Hoje é um dia de muita tristeza pelo falecimento do histórico lutador comunista Valdomiro Jambeiro. Trata-se um homem símbolo de uma militância de décadas que sempre esteve do mesmo lado da vida e da história. Esse baiano, representativo da melhor tradição daquele grupo que reergueu o PCB na conferência da Mantiqueira, era comunista de tempo integral.
Milton Pinheiro
Legando-nos com a sua existência de combate uma enorme contribuição ao nosso Partido e as lutas populares no Brasil, sempre de forma reservada, todavia, no lugar, nos momentos e nas bandeiras mais conseqüentes da nossa história política.
Essa presença indelével ocorreu, mesmo não sendo líder sindical, nem popular, nem mesmo dirigente partidário. No entanto, seu papel no apoio das lutas da nossa classe e na infra-estrutura da ação partidária são registros dignos da história do tempo presente.
O camarada Valdomiro Jambeiro, com seu destacado papel de comunista, esteve nas greves da velha cidade da Bahia nos mutirões da militância, nas greves operárias de São Paulo e na reorganização partidária ao lado do dirigente comunista Carlos Marighella, e nas campanhas nacionais pela paz que movimentaram o Partido e a sociedade em ações de rua todos os dias, durante muito tempo.
Porém, dois registros se fazem necessários descrever neste momento de infortúnio: o primeiro deles, diz respeito ao seu trabalho nas catacumbas quando a repressão e a violência se abateram sobre o Brasil com o golpe burgo-militar de 1964. O camarada Jambeiro, como era conhecido pelos velhos militantes, foi deslocado para atender a infra-estrutura dos aparelhos onde se encontravam submersos dirigentes históricos da luta de classes e do Partido. Foi assim que ele cumpriu tarefas de apoio para as ações do legendário Luiz Carlos Prestes. O segundo, todavia, não menos importante, diz respeito ao confronto com o liquidacionismo que tivemos que enfrentar, e derrotar, de 1989 a 1992. Naquelas batalhas em defesa do PCB, enquanto histórico operador político dos trabalhadores brasileiros, Valdomiro soube, mais uma vez, sem tergiversar, se posicionar do lado da luta revolucionária em defesa do patrimônio de 1922, ou seja, em defesa do PCB contra os oportunistas e reacionários reformistas encastelados nos benefícios oferecidos por Roberto Freire.
Nas nossas longas conversas sobre a história das lutas sociais, do Partido e do movimento comunista internacional não posso esquecer-me da memória privilegiada que tinha o nosso camarada. No entanto, quando o assunto caminhava para falarmos sobre o seu papel nas atividades com os revolucionários que já se encontram, merecidamente, registrados na nossa historiografia, e das lutas que ele participou, dizia que apenas estava sempre por perto para ajudar no que fosse preciso.
Culto, lúcido, solidário, internacionalista e simples, muito simples. Sempre de plantão, por longos anos na portaria da nossa sede paulista. Era um militante que tinha assunto e posição, sem falar da gentileza e da educação no convívio com todos.
Lembro-me que ao voltar de viagem por outros Estados, ou países, ao chegar à sede do Partido ele encontrava um tema para conversarmos: falava das ruas da velha cidade da Bahia, dos erros e acertos de Stalin, da resistência francesa e sempre, sempre, do Partido dos fuzilados, o histórico operador político dos trabalhadores franceses: o Partido Comunista Francês. Pelo qual nutria, como comunista, um imenso orgulho.
Quando, em 2012, estive pela última vez na França, fui mais uma vez ao cemitério Père-Lachaise, em Paris, com a camarada Sofia Manzano, reverenciar a memória dos heróis da nossa classe e os comunards de 1871, deixei, em nome de Valdomiro Jambeiro, uma saudação, por escrito, no túmulo de Georges Marchais, que era para o nosso camarada um exemplo de luta histórica.
Estive, pela última, vez com o camarada Jambeiro quando o visitei no seu leito de morte em um hospital público de São Paulo, em virtude de ter sofrido um AVC. Ao ver-me suas lágrimas escorreram pela face e fiz de tudo para não chorar... Aos poucos e com dificuldade ele foi falando, possibilitando uma pequena conversa. Ao me despedir peguei sua mão direita, que era a única que ainda se movimentava, apertei e beijei: foi a minha saudação a esse símbolo e nosso último encontro.
Este camarada que nos deixou é um exemplo de luta para os jovens lutadores em tempos de confronto tão difícil contra o capital e seu projeto de barbárie. Valdomiro Jambeiro, com a sua simplicidade militante, nos legou uma lição: de como se pode ser comunista por toda uma vida. Sempre no apoio às lutas da nossa classe, sempre do lado revolucionário da ideologia partidária, sempre reservado, sério e disposto a combater o bom combate.
Vida longa à memória dos que lutam!
Camarada Valdomiro Jambeiro, Presente!
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