CIA mantém 5 das 6 ‘técnicas’ de seu programa de torturas

TV ABC anunciou que a CIA baniu sufocamento por água - water-boarding - mas vai continuar com espancamento, postura forçada por dias, privação de sono, além da câmara frigorífica. Fora o resto, choque elétrico, mutilação, drogas

A rede de TV ABC dos EUA anunciou que a CIA “baniu” o ‘water-boarding’ – a tortura em que um preso é submetido a sufocamento por água – mas que iria manter as demais cinco “técnicas rudes” de “interrogatório”, que constituem o núcleo do programa de tortura de Bush. A informação veio a publico no noticiário da ABC do dia 14 de setembro, acrescentando ainda que já vigorava “desde o ano passado”, mas “sem anúncio” oficial. (Provavelmente depois da decisão da Suprema Corte dos EUA, após anos de omissão, mandando aplicar as Convenções de Guerra de Genebra e em conseqüência ameaçando torturadores e mandantes de imputação como criminosos de guerra).

As assim chamadas cinco “técnicas rudes acentuadas” do programa de tortura de Bush vão de privação de sono, espancamento e submissão a temperaturas extremas, a posturas forçadas por longas horas para causar intensa dor. O remendo não prevê aos presos o direito de serem visitados pela Cruz Vermelha Internacional. Curiosamente, os estripadores insistem em ocultar o uso das “velhas técnicas” de tortura, que podem ser vistas em dezenas de filmes americanos recentes, em especial o choque elétrico, o uso de drogas e a mutilação. Mas qualquer exame mais minucioso dos casos conhecidos de mortos na tortura - que são só uma parte do total – revela exatamente a combinação dessas “técnicas acentuadas” com os velhos tipos de atrocidades.

Aliás, toda a discussão de Bush dentro dos EUA sobre a tortura destinou-se, precisamente, a fornecer álibis para os torturadores (e para ele, o mandante), com “interpretações” das Convenções de Genebra sobre só haver tortura quando ocorrer “dor equivalente à perda de um órgão ou à morte iminente” ou sobre só ser tortura se “houve a ‘intenção’, por parte do ‘interrogador’, de causar o dano”.

NO MANUAL

O “water-boarding” já constava do conhecido manual da CIA de estripamento, o “KUBARK”, de 1963, que transformou, na análise de um escritor, “a tortura em ciência”. Mas havia sido, após 11 de Setembro, elevado à categoria de “estado-da-arte” em tortura. Despejavam água sobre o rosto do prisioneiro, amarrado e encapuzado em um plano inclinado, com os pés acima do nível da cabeça, e com o rosto embrulhado com celofane, até provocar o reflexo de afogamento. Ao entrevistar o vice de Bush, Richard Cheney, há dois anos, o jornalista Terry Moran, da ABC, apresentou um número de “100 mortos na tortura” da CIA.

Cheney não aceitou o número – não podia confessar diante das câmaras – mas não rebateu com qualquer outra quantidade. “Mais de 100 pessoas sob custódia dos EUA morreram – 26 delas agora sendo investigadas como homicídios criminosos – pessoas espancadas até a morte, sufocadas até a morte, mortas de hipotermia sob custódia dos EUA”, registrou Moran.

Artigo de 2005 da ABC News já havia detalhado essas “Técnicas Acentuadas de Interrogatório” da CIA. 1 – “‘Agarrar a Atenção’: o torturador agarra o preso à força pela camisa e o sacode”; 2 – “‘Tapa de Atenção’: tapa (na cara do preso) com o objetivo de causar dor e medo”; 3 - “‘Tapa no Estômago’: um duro tapa com a mão aberta no estômago.

O objetivo é causar dor, mas não ferimento interno. Médicos consultados aconselharam a não usar soco, que poderia causar um dano interno permanente”; 4 – “‘Posturas forçadas por longo tempo’: essa técnica é descrita como uma das mais efetivas. Os prisioneiros são forçados a ficar de pé por mais de 40 horas, algemados e com os pés imobilizados por grilhões atados ao chão. Exaustão e privação de sono são efetivas em produzir confissões”; 5 – “‘Cela Fria’: o prisioneiro é jogado nu numa cela gelada. De tempo em tempo, o prisioneiro é molhado com água gelada”. (A sexta, o “water-boarding”, já foi exposta antes). Na realidade, parte dessas “técnicas”, como mostrado em Abu Graib, integra a etapa de “amaciamento” do prisioneiro, antes de ser propriamente estripado para falar. Quem vai acreditar que um guerrilheiro vai ser submetido por levar um tapa com a mão aberta?

PRISÕES SECRETAS

Quanto ao efetivo cumprimento do banimento do “water-boarding”, só os mais crédulos deverão acreditar nas palavras de Bush. As “novas normas”, supostamente mais humanitárias, da CIA, continuam proibindo até a visita do preso pela Cruz Vermelha Internacional. E para que a CIA mantém prisões secretas, nos EUA e nos países satélites, e os “vôos de rendição”, isto é, de seqüestro, se não for exatamente para não respeitar lei alguma?

Durante as discussões que ocorreram no Senado dos EUA sobre a tortura, após o escândalo de Abu Graib, o senador democrata Edward Kennedy lembrou que logo após a II Guerra Mundial (1947) os EUA condenaram a “15 anos de trabalhos forçados” o oficial japonês Yukio Asano, por haver torturado um soldado americano com uma modalidade do “water-boarding”.

Em suma, há mais de meio século que está caracterizado, pelos próprios EUA, que o “water-boarding” é tortura e crime de guerra.

O principal objetivo do programa de tortura de Bush é chantagear o povo norte-americano, com a ameaça permanente do “terror”, e satisfazer certas taras por meio da destruição de outros seres humanos. Mas a máquina de tortura montada pela CIA no Iraque fracassou em impedir a Resistência de encurralar o invasor. Até torturadores do porte de Bob Bauer, ex-chefe de atentados da CIA no Iraque nos anos 90, considera que o ‘water-boarding’ só serve para arrancar da vítima, na maioria das vezes, exatamente aquilo que os interro-gadores querem ouvir.

A “confissão” de um dos que mais foi, reconhecidamente, submetido à tortura de afogamento, Khalid Mohamed, é exemplar. Confessou ser o “mastermind” dos atentados da Al Qaeda, o culpado por tudo, “de A a Z”, esta, aliás, uma típica expressão árabe. Até a Biblioteca de Los Angeles estava na mira dele, segundo a CIA. Confessou também a morte do jornalista Daniel Pearls, no Paquistão, cujo assassino já está, faz tempo, atrás das grades. Mais um ou dois “tratamentos” com “water-boarding”, e Kha-lid não conseguiria ocultar o mais grave: que é o “mastermind” do efeito estufa.

Fonte: www.horadopovo.com.br

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey