Palestina bicéfala: O resultado da diplomacia ocidental

Um ano e meio de práticas imorais e anti-democráticas pela comunidade internacional criou o pior pesadelo para aqueles que prosseguiam a paz no Médio Oriente: uma Autoridade Palestiniana dividida em dois, geográfica e ideologicamente. Para aqueles que criticavam a Rússia por seguir uma política de diálogo com o governo democraticamente eleito da Hamas, e que trabalharam contra este último, parabéns!

A Federação Russa foi o primeiro membro do Quarteto para o Oriente Médio (EUA, Federação Russa, ONU, União Europeia) a empenhar-se num processo de diálogo com Hamas ( Harakat al-Muqawamah al-Islamiyyah , ou Movimento de Resistência Islâmica) depois desta formação política ter sido democraticamente eleito para formar governo em Janeiro de 2006. Ao contrário e em contraste, a maioria dos outros membros da comunidade internacional, enquanto pregava a democracia, decidiu boicotar o Hamas, restringir ajuda humanitária e virar as costas, criando todas as condições para uma crise.

As causas

Houve duas causas desta crise: a externa, referida acima, que construiu os alicerces para isolar um governo democraticamente eleito, que por sua vez teria duas escolhas: obedecer a vontade do seu povo (que o elegeu) ou implementar o poder através de quaisquer meios disponíveis. Além disso, o boicote imposto pela comunidade internacional empurrou a sociedade para o ponto de ruptura, em que pessoas que tinham pertencido a uma “classe média” próspera ficaram reduzidas à linha de pobreza, recebendo cerca de 100 USD por mês. Não é por isso que as pessoas viraram contra Hamas, mas sim, contra a comunidade internacional, que conseguiu uma radicalização das posições.

A outra causa foi interna: em Gaza, a facção leal a Fatah ( Harakat al-Tahrir al-Watani al-Filastini, sigla lida ao contrário, movimento do ex-líder Yasser Arafat, ou "Movimento de Libertação Nacional da Palestina") nunca deixou o Hamas implementar o seu poder e governar. O líder de Fatah em Gaza, Mohammed Dahlan, utilizou as forças de segurança que controlou para bloquear quaisquer iniciativas do novo governo democraticamente eleito, incluindo o aprisionamento ilegal e tortura dos seus membros. Dahlan é visto em Gaza como sinónimo de corrupção e como elemento que trabalha mais pelos interesses pessoais e internacionais do que palestinianos.

O resultado

O resultado é uma Autoridade Palestiniana dividida em dois: Hamas controla a Faixa de Gaza (1.482.000 habitantes) e Fatah, apoiado pela sua ala militar, Brigada dos Mártires de Al-Aqsa, luta para controlar a Cis-Jordânia (2.055.000 habitantes mais 455.000 ocupantes ilegais israelitas). Em Gaza, 113 pessoas perderam a vida, Hamas efectivamente ganhou controlo dos organismos de poder que ganhou na eleição legislativa há um ano e meio, e dezenas de milhares de apoiantes da Fatah ficaram sem representação.

Foi decretado um Estado de Emergência pelo Presidente, Mahmoud Abbas, que substituiu o governo de Hamas, liderado pelo Primeiro-Ministro Ismail Haniyeh, com um governo interino sob o novo PM, Salam Fayyad (Doutorado na Economia na Universidade de Téxas, depois trabalhou no FMI e foi Ministro das Finanças de vários governos palestinianos).

As consequências

O Quarteto agiu da única maneira possível: apresentar uma posição de unidade, apoiando a figura máxima na Autoridade Palestiniana, o Presidente, exprimindo seu “apoio claro”; Hamas rotulou a demissão do Governo “um golpe de estado…contra todas as leis”, enquanto o PM Haniyeh prometeu continuar a governar e “trabalhar no sentido da criação de um Estado Palestiniano baseado nas fronteiras em existência em 1967”.

O impasse que resultou somente beneficiou aqueles que trabalhavam contra o estabelecimento de um processo de paz definitivo no Médio Oriente e vai contra todas as esperanças do povo palestiniano – alguns dos quais apoiam Hamas, outros Fatah, outros nenhuma facção, a maioria querem viver em paz com Israel e todos querem continuar com as suas vidas num clima de normalidade e estabilidade política.

Com a Autoridade Palestiniana tão criticamente dividida, uma conclusão imediata poderia tender a favor de Israel. Contudo, uma análise mais profunda apontaria para uma tragédia para todos os envolvidos porque sem um único interlocutor legítimo, como pode o Estado de Israel implementar um processo sério de paz definitivo, se é isso que Tel Aviv, e seu mestre, o Lobby Judaico nos Estados Unidos da América, alguma vez pretendiam?

Mais uma vez, o unilateralismo prosseguido pela escola ocidental da diplomacia internacional falhou rotundamente. Mais uma vez, a abordagem que favorecia um processo de diálogo, implementado por Moscovo, tinha razão.

Timothy BANCROFT-HINCHEY

PRAVDA.Ru

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey