O governo Lula, que neste segundo mandato ainda não baixou medidas graves de regressão dos direitos trabalhistas, está na berlinda. O Senado aprovou o projeto do petista gaúcho Paulo Paim (PT-RS) que extingue o fator previdenciário, uma excrescência imposta por FHC que reduziu a já misera renda dos aposentados e pensionistas. Diante da decisão, a equipe econômica, sempre apegada à ortodoxia do ajuste fiscal, pressiona os deputados e já ameaça com o veto presidencial ao projeto do senador, um ex-sindicalista que fundou a CUT ao lado de Lula. A briga promete ser quente.
Por Altamiro Borges*
Em reunião no final de abril, dirigentes das principais centrais sindicais do país manifestaram seu apoio ao projeto do senador Paim, que elimina o fator previdenciário e garante o mesmo reajuste do salário mínimo aos aposentados.
Conforme declarou Wagner Gomes, presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), o sindicalismo está vigilante e preparado para mobilizar suas bases em defesa destas duas medidas, que já foram aprovadas no Senado e, em breve, serão apreciadas e votadas na Câmara Federal.
As centrais planejam realizar várias atividades para pressionar os deputados federais e o governo Lula, incluindo uma barulhenta concentração na Câmara dos Deputados em 15 de maio.
Matemática perversa dos tucanos
O fator previdenciário foi instituído pela Lei 9.876, aprovada em novembro de 1999, no bojo da contra-reforma de FHC. Ele é um perverso mecanismo contábil de arrocho dos trabalhadores que retarda os pedidos de aposentadorias por tempo de contribuição, elevando em cinco anos a idade média de quem requer o benefício. Como a redução dos rendimentos é expressiva (ele fica menor quanto mais cedo a pessoa se aposenta), o trabalhador é obrigado a adiar o acesso ao benefício.
Aplicado no cálculo da contribuição, o fator reduz em 30 e 35% - respectivamente para homens e mulheres o valor da aposentadoria e da pensão em comparação com o salário da ativa.
Não é para menos que o fim deste monstrengo tucano foi saudado por várias categorias. Na base do próprio presidente Lula, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC divulgou boletim com o título: Fim do fator previdenciário, vitória dos trabalhadores.
Segundo o texto, a aprovação do PLS 296/03 do senador Paulo Paim representa uma alteração de amplo e importante alcance social. Além de extinguir o fator previdenciário, esse redutor das aposentadorias, o projeto estende a política de valorização do salário mínimo às aposentadorias e pensões. O sindicato, que projetou Lula no cenário nacional, promete pressionar o governo e elogia a tenacidade do senador Paim.
A desculpa esfarrapada do déficit
Apesar do uníssono apoio ao fim do fator previdenciário, o Palácio do Planalto parece decidido a sabotar a vitória. O atual ministro da pasta, Luiz Marinho, que por ironia da história já presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, informou às centrais que o presidente Lula vetará o projeto, caso ele não seja rejeitado pela Câmara Federal. A desculpa apresentada é a mesma de sempre: a de que a medida elevará o déficit da Previdência Social.
Durante a campanha eleitoral de 2006, o candidato Lula garantiu nos palanques que a Previdência não é deficitária, contrapondo-se aos agourentos neoliberais que propunham mais arrocho no setor. Agora, parece, mudou o discurso.
A realidade, porém, rejeita os mitos neoliberais. No primeiro trimestre deste ano, em decorrência do tímido aquecimento da economia, o déficit da previdência baixou 17,2% na comparação com o mesmo período de 2007.
A própria Folha de S.Paulo, ativa defensora da destruição do setor, foi forçada a admitir que a redução do rombo reflete a maior criação de empregos formais, que impulsiona a arrecadação das contribuições que financiam a Previdência. Entre janeiro e março, foram criadas 554 mil vagas aumento de 39% em relação a 2007. Com isso, a arrecadação no trimestre chegou a R$ 35,4 bilhões, alta de 9,9% em relação ao mesmo período do ano passado.
Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB e autor do livro recém-lançado Sindicalismo, resistência e alternativas (Editora Anita Garibaldi).
Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter