Brasil: Multinacionais enviam 2,6 biliões de USD ao exterior
Em maio, multinacionais enviam US$ 2,632 bilhões ao exterior - Volume remetido às matrizes a título de lucro e dividendos, é cinco vezes maior do que a entrada de US$ 501 milhões de investimento estrangeiro.
Em maio, o Banco Central registrou a entrada de US$ 501 milhões referentes ao chamado investimento direto estrangeiro, ao mesmo tempo em que as transnacionais instaladas no país enviaram US$ 2,632 bilhões para suas matrizes no exterior a título de lucros e dividendos. Esses dados são relativos à questão da produção, não englobando os capitais meramente especulativos, atraídos pelos juros altos.
O fato de as remessas de lucros terem superado em mais de cinco vezes a entrada dos festejados investimentos diretos demonstra, mais uma vez, que a brutal desnacionalização a que foi submetida a economia brasileira tem proporcionado a transferência de fabulosos recursos para o exterior. Desnacionalização que atingiu não só as estatais, com as privatizações, mas também as empresas privadas essas últimas com a redução da proteção à indústria nacional e com os juros cavalares, que as tornaram presas fáceis ao capital estrangeiro.
Ou seja, as empresas nacionais, nas quais foram injetadas bilhões de reais para sua construção e ampliação, foram tomadas praticamente de graça e hoje enchem os cofres de quem as açambarcou.
Assim, foram repassadas para o controle externo empresas dos mais diversos segmentos. A maior parte do antigo Sistema Telebrás, empresas de energia (Light, Eletropaulo, Comgás etc.), siderúrgicas como a Usiminas. No capital privado, fábricas tradicionais como Metal Leve, Cofap, entre outras, foram desnacionalizadas. Esse processo alcançou inclusive o setor bancário, público e privado (Banespa, Real, Bamerindus etc.), o principal beneficiário da política de juros altos do BC.
Em sua tese de Doutorado em Ciências da Engenharia da Produção na COPPE/UFRJ, a professora Carmen Garcia disseca a presença do capital estrangeiro na indústria brasileira, de 1985 a 2002, mostrando o alto grau de desnacionalização do setor. Assim, no último ano analisado, estavam sob controle estrangeiro 82% das indústrias baseadas em ciência (eletrônica, farmacêutica, aeronáutica etc.); 73% da produção diferenciada (eletrodomésticos, instrumentos médicos e máquinas e equipamentos); 68% da produção contínua em escala (química, siderurgia, automobilística etc.); 24% das indústrias baseadas em recursos naturais (extrativa mineral, cimento, alimentos, bebida, madeira e extração e refino de petróleo).
A questão torna-se ainda mais relevante no momento em que o país avança na consolidação da agroenergia, fundamental para a diversificação das fontes energéticas, o que vem atiçando a cobiça do capital estrangeiro. Até o notório George Soros, que esteve recentemente no Brasil, já se faz presente no setor do etanol tendo adquirido a Usina Monte Alegre, em Minas Gerais, através da Adecoagro.
A abertura de capital das empresas brasileiras não é nenhum processo natural como defendem alguns. Natural e viável é que elas se desenvolvam a partir de nossos próprios esforços. Para isso, contam novamente com o apoio do BNDES, que, com Lula, retomou o seu papel de financiador da produção, ao contrário da gestão tucana em que o banco foi transformado em agente da desnacionalização e do fomento do desemprego.
Valdo Albuquerque
Original em:
http://www.horadopovo.com.br/
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