Por Fernando Soares Campos
Lembro-me bem o que aconteceu quando deflagraram o escândalo do mensalão. Nos primeiros momentos, só a oposição tinha voz na imprensa nacional, até porque, ao ser deflagrado o escândalo, os aliados do governo emudeceram. Alguns parlamentares do PT debandaram do partido na hora primeira. Os poucos que tentavam esboçar qualquer reação eram logo rechaçados por um turbilhão de informações mal cruzadas, ou, no mínimo, ridicularizados. Com o passar do tempo, algumas vozes foram se disseminando pela internet, e muito se esclareceu sobre a verdade dos fatos. Se não existisse a internet, não tenho dúvida, o governo Lula teria sido golpeado, como Jango em 64.
A CPI da Petrobras, aprovada sexta-feira, 15/5, foi arquitetada sob inspiração de matéria publicada pelo jornal O Globo, que acusa a diretoria da empresa de haver aplicado indevidamente, ou seja, com efeitos retroativos a 2008, as determinações de uma Medida Provisória que só teriam validade a partir do ano base 2009. A própria Miriam Leitão, pitonisa da ciência econômica a serviço das Organizações Globo, declarou em seu blog: Hoje, a oposição numa manobra intalou [está grafado assim mesmo, portanto não sei se o erro de digitação deve ser atribuído à falta de s ou à troca de e por i!] CPI para investigar a Petrobras, isso por causa da matéria do Globo, do último domingo, mostrando que a empresa deixou de pagar mais de R$ 4 bilhões por conta de uma manobra contábil. Essa é mais uma das provas irrefutáveis de que o grosso da imprensa brasileira se transformou no PiG, Partido da Imprensa Golpista, com poderes mais expressivos que os próprios partidos de oposição, pois é quem pauta suas decisões.
O senador Arthur Virgílio, líder do PSDB no Senado, rebatendo críticas do governo à instalação da CPI da Petrobras, chamou o presidente Lula de autoritário. É o mesmo Arthur Virgílio que já chegou a dizer que daria uma surra no presidente da República. O Virgílio que, em uma única sessão da CPI dos Correios, chamou Lula de idiota por 17 vezes. Volto a dizer que nós temos um presidente que é um completo idiota ou é um corrupto... O Brasil tem que ter muita atenção porque, no mínimo, estamos a ser governados por um idiota, concluiu Arthur Virgílio naquela reunião.
O senador amazonense, em 2005, se tornou porta-voz da oposição e brilhou (ofuscou?!) nas telas de TV a cada fanfarrice que arrotava. Os objetivos do neovestal Virgílio eram claros e indecorosos: defenestrar um governo democraticamente eleito, sem que contra este pudesse ser provado qualquer ato de corrupção; de lambuja, gerar patrimônio eleitoral visando às eleições de 2006. Virgílio e seu parceiro Jorge Bornhausen (DEM-SC) chegaram a anunciar o fim da raça petista. Resultado: Arthur Virgílio se candidatou ao governo do Estado do Amazonas e teve 5% dos votos; Bornhausen anunciou que estava abandonando a vida política, declaração para inglês cego ouvir.
Há quem diga que o objetivo principal da manobra tucana que fez aprovar a abertura da CPI da Petrobras é desmoralizar projeto do governo que pretende criar uma agência estatal para administrar as reservas do pré-sal, com 100% de suas verbas oriundas do Tesouro Nacional. Ou seja, sem sociedade direta no âmbito dos interesses privados. Quer dizer, alguma coisa com traços de soberania nacional, o que assusta os avelhantados neoliberais, viciados às regras impostas por Wall Street, FMI, Bird ou qualquer instituição estrangeira.
Outras opiniões surgem, sem que uma inviabilize as outras, apenas se somam para revelar o pragmatismo de uma oposição empenhada em desestabilizar o governo Lula a qualquer custo.
O jornalista Luiz Carlos Azenha, no site Vi o Mundo, trata o assunto por outro ângulo: CPI da Petrobras: O objetivo é produzir manchetes para o Ali Kamel [diretor-executivo de jornalismo da Rede Globo]
Uma CPI como a da Petrobras fornece o argumento essencial para Kamel e seus asseclas: estamos apenas cobrindo os fatos, argumentam. Já escrevi aqui ene vezes sobre 2006: capas da Veja alimentavam o Jornal Nacional, que promovia a devida repercussão, gerando decisões políticas que alimentavam outras capas da Veja, que apareciam no JN de sábado e geravam indignação em gente da estirpe de ACM, Heráclito Fortes e Arthur Virgílio. Só essa indignação seletiva é capaz de explicar porque teremos uma CPI da Petrobras mas nunca tivemos uma CPI da Vale ou das privatizações, diz Azenha, ex-funcionário da Globo.
