O Brasil e o mundo

Milton Lourenço (*)

As exportações vêm batendo recorde mês a mês, mesmo com a valorização do real em relação ao dólar, o que levou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) a elevar a projeção para 2007 de US$ 155 bilhões para US$ 157 bilhões. Mas esse aumento tem sido dado principalmente pelo aumento dos preços nos mercados internacionais das commodities – minério de ferro, petróleo, carne e soja –, puxadas pela expansão da economia chinesa.

Isso não é bom sinal, pois indica que os produtos manufaturados – aqueles que reúnem maior valor agregado e elevado conteúdo tecnológico e exigem a criação de maior número de empregos no País – não vêm acompanhando esse crescimento. Pelo contrário.

É claro que isso não ocorre de modo generalizado. Até porque algumas empresas têm acumulado maior poder de competitividade, conquistando novos mercados, valendo-se, inclusive, de estratégias que passam pela diversificação de produtos, o que se tem verificado especialmente nos segmentos de bens de transporte e autopeças.

Além disso, a queda no valor do dólar não afeta de modo geral todas as empresas. Pelo contrário. Muitas têm se aproveitado das circunstâncias para renovar seus equipamentos por meio de importações e até para fazer investimentos no exterior.

Por seu lado, as importações, estimuladas pelo câmbio, vêm igualmente batendo recorde a cada mês, crescendo mais do que as vendas ao exterior. Com isso, o MDIC já foi obrigado a rever para baixo suas expectativas de superávit comercial, calculando-o agora em US$ 40 bilhões, o que representa US$ 6,6 bilhões menos em relação a 2006.

Fazendo-se projeções, já se pode prever para 2008 um forte declínio no superávit, talvez em torno de US$ 34 bilhões, como adianta o Boletim Focus, com base em expectativas de bancos e consultorias. Mas já há analistas que preferem trabalhar com números inferiores. E até prevêem déficit comercial para 2009.

Para que essa expectativa sofra uma reversão, o governo federal precisa também fazer a sua parte. Não só adotando novas medidas dentro da revisão da política industrial para atender a setores prejudicados pelo câmbio, mas também revisando a sua forma de atuação no campo internacional.

Depois de ter contribuído decisivamente, ao lado da Argentina, para o fracasso das negociações para a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e diante da indefinição das negociações do Mercosul com a União Européia, o Itamaraty começa a dar sinais de que pretende rever sua postura, depois de ter constatado também que, em seis anos, poucos resultados práticos obteve na Organização Mundial do Comércio (OMC). Já não era sem tempo.

Essa revisão passaria por uma atuação mais agressiva no mercado internacional, com a possibilidade da assinatura de acordos de livre comércio com economias de peso como Canadá, Suíça, Austrália, Coréia do Sul e Japão, além de outras nações emergentes do Sudeste Asiático. O problema é que o Brasil está atrelado ao Mercosul e não pode se movimentar livremente nessas negociações.

Por seu lado, o Mercosul vem negociando acordos com Índia, África do Sul, Israel e União Européia, mas os obstáculos são muitos e as conversações, quando não estão emperradas, seguem um ritmo demasiado lento, com acusações mútuas de falta de disposição para negociar. Até porque todos querem que o outro lado ceda sempre mais do que está disposto a ceder.

Para piorar, há ainda as divergências internas: no Brasil, por exemplo, o setor industrial teme ser usado como moeda de troca nas negociações com a União Européia visando à liberalização comercial no setor agrícola. Ou seja, a área industrial teme ser prejudicada pela concorrência européia, imaginando que a área agrícola acabaria ficando com a maior parte dos ganhos diante de uma possível abertura da União Européia para os produtos do Mercosul.

Apesar do discurso para o público externo segundo o qual a indústria nacional estaria madura o suficiente para competir num cenário de maior abertura comercial, é provável que o governo brasileiro, à frente do Mercosul, venha a insistir na manutenção por mais alguns anos de medidas protecionistas para alguns setores industriais, o que deve impedir a conclusão com êxito de um acordo mais amplo a nível da OMC. Portanto...

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(*) Milton Lourenço é diretor-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP (www.fiorde.com.br). E-mail: [email protected]

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey