É preciso cautela, pois o caldo pode entornar

Iraci del Nero da Costa *

Os acabrunhantes valores assumidos pelos indicadores concernentes ao desempenho da economia brasileira induziram-me, neste final de 2012, a buscar uma difusão mais ampla para a breve crônica transcrita abaixo; a escrevi, emprestando-lhe um caráter de alerta, aos três de novembro de 2009 e a coloquei, naquele então, à disposição dos eventuais interessados em um de meus sites.

Como é facilmente verificável, já naquela oportunidade poder-se-ia prever as agruras econômicas com as quais nos deparamos nos dias correntes. Como sabemos, os governos capitaneados por Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff não adotaram medidas capazes de evitar a crise ora vivenciada, pois, como o nefasto antecessor Fernando Henrique Cardoso, tais presidentes mostraram-se absolutamente despreparados para promoverem a formulação de um plano de longo prazo apto a garantir o desenvolvimento sustentável de nossa economia. Vejamos, pois, o texto de 2009.

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A meu ver, nossa recuperação econômica está ocorrendo de maneira muito rápida e sem um respaldo seguro em termos da economia real e de suas efetivas potencialidades. O clima que nos envolve parece aproximar-se mais de um momento de euforia econômica do que de uma sólida caminhada rumo ao crescimento sustentável no longo prazo.

No Brasil, a meu juízo, o comportamento econômico ora observado mostra-se demasiadamente calcado em um alargamento desmesurado do endividamento da classe média e das camadas de renda mais baixa.  De outra parte, o governo central vem aumentando largamente suas despesas e o BNDES promove uma política de empréstimos muito permissiva.

Ora, todos estes fatores de estímulo à produção são temporários e, dentro de pouco tempo encontrarão, necessariamente, seus limites. Quando tal fato materializar-se, a economia ver-se-á fortemente afetada e  corremos o risco de vivenciarmos um período de abalo econômico, pois o avanço verificado nos dias correntes não poderá sustentar-se tão somente no eventual crescimento de nossas exportações, fortemente marcadas pela presença de commodities. Ademais, no caso de haver uma quebra no preço destas últimas ou de advir um novo sismo em escala mundial, defrontar-nos-emos com uma situação muito menos favorável do que a vigente em fins do ano de 2008. 

Na conjuntura atual deve prevalecer, pois,  a cautela, cuidado este difícil de ser alcançado numa quadra cada vez mais dominada pela expectativa gerada pelas eleições do ano entrante. 

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Por fim, e voltando ao momento presente, vale lembrar que a grotesca tentativa da atual presidente da República de desautorizar, sem as qualificações necessárias, o PIB como indicador de desempenho econômico patenteia o quão desprotegidos estamos todos os brasileiros, condenados a viver numa economia deixada ao sabor das marolas e furacões produzidos pelas crises que se abatem sobre as economias forâneas, assim como fustigam nosso mercado interno e inibem a ação de nossos investidores e empreendedores; ademais, não se faz necessária muita acuidade política para se concluir que os recentes projetos do governo federal visando a atrair investimentos da iniciativa privada para a construção ou restauração de rodovias, ferrovias e outros componentes infraestruturais de nosso país desmentem cabalmente essa tresloucada afirmação.

 

* Professor Livre-docente aposentado da Universidade de São Paulo.

 

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey