A Câmara Municipal de Palmela aprovou, por unanimidade, na reunião pública de 10 de janeiro, uma Moção que defende a liberdade da jovem ativista palestina Ahed Tamimi, detida em dezembro e manifesta a solidariedade do Município para com todos os menores palestinos presos.
Distritonline11 janeiro 2018
Segue, abaixo, o texto integral da moção:
«Ahed Tamimi, de 16 anos, conhecida ativista palestina contra a ocupação, foi detida na madrugada do dia 19 de dezembro por militares e polícias de fronteira de Israel que assaltaram a sua casa, na aldeia de Nabi Saleh, na Margem Ocidental ocupada. O pretexto da sua detenção é um vídeo em que se vê Ahed, com a sua a prima Nur, enfrentando com pontapés e bofetadas soldados israelitas armados, que levou o ministro da Educação de Israel, Naftali Bennett, a defender que as jovens «deveriam acabar os seus dias na prisão». O vídeo foi divulgado em Israel numa versão editada. Na versão integral, vê-se que Ahed começou por empurrar os soldados e, só depois de esbofeteada por um deles, respondeu com bofetadas e pontapés.
No mesmo dia, a mãe de Ahed, Nariman, foi presa quando ia visitar a filha à esquadra. Também a prima Nur acabou por ser detida no dia seguinte. As suas detenções têm sido sucessivamente prorrogadas por um tribunal militar, permanecendo as três encarceradas.
O ato das jovens da família Tamimi não foi gratuito. Pouco antes da cena registada no vídeo, no dia 15 de dezembro, um familiar, Mohammed Tamimi, de 15 anos, tinha sido atingido na cabeça por uma bala de borracha, disparada por um soldado israelita, tendo sido levado para o hospital em perigo de vida. As duas jovens procuravam impedir que os soldados invadissem o pátio da sua casa para atacar outros jovens da aldeia que protestavam contra a recente decisão do presidente dos Estados Unidos de reconhecer Jerusalém como capital de Israel.
Ahed Tamimi é uma jovem cuja vida está profundamente ligada à resistência contra a colonização israelita. Da sua aldeia, Nabi Saleh, foram roubados dezenas de hectares de terras e uma nascente de água em proveito do vizinho colonato israelita de Halamish. Desde então, os protestos pacíficos dos habitantes da aldeia são reprimidos e já se registaram três mortos e centenas de feridos, mais de metade da população. Ahed Tamimi acompanha, desde os 9 anos, esses protestos, em que o seu pai, Bassem, desempenhou um papel destacado. Aos 13 anos, Ahed tornou-se conhecida por uma série de fotos em que, juntamente com a mãe e tia, tentava desesperadamente salvar o seu irmão ferido, Mohammad, então com 11 anos, de ser preso pelas forças israelitas.
A vida de Ahed Tamimi é também um testemunho vivo da violência da repressão israelita. Aos 12 anos, um primo de sua mãe, Mustafa Tamimi, foi morto diante dos seus olhos por um disparo de uma granada de gás. Um ano depois, viu o seu tio Rashadi ser morto a tiro pelo exército israelita. E a 15 de dezembro, viu Mohammed, quase da sua idade, atingido na cara por uma bala revestida de borracha que lhe penetrou no crânio. O seu pai, Bassem, foi preso pelas autoridades israelitas mais de uma dezena de vezes, tendo passado mais de três anos em detenção administrativa, sem julgamento nem culpa formada; foi reconhecido pela União Europeia como "defensor dos direitos humanos" e designado prisioneiro de consciência pela Amnistia Internacional. A mãe, Nariman, enfrenta a sua sexta detenção. A sua casa já foi assaltada pelas forças israelitas mais de uma centena e meia de vezes.
Além de ver sucessivamente prolongada a sua detenção, Ahed tem sido transferida entre várias prisões de Israel, em violação do direito internacional, que proíbe a transferência de palestinos do território ocupado para o território israelita. Mas Ahed Tamimi junta-se aos mais de 300 menores palestinos atualmente presos em prisões de Israel. Segundo o Addameer, grupo de defesa dos presos palestinos, mais de 12 mil menores palestinos foram detidos, desde 2000, e cerca de 700 menores palestinos da Margem Ocidental ocupada são processados todos os anos por tribunais militares e detidos e interrogados pelo exército israelita. A maioria dos menores são submetidos a maus tratos durante os interrogatórios para lhes extrair confissões forçadas, sendo muitas vezes obrigados a assinar documentos escritos em hebraico, cuja língua não compreendem. Alguns dos jovens palestinos presos, durante os protestos das últimas semanas e libertados recentemente, como Fawzi al-Juneidi, de 16 anos - cuja fotografia, vendado e rodeado por mais de vinte soldados, correu mundo - apresentam sinais evidentes de tortura e maus tratos.
A organização Defence for Children International - Palestine denunciou que, só em 2017, onze menores estiveram sujeitos a prisão solitária e que em 520 casos de crianças palestinas detidas, entre 2012 e 2016, 72% enfrentaram violência física e 66% foram vítimas de insultos e humilhações.
Bem conhecida pela sua coragem na resistência à ocupação, Ahed Tamimi é desde há muito alvo de insultos e ameaças e, por isso, corre na prisão riscos contra a sua integridade física e psicológica. Na sequência da sua prisão, um destacado jornalista de Israel, Ben Caspit, chegou mesmo a defender que as raparigas palestinas presas deveriam ser sujeitas a alguma forma de punição violenta, «no escuro, sem testemunhas nem câmaras».
Reunida em sessão pública, a 10 de janeiro de 2018, a Câmara Municipal de Palmela delibera:
Fonte: CM Palmela
Foto
CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=566049
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