Pelo menos 15 viaturas da Força Nacional de Segurança, do Bope e do 5° BPM chegaram por volta das 9h no Morro da Providência e também no vizinho Morro do Pinto, para iniciar uma ocupação de longo prazo. Conforme a Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência já havia denunciado , semana passada veículos e soldados do Exército haviam feito uma operação de "levantamento" na favela e anunciado que voltariam essa semana com apoio policial. Entretanto, até o momento não há presença das Forças Armadas. Da Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência.
O pretexto para a ocupação é garantir a realização de uma obra polêmica, idealizada pelo senador do PRB, Marcelo Crivella (provável candidato a prefeito ano que vem), de blindar 782 casas da favela com argamassa à prova de balas de fuzil. Os recursos para essa obra, considerada eleitoreira e sem propósito por muitos moradores e técnicos, foram garantidos por uma Medida Provisória da Presidência da República, mas segundo a Associação de Moradores da comunidade, ainda há processos na Prefeitura pendentes contra ela. Além disso, foram feitas obras de teste em três casas, com resultados ruins. Uma moradora, por exemplo, estaria sendo obrigada a realizar reformas e troca do telhado por conta própria, pois a estrutura de sua residência ficou abalada.
O engenheiro Paulo da empresa Predilar, responsável pela obra, que esteve semana passada junto com os militares, questionado por moradores, disse que a ocupação militar/policial era necessária para garantir a segurança no decorrer dos trabalhos. Entretanto, não há nenhum histórico de roubo de material e ameaças a trabalhadores na Providência (como na ampla maioria das favelas do Rio), onde já foram realizadas obras de grande porte como o Favela Bairro.
Além das irregularidaes e inconveniência das obras, que estão sendo praticamente impostas à comunidade, a maior preocupação é com as violações e direitos e abusos que geralmente acompanham essas ocupações, seja pela polícia, seja pelas Forças Armadas.
Em 2006, sob pretexto de buscar armas roubadas em quartéis, diversas favelas sofreram ocupações e incursões do Exército, e a Providência foi aquela em que se verificou o maior número de abusos .
As incursões do Bope e da Core na comunidade são muito violentas - como aquela em que uma equipe de reportagem de O Dia flagrou uma execução sumária de dois jovens pela Core em 27/07/2004, em foto que correu o mundo e ilustrou a capa do relatório da Justiça Global Relatório Rio: Violência Policial e Insegurança Pública .
A exceção relativa nesse histórico de violência e abuso era o Gpae, mas isso mudou desde que foi designado para o comando da unidade local o capitão Zuma, já denunciado em outras comunidades por sua truculência, e cuja chegada à Providência significou um aumento nos casos de abusos, violações e execuções sumárias, conforme já denunciado pela Rede. Nesta segunda (10), Zuma participou do programa do deputado do PDT, apresentador de TV e ex-policial Wagner Montes (outro possível candidato a prefeito) e declarou que estará no comando da ocupação, o que aumentou ainda mais a apreensão da comunidade.
As pessoas da comunidade estão muito preocupadas, pelo fato da ocupação começar exatamente em época de festas e final de ano (os próprios soldados e policiais vão estar muito tensos por serem obrigados a patrulhar a favela nesta época), quando aumenta a circulação de moradores (principalmente crianças) nas ruas da favela.
Os moradores da comunidade, a Associação de Moradores e a Rede estão chamando e convocando a imprensa, Ministério Público, Defensoria Pública, movimentos sociais e organizações defensoras de direitos humanos a se mobilizarem para supervisionar a ocupação e evitarem violações e abusos. Não podemos esperar que aconteça uma tragédia para irmos lá contarmos corpos, fazermos reportagens e lançarmos manifestos.
Maiores informações com a presidente da Associação de Moradores do Morro da Providência, pelo telefone (21) 9773-5885.
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