Até mesmos os acidentes que provocam catástrofes ambientais, muito frequentes na era FHC, oriundos de acidentais vazamentos de petróleo nos tanques e navios da Petrobras, praticamente pararam de acontecer nos últimos anos. O espetáculo midiático promovia, com compreensível facilidade, verdadeiras ondas de sentimentalismo, comoção e arroubos do tipo grinpiciano (vai perder seu tempo indo ao dicionário). Mas ninguém se preocupou em instalar CPI para apurar responsabilidades sobre tantos acidentes, apesar dos fortes indícios de ação criminosa, com rastros de sangue, corrupção e cheiro de sabotagem com o objetivo de desmoralizar a Petrobrás e entregá-la de vez à sanha do capital estrangeiro via testas-de-ferro domésticos.
Imagine se a Plataforma P-36 tivesse sido explodida e afundada durante o governo Lula. A P-36 foi a pique na era FHC e ficou por isso mesmo. Eu nunca soube de alguém que tivesse sido punido, ou sequer responsabilizado, por aquela tragédia. O caso ficou registrado em nossa memória apenas pelo espetáculo que as emissoras de TV realizaram, transmitindo ao vivo os agonizantes momentos do afundamento da maior plataforma de prospecção de petróleo do mundo, que até hoje serve de mausoléu submarino para os 11 trabalhadores que ela arrastou consigo.
A revista Época, edição 150, de 02/04/2001, até que deu a pista:
Tragédia prevista
Investigação do Congresso sobre mortes na plataforma da Petrobrás vai abranger a compra de componentes baratos e de qualidade duvidosa. [Nada de CPI, apenas investigação, conforme se pode fazer hoje caso exista alguma suspeita de irregularidade contra a atual administração da Petrobras]
(...)
Uma das evidências foi encontrada em correspondência de agosto de 1998 enviada pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Carlos Delben Leite, ao senador Eduardo Suplicy (PT-SP) sobre conseqüências práticas de mudanças na política de compras da Petrobrás durante a gestão do ex-presidente da estatal Joel Rennó.
Nos relatórios, a Abimaq informa que a Petrobrás passou a aceitar a troca de equipamentos com certificação internacional de qualidade por outros, mais baratos, comprados na China, na Espanha, em Portugal e na Itália. Como exemplo, a entidade apresentou ao Senado uma relação de 35 contratos da estatal com a Marítima entre eles o da P-36. As encomendas superam US$ 4 bilhões. Confirmam o empresário German Efromovich, dono da Marítima, empresa com capital de US$ 10 milhões, como intermediário de mais de 80% das compras realizadas pela estatal na gestão Rennó. Delben Leite denuncia no texto a substituição de válvulas, bombas, compressores e redutores, entre outros componentes certificados, por equipamentos fabricados, principalmente, na China sem os requisitos e exigências aprovados.
O documento enviado ao Senado há 32 meses alertava: Uma pequena válvula de segurança ou de produção, de valor unitário de algumas dezenas de dólares, pode comprometer todo um equipamento de milhões de dólares, podendo causar incalculáveis prejuízos de ordem material e até danos pessoais. Segundo Delben Leite, a Petrobrás não exigiu da Marítima nenhum tipo de certificação para os equipamentos das plataformas contratadas, incluindo a P-36.
A partir de 1995, a Petrobrás passou a comprar plataformas sob a forma de pacotes fechados...
Leia a matéria completa, é muito interessante, bastante esclarecedora, mas foi incapaz de gerar uma CPI: http://epoca.globo.com/edic/20010402/neg3a.htm
Também não perca matéria publicada no site Ambiente Brasil, sobre Os Principais Acidentes com Petróleo e Derivados no Brasil.
http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./agua/salgada/index.html&conteudo=./agua/salgada/vazamentos.html
Tudo catalogado em ordem cronológica e acompanhados de sinopses sobre os sinistros.
A internet dificulta o golpe perpetrado na Rua Rio de Janeiro, em Higienópolis, São Paulo. Como PSDB, Veja & CIA articularam segundo golpe de estado em sete anos. Uma história de assassinatos, corrupção, abuso de menores e roubo. Confira: Golpe de Estado em Andamento no Brasil: Revelações Estarrecedoras. É antigo, mas vale a pena ler de novo. http://lists.indymedia.org/pipermail/cmi-ssa/2005-June/0607-s5.html
Sem a internet, dificilmente Lula teria sido eleito; se fosse, não assumiria; se assumisse, teria sido golpeado com muita facilidade. O PiG é forte, é Golias, mas a internet tá assim de Davi!
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Fernando Soares Campos
Dados biográficos
http://www.paralerepensar.com.br/fernandosc.htm
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