A Casa Branca anunciou que o presidente norte-americano Obama viajaria entre 31 de Março 31 e 5 de Abril para uma série de reuniões do G-20, OTAN e UE, em Inglaterra, França, Alemanha e R. Checa. A visita incluirá uma deslocação à Turquia, talvez para o Fórum da Aliança para as Civilizações, 6 e 7 de abril 6 em Istambul.
Esta visita é uma indicação da política externa dos E.U.A. para o Médio Oriente nos próximos quatro anos pois a Turquia serve como intermediária para a diplomacia americana no Médio Oriente. Se após DAVOS 2009, o presidente Peres pediu desculpa ao presidente Erdogan apesar de este o acusar publicamente de crimes contra a humanidade, é porque Israel sabia dos planos Obama-Clinton sobre o papel da Turquia no Médio Oriente.
No início da Guerra Fria, em 1947, Truman criou o " Northern Tier" - Bloco Norte - (Grécia, Turquia, e Irão) como zona intermédia estratégica de contenção do comunismo e para proteger o Médio Oriente rico em petróleo. Agora os E.U.A tentarão criar um Novo Bloco, constituído pela Turquia e Iraque, estados clientes que permitirão que os E.U.A intervenham no equilíbrio regional.
Com a Turquia, os E.U. tentarão alterar a dinâmica no Médio Oriente. Mas o plano apenas funcionará se Israel cooperar e/ou se a situação interna no Iraque não se deteriorar com a saída de forças americanas. A Turquia tem relações boas com Irão, Síria, e a maioria dos estados árabes, e laços cordiais com o Hamas e o Fatah; ao mesmo tempo tem um relacionamento estratégico de longa data com Israel: é o mais útil dos clientes geopolíticos dos E.U.A. na região.
Como satélite dos E.U.A, a Turquia pode:
- Ajudar os E.U.A. a estabilizar o Iraque e incluí-lo como parte do " Novo Bloco";
- Ser um contrapeso na região Trans-Caspiana rica em recursos energéticos, equilibrando a influência da Rússia sobre a Europa nestes recursos
- Ajudar os E.U.A, a confrontar o Irão, com a intervenção da Rússia para trazer o Irão de regresso a uma atitude pró-Ocidental (como fez a Líbia) ou pelo menos, a abandonar planos de armas nucleares e não hostilizar Israel.
- Ajudar os E.U.A. a resolver a questão palestina, ou pelo menos diminuir as hostilidades à medida que se cria o estado palestino
- Ajudar os E.U. a trazer a Síria para uma relação semelhante à da Líbia com os E.U.A e a UE.
A Turquia espera que os seus serviços geopolíticos aos E.U.A. lhe permitam:
1. Erdogan ganha mais apoio do partido popular Islâmico confrontando Israel e suportando o estado da palestina, e satisfaz os partidos seculares e as forças armadas com políticas pro-E.U.A. Ganha mais ajuda militar, ajuda económica dos E.U., e melhores termos de empréstimos para desenvolvimento com o FMI.
2. Recebe apoio dos E.U.A para aderir à UE, adesão desejada pelos capitalistas turcos e a classe média urbana.
3. Ganha investimento, e ajuda militar no meio da crise económica que deixou a lira turca a perder muito mais que o euro e outras moedas europeias.
4. Poderá obter tecnologia nuclear, pois outros países balcânicos estão a mover-se nesse sentido.
5. Ganha, sobretudo, o prestígio de ser o catalisador do apoio aos EUA para o equilíbrio de forças regional, o que convém a secularistas e Islamistas nacionalistas.
Washington quer uma Turquia forte num Novo Bloco Norte, onde o Irão já é anti-americano há 30 anos e onde a Grécia não entra, pois depende da Rússia para energia e armamento e da China em comércio,. A tecnologia nuclear para a Turquia poderá ser uma moeda de troca para negociações dos E.U.A com Moscovo sobre as armas nucleares de Irão, ou o apoio do Irão ao Hizbollah e a política para com Israel.
Serão Obama Clinton mais astutos do que os seus antecessores que geriram em relações russo americanas como se estivessem ainda na Guerra Fria. Conforme os EUA utilizarem a tensão entre a ala mais liberal (ou laissez-faire) de Medvedev e a ala proteccionista de Putin que representa os antigos agentes da KGB que agora são gestores na área da energia, a Rússia será um obstáculo ou um apoio ao plano americano de tornar a Turquia como a plataforma giratória do Novo Bloco que inclui o Iraque. A Rússia estará disposta a negociar conforme Obama fôr flexível nos dossiers: defesa com mísseis, Ucrânia e Geórgia como membros da OTAN, cooperação NATO-Rússia, o respeito para com zonas históricas de influência russa, e antagonismos nos pipelines Russos e Trans-Caspianos.
A posição de Israel vai depender de como Obama-Clinton enfrentarem o poderoso lobby de Israel e se este aceita o novo "Bloco Norte" e que preço está disposto a pagar a Israel.
A administração Bush II serviu bem o complexo militar industrial com uma política externa imprudente, e o síndroma " Dr. Strangelove" dominou a Casa Branca, o Pentágono e os Negócios Estrangeiros, pagando a quem se fazia pagar. Mesmo quando o síndroma "Dr. Strangelove" provou ser ruinoso para os interesses económicos e geopolíticos a longo prazo dos E.U.A., Bush-Cheney não mudaram. Como alguém disse na saída de Bush, "a sombra dos anões só é grande, quando o dia já vai tardio".
É muito cedo para dizer para onde vai a administração Obama na política externa mas é evidente que quer mais diálogo e satisfazer os nacionalistas caseiros com a caça aos terroristas no Afeganistão. A crise económica mundial e as fraquezas relativas dos E.U.A. forçarão Washington a adoptar uma aproximação multilateral e focalizar mais no hemisfério ocidental e no Médio Oriente. O plano do Novo Bloco norte tema a marca de Clinton mas só terá algum sucesso se Rússia, Israel e a UE cooperarem. Entretanto, se funcionar, o plano poderia trazer a estabilidade relativa ao Médio Oriente e permitir que a administração Obama passe a reforçar o relacionamento com a Ásia que é necessária por razões económicas e geopolíticas de equilíbrio com a União Europeia e a Rússia.
Instituto da Democracia Portuguesa
Pólo de Segurança Humana
Lisboa, 11 de Março de 2009
Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter