A violência que deixou o Rio mais triste nesta quinta-feira quase fez do futebol-arte uma vítima indireta. Como revelou o próprio Zico, alguns amigos chegaram a sugerir o cancelamento do Jogo das Estrelas, tradicional amistoso beneficente que ele realiza todo fim de ano. Mas o Galinho preferiu apostar na paz, e quem ganhou foi o público que lotou o CFZ e viu craques de hoje e de ontem em ação. Aliás, em boa ação: seis toneladas de alimentos foram arrecadadas para entidades de assistência social.
"É muito chato isso (a violência), a gente procura trazer alegria e paz para as pessoas. Muita gente me ligou dizendo que era uma temeridade fazer essa festa com tudo isso acontecendo, mas seria uma desilusão para as pessoas desmarcar o jogo", declarou o ex-camisa 10 do Flamengo.
A onda de ataques criminosos que tomou conta do Rio durante o dia impediu que o astro Ronaldo participasse da festa. Mesmo sabendo que não poderia jogar, por causa de dores no ombro, o atacante tinha prometido ir ao CFZ, só que desistiu e não escondeu o motivo: "Infelizmente, ele ficou com um pouco de medo da violência que está acontecendo no Rio. Ele está um pouco assustado, queria vir para dar um abraço no meu pai e nos outros amigos dele, mas preferiu ficar em casa com a família. A gente tem que entender, sendo quem ele é", contou Júnior, um dos filhos de Zico e organizador do Jogo das Estrelas.
Para compensar a ausência de Ronaldo, um convidado de última hora: o holandês Seedorf, do Milan, soube do jogo à tarde, correu a um shopping do Rio para comprar chuteiras e acabou roubando a cena à noite, sendo escolhido o melhor em campo. Seedorf, que é casado com uma brasileira e estava passando a folga de fim de ano na cidade, não se cansou de elogiar o dono da festa e seus colegas de geração. "Eu tinha dez anos, vendo eles na Copa do Mundo. É um sonho jogar com Zico, uma coisa muito bonita, pela beneficência também", disse o holandês, em bom português e esbanjando simpatia.
Seedorf fez dois gols na vitória do time vermelho, de Zico, sobre a equipe branca, por 8 a 5. Amoroso (dois), Zinho (dois), Bebeto e Leonardo Moura completaram o placar. Vágner Love marcou quatro vezes para a equipe branca e Marcelinho Carioca fez o outro.
Entre os veteranos, Zico, de 53 anos, foi o único a ficar em campo até o fim. No primeiro tempo, também atuaram Júnior, no time vermelho, além de Adílio, Andrade, Roberto Dinamite, Cláudio Adão e Júlio César Uri Gheller, todos na equipe branca. Da turma dos anos 80 e 90, estiveram em campo Bebeto, Zinho, Leonardo, Zé Carlos, Djalminha e Júnior Baiano, no vermelho, e Marcelinho Carioca, Mauro Galvão, Acácio, Wellerson, Alexandre Torres e Gonçalves, no branco.
O destaque entre os jogadores em atividade foi o atacante Vágner Love, do CSKA, de Moscou. Também jogaram Leonardo Moura, Gabriel, Fabiano Eller, Roger, Amoroso, Lenny e Emerson. O cabeça-de-área do Real Madrid jogou no time de Zico e foi muito elogiado pelo Galinho. "Fizemos uma grande amizade na Copa de 98 (Zico era coordenador-técnico da seleção). Ele era um garoto e chegou em cima da hora, com a responsabilidade de substituir o Romário, um grande artilheiro. Foi difícil, e eu procurei dar apoio a ele. Daí surgiu essa grande amizade", afirmou o ex-craque.
Por causa da chuva que caiu na Região Sudeste, Robinho, Carlos Alberto, Deco e Rubens Júnior não puderam disputar o Jogo das Estrelas. Os quatro iriam se deslocar de helicóptero do litoral paulista para o Rio, mas o mau tempo não permitiu o vôo.
Segundo "O Globo"
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