Historicamente, a Libertadores é um torneio mais equilibrado do que muita gente pensa. Ainda que Brasil e Argentina dominem os títulos nas últimas duas décadas, as fases classificatórias (e até mesmo o mata-mata) sempre é cheio de surpresas. A fase de grupos de 2008, não foi tão diferente, só que, na hora H, os favoritos prevaleceram.
Não dá para negar o equilíbrio de uma competição em que todos os líderes de grupos ficaram entre 11 e 13 pontos (ou seja, não houve nenhum time que sobrou, com 15, 16 ou 18 pontos, algo comum na Liga dos Campeões). No entanto, também é sintomático que, dos 16 sobreviventes, 10 sejam brasileiros ou argentinos.
Isso projeta um mata-mata concentrado nas duas potências sul-americanas. Enquanto ela não ocorre, vamos dar uma olhada no que já aconceceu.
Grupo 1
O primeiro turno garantiu o Cruzeiro. Com duas vitórias em casa e um empate fora contra o principal concorrente, os mineiros ficaram em condição de administrar a vantagem nas três últimas partidas. Os destaques foram Ramires e Marcelo Moreno (esse último, artilheiro da Libertadores até o momento).
A briga ficou mesmo entre Caracas e San Lorenzo. Um duelo igual, mas que teve uma diferença: os argentinos ganharam do Real Potosí na Bolívia. O jogo foi o marco para a recuperação depois de um início de campanha bastante fraco. Do mesmo modo, esses três pontos acabaram fazendo a diferença entre as duas equipes. Aliás, uma derrota do Ciclón naquela partida daria a classificação aos bolivianos, que foram peso morto durante a competição.
Grupo 2
Chave equilibrada, como se imaginava. Ainda assim, os argentinos Estudiantes e Lanús confirmaram o favoritismo. Os Granate são os únicos invictos da Libertadores e mostraram muita consistência. No entanto, esperava-se mais do atual campeão argentino. Empatar as duas partidas contra o Deportivo Cuenca e desperdiçar uma vitória em casa (com 2 a 0 a favor e, depois, com um homem a mais) contra o Estudiantes é preocupante.
Mais convincente foi o time de La Plata. Com Verón liderando em campo e muita disposição para se entregar nos jogos em casa, os pinchas se recuperaram após um início ruim e deixaram boa impressão para o mata-mata.
Cuenca e Danubio ficaram à margem. As duas equipes tinham condições apenas de criar dificuldades e se manter na luta por um bom tempo. Isso foi confirmado. O que poderia ser dito é que esperava-se mais dos equatorianos quando jogassem na altitude e os uruguaios sofreram demais pelo desmanche ocorrido no ano passado.
Grupo 3
Muito equilíbrio entre Atlas, Boca Juniors e Colo-Colo. Os mexicanos têm um time muito equilibrado e consistente. O Boca prima pelo modo como sabe usar o peso de sua tradição no jogo, sobretudo em La Bombonera. Os chilenos são rápidos e surpreendentes, apesar da defesa pouco confiável.
Pela falta de concentração fora de casa, o Boca Juniors esteve muito perto de ser eliminado. Mas, aí, os nervos no lugar fizeram diferença. Não para a vitória decisiva sobre o Unión Maracaibo, mas pelo empate do Colo-Colo com o Atlas em Santiago. Depois de sofrer o gol de empate, o Cacique morreu psicologicamente. Tenso ao extremo, não conseguiu articular jogadas e desperdiçou a oportunidade de eliminar os xeneizes.
Grupo 4
Na hora de a qualidade técnica decidir, Flamengo e Nacional se impuseram. As surpresas do turno, com Cienciano batendo os bolsos e Coronel Bolognesi segurando o empate com os rubro-negros, mantiveram o equilíbrio da classificação. Até houve uma possibilidade de zebra caso o Cienciano vencesse o Fla em Cuzco, mas, com um futebol focado nas limitações criadas pela altitude, o time carioca mostrou que era tecnicamente superior.
