O 1º Fórum de Mídia Livre, que ocorre neste final de semana na Universidade Federal do Rio de Janeiro, já se constitui numa importante vitória política dos que lutam contra a ditadura midiática no país.
Na reunião do Grupo de Trabalho Executivo na noite desta segunda-feira, a diretora da faculdade de comunicação da UFRJ, Ivana Bentes, e o jornalista Gustavo Barreto relataram que mais de 800 pessoas já se inscreveram para participar do evento. Apesar da ausência de estrutura e da frágil divulgação, a média diária de adesões é de 60 pessoas, o que deve resultar num fórum com mais de mil inscritos, numa prova cabal da força e representatividade do jovem movimento.
Acertado os últimos detalhes da composição das cinco mesas temáticas e das 13 oficinas, agora surge a discussão sobre os próximos passos do movimento mídia livre. Como contribuição ao debate, apresento algumas propostas iniciais no sentido da continuidade e fortalecimento desta mobilização em defesa da diversidade informativa e dos veículos alternativos. O 1º Fórum não pode se bastar com a sua representatividade e nem com a aprovação de uma carta de princípios. Ele deve prosseguir, adquirindo maior organicidade sem ferir sua pluralidade e interferindo nos debates sobre a democratização dos meios de comunicação no país. Neste sentido, sugiro:
1- Passos organizativos. A partir do evento da UFRJ, os participantes ficariam incumbidos de organizar os fóruns estaduais em todo o país, com o objetivo de reunir as várias experiências de mídia livre e dar maior amplitude ao movimento. Executivas estaduais seriam montadas para, com autonomia e criatividade, organizar estes encontros ainda neste ano. Um segundo fórum nacional, ainda mais amplo e representativo, poderia coincidir com o Fórum Social Mundial, marcado para janeiro em Belém (PA). Com base em consultas aos movimentos de outros países, o 2º Fórum de Mídia Livre poderia ter caráter mundial ou latino-americano. Para aprofundar as reflexões e tirar propostas concretas, as cinco mesas temáticas elegeriam comissões permanentes.
2- Ação política. A partir das contribuições dos presentes na UFRJ, o documento aprovado seria debatido com os movimentos sociais e partidos engajados na luta pela democratização da mídia. Cada estado montaria comitivas para entregá-lo aos representantes dos três poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Também seriam agendadas audiências com o presidente da Republica, os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal e com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Dependendo das condições materiais, a audiência em Brasília seria precedida de uma manifestação em frente ao Palácio do Planalto, como forma de dar maior visibilidade ao movimento. Esta pressão política teria também como objetivo fortalecer a luta pela convocação da Conferencia Nacional das Comunicações, democrática e participativa.
3- Iniciativa legislativa. Uma comissão especial seria criada na UFRJ para, com auxílio jurídico, elaborar uma proposta de legislação visando incentivar a diversidade e a pluralidade informativas no Brasil. Em vários países da Europa já existem leis de incentivo aos veículos alternativos que redistribuem as verbas publicitárias oficiais e adotam outros mecanismos de estímulo à produção independente como isenção de material gráfico, ampliação dos raios de radiodifusão, apoio às rádios comunitárias, distribuição dos veículos alternativos nos órgãos públicos, entre outros. Este projeto de lei, que poderia adotar a forma de uma medida legislativa de iniciativa popular, seria um importante instrumento concreto na luta pelo fortalecimento da mídia livre.
4- Rede colaborativa. É urgente criar maior sinergia entre as milhares de experiências de mídia livre existentes no país. Apesar da qualidade e enorme criatividade, a maioria delas hoje padece de dificuldades e tem seu alcance reduzido o que emperra o seu poder de fogo na luta de idéias travada na sociedade. Isolado, nenhum veículo alternativo terá força para fazer frente à violenta manipulação da ditadura midiática. É possível e necessário criar mecanismos para que todos se fortaleçam mutuamente, numa ação mais solidária de difusão destes meios e de intercâmbio de trabalho. A criação da rede das redes, de um portal da mídia livre, poderia ser o caminho.
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