Andando em má companhia

Andando em má companhia

Jolivaldo Freitas

Tem gente que atrai e gosta de andar em má companhia, e não se sabe se é por destino ou causa, sendo o que acontece com a família do presidente Jair Bolsonaro e com o próprio. Então fica a dúvida se as pessoas que andam com quem não devem não seriam também más companhias, mas nem é bom ficar matutando sobre o assunto. Mas, por menos que queiramos juntar as pontas da linha, fica uma sensação ruim, como se uma névoa pairasse sobre a cabeça de quem se dispõe a estar na roda viva.

Veja que, enquanto era um deputado do baixo clero na Câmara dos Deputados, em Brasília, ninguém procurou esmiuçar a vida de Bolsonaro e dos seus filhos Zeros. Estava quieto no seu canto, falando umas besteiras de vez em quando, procurando querelas com os colegas, dizendo umas bobagens para as mulheres, para as deputadas, para o diabo, ninguém estava dando trela. No momento em que se arvorou a ser presidente ele entrou na ribalta.

E, como até agora não mostrou postura de estadista (o Brasil tem sido vitimado por falta eterna de estadistas), sua vida tem sido devassada. Como tem se comportado como um presidente de baixo clero na ordem mundial, sua vida vira um circo de horrores e daí qualquer ato falho é localizado é amplificado, pois é da natureza dos poderosos viraram saco de pancadas numa democracia, ou virarem porrete dando pancadas numa ditadura qualquer.

Mas, o problema é que em menos de três meses de governo a família Bolsonaro, como um para-raios tem recebido péssimas descargas. Tudo que é de ruim gravita em torno dos Bolsonaros - o que tem gerado insatisfação entre os bolsominions e alegria entre a claudicante e envergonhada ou desavergonhada esquerda. Se tem laranjal lá está um filho de Jair Bolsonaro metido em suas raízes. Se tem malfeito com servidor público do Rio de Janeiro, olha lá um filhote de Bolsonaro no meio. Alguém cita problemas com milícias, aparecem Bolsonaros.

E, quando ninguém esperava porque nunca havia sido feito uma ligação; sequer usado uma fértil imaginação, a polícia prende os suspeitos de terem matado a vereadora Marielle Franco no Rio de Janeiro, e do nada os agentes tinham acabado de prender um deles justamente no mesmo condomínio onde mora Jair Bolsonaro. Quando vi as imagens no Jornal Nacional eu levei um susto, pois pensei que os editores da Globo tinham errado naquilo que se chama tecnicamente em matéria de televisão, imagem cobrindo a locução. Disse: "Vixe! Erraram e colocaram a casa de Bolsonaro. Agora é que ele vai mandar o Exército invadir a Rede Globo".

No entanto não era. Tratava-se mesmo de endereço igual. O mesmo endereço. Eram vizinhos. E de repente começam a pipocar nos sites e redes sociais fotos de Bolsonaro abraçado e um dos suspeitos e o mais insuspeitado: um dos filhos complicados do presidente foi namorado da filha de um dos implicados na morte da vereadora.

Olha que eu já vi gente atrair coisa ruim como se fosse ímã em metalúrgica. Mas, como os Bolsonaros nunca vi. Então fica a pergunta que não quer calar: Se alguém anda em companhia ruim o faz por acaso ou por vocação? Pior é que teremos de conviver com isso, pois os Bolsonaros quando ainda não estavam no pleno poder se misturaram de forma insana com o que não presta. Pode apostar que mais, muito mais, vai surgindo. Mas, assim como Lula fez e o PT ainda faz, a culpa sempre será da imprensa que cava, descobre e publica para que a sociedade saiba onde está pisando. Por isso que nenhum deles gosta da imprensa. Preferem que tudo fique no armário.

Escritor e jornalista: [email protected]

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey