O Brasil é outro país, absolutamente diverso daquele que o presidente Lula herdou em 2003. Oito anos depois do duro início de governo, onde Lula e sua equipe assumiam uma massa falida advinda de três quebradeiras, enorme descrédito internacional, impressionante ausência de auto-estima de nossa gente e de generalizada desconfiança no país.
Delúbio Soares (*)
Da abertura econômica no governo Collor e uma entrada imensa de recursos em nosso mercado interno, operando o início da modernização industrial, com o Brasil vivendo excepcional momento no início dos anos 90 e mais a fabulosa soma de bilhões de reais com a venda das empresas telefônicas do sistema Telebrás e outras estatais privatizadas, nada restara. Como um Rei Midas ao contrário, o governo de FHC acumulara derrotas, achatara salários, perseguira aposentados, injetava bilhões no Proer, descurava da educação e da saúde, administrava mal e apenas para a elite, e quebrava o país. E o governo dos tucanos recebeu o Brasil, em 1994, em condições infinitamente melhores do que as destinadas ao governo petista em 2003.
Teria sido fácil para Lula, homem combativo e líder carismático, vindo de uma eleição consagradora, apontar o dedo e denunciar o fracasso de seu antecessor ou a herança maldita que lhe era deixada. Nada disso foi feito. Lula optou pela concertação e o diálogo, pela reconstrução e o trabalho, pelo entendimento amplo e o diálogo democrático. Avesso à perseguição, ele mesmo marcado pelas injustiças de que foi vítima, o presidente Lula olhou para o futuro e se lançou na tarefa de governar unindo os brasileiros e dialogando democraticamente. Não governou com ódio e perseguições, mas com generosidade e perspectiva histórica.
Muitas palavras podem definir o governo de Lula e do PT: trabalho, inovação, humanismo, competência, generosidade, comprometimento, brasilidade, democracia... Mas a que, certamente, melhor expresse a forma magnânima e generosa com que Lula governou por dois mandatos o nosso país é a palavra diálogo. Não houve voz que fosse calada por iniciativa do poder central, nem quem quisesse fazer-se ouvir que não recebesse a devida atenção do presidente e de sua equipe. O Brasil viveu tempos de absoluta liberdade de expressão e de democracia levada às últimas conseqüências. Só encontramos similitude no qüinqüênio de outro Estadista, Juscelino Kubitschek.
Lula colocou o Estado a serviço dos mais pobres. Fez com que a "plebe ignara", a "ralé", os despossuídos do poder público, os deserdados do Estado brasileiro, os esquecidos de sempre, os olvidados de séculos, a massa preterida, fosse a razão e a meta de seu governo benfazejo.
Essa massa que move os países e protagoniza a história, pela primeira vez no Brasil foi atendida em seus reclamos e necessidades, com programas sociais que atenderam as suas demandas e melhoraram substantivamente sua condição de vida; com crédito farto e barato, que colocou fim à agiotagem, que impulsionou o consumo, que movimentou a indústria e reaqueceu o comércio; com o fim do desemprego, flagelo que castigou os trabalhadores e suas famílias; com a reinserção do Brasil no mercado internacional, abrindo fronteiras para nossos produtos e gerando riqueza no mercado interno; com a estabilidade econômica, que garantiu a paz social e o início de um ciclo virtuoso; com o Pro-Uni, abrindo as portas das universidades aos filhos do povo, aos negros e aos indígenas, levando-os às salas de aula e garantindo um futuro mais promissor; com o Bolsa Família, afastando de milhões de lares humildes a chaga da fome, devolvendo cidadania e resgatando brasileiros abandonados pelos poderes públicos ao longo de séculos.
Em dois mandatos apenas, sem fugir das regras do jogo democrático, valorizando nossas instituições e dialogando direto com trabalhadores e empresários, bancários e banqueiros, lavradores e fazendeiros, operários e industriais, sem preconceito e com o espírito aberto e desarmado, o presidente Lula consagrou seu governo às reformas mais profundas já testemunhadas pela sociedade brasileira, tirando da pobreza e elevando à classe média mais de 30 milhões de irmãos brasileiros. Dialogou sempre, até a exaustão, transigiu quando necessário, não transigiu quando princípios estavam em jogo, conversou com quem quis ser ouvido, falou com franqueza e destemor aos brasileiros, saiu pelo mundo ostentando a bandeira de um país renascido após anos de cabeça-baixa e descrédito. Lula fez do entendimento, da concertação e do diálogo a marca de seu governo vitorioso, revolucionário e democrático. E entregou seu legado à uma mulher competente, gestora qualificada e com amplas possibilidades de ampliar as conquistas de seu governo, a presidenta Dilma Rousseff.
Poderia desfiar números e enumerar vitórias. Dos 1,5 milhões de automóveis produzidos em 2002 aos 4 milhões em 2010. Ou dos 19 milhões de celulares em 2003 para os mais de 200 milhões até meados de 2011, com a média de mais de um aparelho por cidadão brasileiro! Mas prefiro recordar que o comércio vive uma época de vendas nunca dantes alcançadas. A indústria trabalha em regime de turnos que ocupam às 24 horas do dia para atender as encomendas. Jamais se consumiu tanto material de construção, tantas bicicletas, tantas televisões, tantas geladeiras, tantas máquinas de lavar. Os computadores saíram da classe média alta para freqüentar a vida da grande massa trabalhadora, com a tecnologia da informação ao alcance do filho do trabalhador, ajudando-o em seus estudos e trazendo-lhe a informação em tempo real.
Experimentamos uma revolução das mais efetivas e profundas que o continente latino-americano, quiçá o mundo, experimentou. Nenhuma gota de sangue, mas muita alegria, realização de sonhos, lágrimas de emoção e transbordante alegria. Sem confrontação ou ressentimentos, sem medo e com absoluta harmonia entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, com as Forças Armadas profissionalizadas e cumprindo o seu papel constitucional, com liberdade de expressão absoluta e uma oposição vigilante e intransigente. Somos uma democracia no que de melhor ela tem e oferece. Devemos ao espírito conciliador, ao coração sem ódio e a visão de Estadista de Luiz Inácio Lula da Silva.
(*) Delúbio Soares é professor
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