Mensagem do Ano Novo

Na passagem de 2006 para 2007, é fundamental aproveitarmos deste momento vitorioso para as forças que zelam pelo bem-estar dos cidadãos do mundo, que defendem um estado de previdência que protege e que dá oportunidade aos oprimidos, e darmos continuidade aos movimentos que em 2006 começaram a constituir uma base sólida de uma Nova Ordem Mundial.

Entrámos no novo milénio cheios de esperança, iluminados e encantados pelo momento especial que foi o início do terceiro milénio após o nascimento de Jesus Cristo. Cristãos ou não, todos nós concordámos com a iniciativa dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, prometendo reduzir a pobreza endémica até 2015.

O que se seguiu foi lamentável. Primeiro o bin Laden, aquele monstro criado pelos Estados Unidos da América, depois o próprio Presidente desse país, fizeram entrar o Mundo num período das trevas. Seguiram poucos mas longos anos de campos de concentração, de tortura, de depravados actos sexuais, de chacina de seres humanos, da destruição de infra-estruturas civis com equipamento militar, a quebra de todas as leis no livro, a quebra da Carta da ONU, das Convenções de Genebra e uma política unilateral e egoísta, um total desrespeito pela condição humana, seguido por Washington, que pensava que tinha o direito de defender suas fronteiras e suas fortunas com políticas assassinas no outro lado do globo.

No entanto, mais do que nunca, o ano de 2006 demonstrou claramente que estas políticas nunca podem vencer e mostrou claramente a quem as defende, que a única saída das suas práticas malevolentes é a derrota e a humilhação.

América latina já não é quintal de Washington

América latina seguiu em várias eleições o rumo centro/esquerda, soletrando o fim de regimes de direita. A grande excepção foi a Colômbia, onde o regime fascista de Álvaro Uribe rege um país onde 71 sindicalistas foram assassinados até ao fim de Novembro. Washington já não pode dizer que a América Latina é o seu quintal. Morreu Pinochet, morreu Operação Condor e morreram os tempos de fascismo em que regimes pró-Washington seguiam políticas assassinas que oprimiram seus povos. Os recursos deste continente pertencem única e exclusivamente aos povos da América latina, não a Washington.

Fidel Castro, Homem do Ano

Fidel Castro sai de 2006 como Homem do Ano, senão Homem do Século, porque a sua visão, (enquanto lutava sozinho, solitário e isolado às vezes, e noutras vezes contra extrema dificuldade devido a um bloqueio económico desumano e cruel, que tenta estrangular seu modelo) estava certa: ele pode ver afinal que já não está isolado, já não está sozinho e já não está solitário, pois os povos do resto da América Latina se afirmam, do norte ao sul, de leste a oeste deste continente. Sabem o que querem e exigem da classe política eleito o cumprimento dos deveres.

Os jornais do mundo começam a noticiar o muito que a Cuba faz em termos de apoio humanitário para países em desenvolvimento, sem receber um tostão em troca e o modelo cubano se cinge como um exemplo em muitas áreas de desenvolvimento social. Fidel Castro por isso pode passar este período em descanso, feliz que o que fez foi um sucesso brilhante não só para seu país, cuja independência garantiu, mas eventualmente para todo o continente da América Latina e para o mundo.

Soluções africanas para problemas africanos

África mostrou de viva voz que a União Africana pode resolver os problemas do continente com o apoio mas não com a intrusão da comunidade internacional. O seu contingente militar e âmbito na esfera de acção no conflito em Darfur foi realçado em parceria com a ONU e juntos, fizeram o maior campanha eleitoral de sempre na RD Congo, onde a eleição de Joseph Kabila foi uma grande vitória para aqueles que seguem o rumo de diplomacia e paz e constitui uma bela lição para a resolução de outras crises. A realçar - a enorme crise não só em Darfur mas também no Chade e na República Centro-Africana. A realçar também, as causas destes conflitos, nomeadamente más práticas coloniais que favoreceram os interesses de alguns grupos sobre outros e que criaram desequilíbrios. No entanto, há um processo de diálogo entre o Governo de Cartume e os rebeldes, há ordem em grande parte do Chade e há esperanças que na RC Africa, haja francos progressos durante 2007.

Iraque, o cemitério do neo-conservadorismo

Para os neo-conservadores, neo-colonizadores, neo-imperialistas, os seguidores do modelo de unilateralismo na sua política externa, o Iraque provou ser o seu cemitério no ano de 2006. Provou claramente que não se pode vencer um povo pela força das armas, provou que o indivíduo tem poderes contra o estado através de inteligência e poderes de organização. O poderio militar norte-americano está reduzido a bases militares onde seus soldados se escondem tremendo de medo, ou em comboios militares enormes na periferia das cidades, aterrorizados demais para entrar em contacto com o povo que vieram “salvar”.

Começaram por perder a paz e quem diria que iriam perder a guerra? Mas perdem-na. Agora com cada dia que passa, há viragens de 180 graus nas políticas de Washington. Primeiro insultaram o Irão e a Síria, dizendo que eram estados terroristas e que não iriam negociar com eles, agora dizem que têm de ser parte da solução. Bush disse que a suaequipa iria ficar até ao fim, e semanas depois cai o Rumsfeld. Disseram que iriam ficar no Iraque até quando for preciso, agora dizem que no final de 2007, começa a retirada. Disseram que tinham tropas suficientes para “fazer o trabalho” e agora querem mobilizar milhares mais. Coitados dos rapazes, coitados das suas famílias, coitados dos iraquianos.

Enviar mais dez ou vinte mil soldados americanos justifica o aumento da violência pela Resistência e quem sofre são os civis iraquianos. Que mal fizerem eles para merecerem George Bush?

Mas ao terminar este artigo, vemos lembrar que as vítimas nesse horror são os civis iraquianos, que nem podem sair de casa sem temerem pelas suas vidas, as mulheres perderam todos os seus direitos ganhos com Saddam, os Curdos lutam para retirar a Lei Sharia da Constituição feita pelo “Governo” fantoche de Washington. Longe de criar um estado secular, que era o Iraque Ba’atista, deixaram criar um estado de Islamistas políticos, um estado muito mais radical e onde as pessoas serão mais oprimidas do que antes desta triste aventura.

Esperemos que em 2007, haverá mais diálogo, mais debate e mais discussão, pois são estes os preceitos-base de democracia. Se a crise no Médio Oriente é a mais grave que existe actualmente, então se os EUA retirarem as tropas, não haverá razão pela continuação daquele bando de assassinos, a Resistência. E se Israel sair dos territórios que não lhe pertence, não haverá mais razões para actos terroristas da parte de extremistas.

Desejo um Bom Ano Novo para todos os nossos colaboradores, todos os nossos parceiros de informação, todos os nossos leitores e amigos, com votos para que este Novo Ano seja muito especial em todos os sentidos e que vos traga tudo que lhes dê verdadeira felicidade e conforto.

Um grande abraço de amizade

Timothy BANCROFT-HINCHEY

PRAVDA.Ru

Versão portuguesa

Director e Chefe de Redacção

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey