Por Frederico Mendonça de Oliveira
A origem seria o mau brasileiro, desde o mais reles morador de rua até o presidente da República? Assim tenho ouvido dizerem em desabafos e em falas emocionais ou apenas emissões em que alguns apenas querem ouvir o som da própria voz. O que nos escapa é que jamais tivemos uma real defesa para as ações vindas de fora, isso desde a chegada de Cabral. Sempre estivemos atrás, sempre estivemos aquém de nossa capacidade como povo e como país vivo. Mas o que mais intriga é vermos que os que realmente indigitaram o verdadeiro inimigo foram sempre varridos de cena.
Papos de esquerda sempre foram empolados e assemelhados a um idioma alienígena. Os que se diziam marxistas e que recebiam dos conservadores a pecha de comunas pareciam ter a chave para fazer abrir-se o sésamo, mas sempre foram uma ínfima, irrisória minoria, e jamais poderiam chegar a tornar comunista um país católico ou revolucionária uma gente de índole pacífica. Hoje não se ouvem esses leros barrocos e reveladores de uma obediência a um poder intangível ou simplesmente ininteligível para o brasileiro comum.
Acrescente-se a isso a megalomania dos vermelhos tupiniquins, capazes de se considerar salvadores do mundo, quando jamais passaram de seguidores de uma doutrina cuja essência muitos deles nem sonhavam alcançar ou decifrar. E o desvario dos adeptos da guerrilha montada para peitar os milicos, se até apresentou um cariz heróico e um desapego à vida e desprezo ao medo jamais vistos, acabou sendo apenas um exercício de grupos isolados. Que, se um dia, ao toque de uma vara de condão, chegassem ao poder conduzidos pelo povo sublevado, o que fariam? Seguramente entregariam a nefanda Brasília ao Politburo, "e teríamos triunfado contra o capitalismo perversor".
Gozado. Aí se formaria outra guerrilha, esta nacionalista, para peitar o soviético invasor. E aí poderia rolar outra confa, porque os EUA seguramente tratariam de "ajudar", mesmo que em oculto, para recuperar seu magnífico e imperdível quintal ao sul do Equador. Enfim, jamais fomos, jamais seremos nós. Simplesmente porque fomos de início colonizados por gente que não tinha qualquer interesse aqui senão extrativismo e outras coisas nada edificantes em termos de construir um país de verdade. Isso acabou ficando para um futuro e virou até hino do tipo ufanismo bobagem.
DESNACIONALIZAÇÃO
Mas tem o pior, e isso ninguém traz à tona. A desnacionalização desde JK - que terá trazido a indústria automobilística responsável pelo monopólio de nossa circulação de riquezas - ocorre de forma de devastação sem freio. O Brasil não tem mais nenhum projeto que não seja atender aos interesses das empresas multinacionais - todas sob um só comando - e nossa identidade foi desmantelada a ponto de estarmos sucateados como País em todos os sentidos e servindo de banquete para a sanha colonizadora multinacional.
Até nossa música foi esmagada pelas formas estrangeiras, e hoje o samba, outrora nossa identidade maior, é apenas um rio que passou em nossas vidas. Fomos o país de Tom Jobim, hoje somos o país de Michel Teló. A distância é de anos luz de retrocesso! E a quem vamos atribuir à causa dessa desgraça? Aos "governos"?
Que o horror começou em 1964, bem, pode. Mas por que não houve, quando da entrega do poder aos civis em 1985, uma retomada radical daqueles anos perdidos em que floresceram as "carreiras" citadas pelo articulista? Não tínhamos mais, àquela altura, uma possibilidade de reorganização?
Não, não tínhamos. A Rede Globo e quejandos, que vieram através da ditadura, fizeram o serviço. Desde a primeira telenovela a Globo tomou o poder. Depois foi Xuxa, Faustão, Chico Anísio - sim, ele mesmo: a Escolinha do Prof. Raimundo foi o maior achincalhe para com nossa Educação, sem contar que levou às profundezas a prática de deseducar, de avacalhar conteúdos, de concretizar a descrença nas instituições, tudo em nome de um deboche como "postura filosófica" - e conteúdos patogênicos que tais.
De fundo musical, os asiáticos Chitãozinho e Xororó puxando um retrocesso que jogou todo o País na sua pré-história cultural. A indigência e a miséria assumiram a dianteira de nossa vida social, e isso é um efeito, não uma causa.
OS REVOLUCIONÁRIOS
E os marxistas-leninistas, que certamente não sabem quem é Issachar Zederblum, não deram mais as caras para peitar os civis. Estão aí em empregos públicos ou mesmo posando de ministros e altos funcionários nessa pocilga a que fomos reduzidos e condenados. E não se fala mais nisso. "O revolucionário de hoje é o reacionário de amanhã"...
Gozado é eles agora quererem, de dentro do poder, dizer o que devem os pais fazer para educar os próprios filhos ou classificar de "preconceito lingüístico" a não aceitação do desmantelamento das concordâncias. Chegamos à era do "Nós vai" através de livro distribuído pelo Ministério da Educação - que também se preocupa em ensinar, em cartilha oficial distribuída em escolas, como fazer sexo anal.
Se há efeito, há causa. O diabo é que todos ficam rodando em círculos e rebostejando nos efeitos. E as causas, exercendo um autoritarismo devastador, estão operando sem qualquer olhar de dúvida para elas. Mas tem "Ah! se eu te pego"... Vamo bailá, gente?
Artigo publicado no site Tribuna da Internet
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