Com a desistência da oposição, pressionada por uma onda de violência promovida pelo regime que deixou o país à beira de uma guerra civil, o governo do Zimbábue declarou a vitória do ditador Robert Mugabe na eleição presidencial. O segundo turno, que seria disputado na sexta-feira, 27 de junho de 2008, foi cancelado.
Com a desistência da oposição, pressionada por uma onda de violência promovida pelo regime que deixou o país à beira de uma guerra civil, o governo do Zimbábue declarou a vitória do ditador Robert Mugabe na eleição presidencial. O segundo turno, que seria disputado na sexta-feira, 27 de junho de 2008, foi cancelado.
É mais uma tragédia africana, um típica ditadura sustentando uma elite corrupta que se eterniza no poder e empobrece um dos países que já foi um dos celeiros do continente.
Diante do assassinato de pelo menos 85 de seus militantes em uma campanha de intimidação sistemática, o candidato do Movimento pela Mudança Democrática (MDC, do inglês), principal partido de oposição, Morgan Tsvangirai, anunciou no domingo, 22 de junho, que não disputaria o segundo turno.
Ao justificar sua decisão, Tsvangirai, que venceu a eleição no primeiro turno mas não levou, alegou que "as eleições não seriam livres e limpas". O antigo líder sindical fez um apelo às Nações Unidas para que intervenham para restaurar a paz no Zimbábue, que vive um clima de guerra civil diante das táticas ditatoriais empregadas pelo governo para manter o poder a qualquer custo, inclusive assassinando adversários políticos.
Não podemos pedir para as pessoas votarem em nós, se isto significar um risco de vida para elas, declarou o candidato oposicionista. Não vamos participar de um processo eleitoral violento e ilegítimo. Não vamos fazer o jogo de Robert Mugabe.
Durante a campanha, Tsvangirai foi detido várias vezes. O secretário-geral do MDC, Tendai Biti, está sendo processado por corrupção. Comícios da oposição foram proibidos por ameaça à segurança pública.
No sábado, 21 de junho, um juiz do Supremo Tribunal do Zimbábue rejeitou uma decisão da polícia e autorizou a oposição a realizar um comício no domingo. Mas gangues de partidários do governo impediram o acesso dos oposicionistas ao local. Tsvangirai preferiu retirar sua candidatura.
O diretor de comunicação do MDC previra que as milícias leais ao presidente Mugabe impediram comícios anteriores sem que a polícia protegesse o direito de manifestação pública pacífica.
"Eles ficam dizendo que seus ativistas estão sendo espancados pelos nossos soldados. Dizem isso para depois dizer que as eleições não foram livres e limpas, o que é uma grande mentira", declarou Mugabe na sexta-feira, 21 de junho, num comício em Bulawayo, a segunda maior cidade do país.
Depois de perder a eleição no primeiro turno, realizado em 29 de março, Mugabe teria se tornado apenas uma figura decorativa, o eterno herói da independência nacional. O poder de fato estaria sendo exercido por uma junta dominada pelo comandante das Forças Armadas, general Constantine Chiwenga.
A elite que saqueou e empobreceu o país nos seus 28 anos de independência não admite passar o poder, ainda mais para um antigo líder sindical.
Em uma declaração de guerra à oposição, diante do general Chiwenga, o novo homem-forte do Zimbábue, Mugabe declarou em 14 de junho que o MDC jamais governará o país, acrescentando que está disposto a lutar para impedir que a oposição chegue ao poder enquanto estiver vivo. Fez um apelo a seus compatriotas para defender o país, se necessário com a força das armas, para impedir a vitória da oposição.
O presidente advertiu que os "veteranos de guerra", na verdade gangues aliadas ao governo, estão prontos para usar armas.
Mais uma vez, Mugabe chamou a oposição de "aqueles fantoches", acusando-os de serem representantes da minoria branca a serviço dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha. Como bom ditador, acena com o inimigo externo para massacrar o inimigo interno, no caso, a maioria da população, que rejeita seu governo, responsável pelo desemprego de 70% e a maior inflação hoje no mundo, de 150.000% ao ano.
Como o governo suspendeu toda a ajuda estrangeira, as Nações Unidas advertem que 4 milhões de zimbabuanos, cerca de um terço da população, precisam de ajuda alimentar de emergência.
Nelson Franco Jobim
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http://www.guiasaojose.com.br/novo/coluna/index_novo.asp?id=1159
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