De qualquer modo, as dificuldades iniciais foram interessantes para todos. Os peruanos recuperaram um pouco a auto-estima, enquanto que Fla e Nacional puderam se aclimatar melhor à competição.
Grupo 5
Nenhum empate. O grupo caminhou de três em três pontos e teve até algum equilíbrio, sobretudo pela má fase do América-MEX. O River Plate estreou muito mal, com derrota para o Deportivo San Martín. Depois disso, o time cresceu e só deixou de ganhar o duelo contra o América no estádio Azteca. Uma derrota compreensível em uma campanha crescente.
Quem embolou a chave foi o América. Com um futebol oscilante, seguindo a tendência de quem é lanterna em seu campeonato nacional, os mexicanos mantiveram San Martín e Universidad Católica vivos até a última rodada. O time chileno até teve alguns méritos para isso, mas a equipe peruana deve se dar por satisfeita por sair da competição com uma campanha digna.
Grupo 6
Tecnicamente, o melhor time é o Chivas, que foi eliminado. Tudo porque, em uma chave equilibrada, perder em casa num confronto direto pode ser fatal. Como foi para o Rebaño cair diante do Cúcuta em Guadalajara. Um jogo em que os tapatíos dominaram desde o início, mas perderam a concentração por acharem que venceriam na hora que quisessem e acabaram perdendo.
Sorte dos colombianos e do Santos. O Cúcuta teve uma defesa muito forte e uma dupla ofensiva perigosíssima, com Torres na armação e Urbano na finalização de jogadas. O modo como os rubro-negros cadenciam a partida para quebrar o ritmo doadversário deve ser respeitado.
Os paulistas também têm méritos. O time ainda tem falhas, mas conta com alguns jogadores acima da média Kleber, Kleber Pereira, Fábio Costa e Molina e isso tem bastado para decidir os jogos em casa. Além disso, a ascensão no primeiro semestre dá bons sinais à torcida, ainda que não se possa colocar o Peixe entre os favoritos ao título.
Grupo 7
Tecnicamente, foi o grupo mais fraco da Libertadores. O São Paulo jogou mal em todas as partidas, com um futebol travado, que não se soltava. Os setores tinham dificuldade para se comunicar, a defesa cometeu falhas com freqüência preocupante e o ataque ficou muito dependente de Adriano. Menos mal para o Tricolor que os adversários eram fracos e que, apesar dos problemas, Adriano e Jorge Wagner são jogadores acima da média e resolveram nos momentos importantes. Se quiserem o quarto título, precisa melhorar.
Nos três times restantes, Atlético Nacional e Audax mostraram alguma coisa. O time colombiano tem algum equilíbrio e é ousado. O Audax tem bons jogadores, mas, coletivamente, é inconsistente. O que ficou evidente nas duas derrotas para o Luqueño, que só teve como virtude a garra. No balanço geral, a classificação do Nacional foi merecida, ainda que nenhuma das equipes dêem a sensação de que teriam vida longa nos mata-mata.
Grupo 8
Grupo mais sem-graça da Libertadores. LDU e Fluminense dispararam na frente e apenas administraram a vantagem no segundo turno. Os equatorianos primaram pela experiência e por saber usar a vantagem da altitude nos jogos em Quito, enquanto que os cariocas tiveram como ponto forte a defesa (excetuando o brilhante 6 a 0 sobre o Arsenal, o elogiado ataque tricolor teve média de um gol por jogo, média baixa que só não comprometeu porque a defesa foi a melhor de toda a competição).
Sem tirar os méritos de blancos e tricolores, dá para dizer que Libertad e Arsenal decepcionaram. Duas equipes com bom retrospecto recente em competições internacionais, paraguaios e argentinos se entregaram com muita facilidade. Perderam jogos em casa e não tiveram consistência como visitante.
Fonte Trivela Por Ubiratam Leal
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