarágua por militares/bandidos em Honduras é um crime sem tamanho.
Não se pode deixar esse tipo de criminoso impune de forma alguma. Não importa que Obama seja só um show e que os EUA continuem o mesmo.
O golpe é inaceitável e o Brasil tem o dever, por seu governo, de não aceitar esse tipo de prática dos que se acham donos da vontade popular.
Texto: Laerte Braga
http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=ea96efc03b9a050d895110db8c4af057&cod=4410
Foto: Zelaya e Lula
Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter