Por minha voz fala a voz do Exército Zapatista de Libertação Nacional
Em nome das mulheres, homens, crianças e idosos do Exercito Zapatista de libertação Nacional recebam todos e todas, companheiros e companheiras do MST do Brasil, nossa saudação zapatista
Sabemos que nestes dias estão celebrando o seu quinto congresso nacional nas dignas terras brasileiras e gostaríamos de ter um pequeno espaço para a nossa palavra no ouvido generoso dos seus corações.
Nós, homens e mulheres, as e os zapatistas do México, sentimos irmandade por todas aquelas organizações e pessoas que lutam pela terra, carinho por aqueles que a vêem como a Mãe e respeito por aqueles que enfrentam tudo para fazer realidade o que Emiliano Zapata disse: A terra é de quem a trabalha.
O movimento Sem terra do Brasil tem em nosso moreno coração tudo isso: tem nossa mão irmã, nosso carinho e respeito, mas também tem nossa admiração, ainda que de longe são várias as pontes pelas que sabemos de vocês, de seus sofrimentos e de seus empenhos.
A sabedoria, decisão e firmeza que mostraram nas duras jornadas de luta pela terra são para nós ensinamentos e alivio. Ensinamento porque procuramos aprender com vocês. Alivio porque ao conhecê-los sabemos que a terra tem ainda alguém que luta por defendê-la e trabalhá-la com dignidade.
Com vocês vimos e padecemos da guerra de conquista, e não nos referimos às que há quinhentos anos levaram à cabo as monarquias portuguesa e espanhola, senão as que hoje em dia executam os impérios do dinheiro, eles, os de cima nos expulsam da terra impondo seus modelos de cultivo que não são os nossos . Envenenam a terra com seus produtos transgênicos e exploram em condições de escravidão aos trabalhadores agrícolas, ao mesmo tempo, que atiram à morte do desemprego a milhões, fortalecem o latifúndio que como nos tempos coloniais humilham a terra, a quem a trabalha e a quem a vive.
Sabemos como vocês que isso não acontece apenas no Brasil e em nosso México, ao longo da grande ferida que sangra e que é nossa América Latina e em todo o mundo o capitalismo adotou a sua face mais brutal e assassina a das guerras com balas e bombas e da guerra com leis e autoridades.
Pensam eles, os do dinheiro e da soberba que nos venceram, que quinhentos anos foram suficientes para nos dobrar, para nos comprar, para nos render, e que agora seus governos de despojos e violência não vão ter nenhuma oposição, mas as suas ocupações com centenas de pessoas estão respondendo que o Brasil digno não vive na casa dos seus governantes e dos grandes proprietários, mas sim no coração dos seus camponeses e assalariados rurais que sabem que a terra, como a dignidade não se vende, não se trai nem se mata.
Não só no Brasil e no México cresce a resistência, a América Latina não só volta a despertar, como agora no seu caminhar há mais experiência, mais decisão, mais futuro.
O Movimento Sem Terra tem a admiração de muitas pessoas, grupos e organizações em todo o mundo, vocês o sabem, nós o sabemos, ninguém lhes ofereceu nada, vocês conquistaram tudo minuto a minuto desde o momento em que levantaram o olhar, o caminhar organizado para ser quem são, um dos movimentos mais brilhantes que viram nascer no seu seio as terras do continente americano.
Mas ainda que ninguém os volte a ver, ainda que todos lhes fechem as portas e ouvidos, ainda que encontrem apenas incompreensão e desprezo, têm e teriam em nosso coração moreno um ouvido atento um lugar especial no nosso olhar, uma porta sempre aberta em nosso coração, um ouvido atento e respeitoso em nosso caminhar. Uma admiração sincera em nossa voz e a compreensão que apenas se dá entre quem tem na terra uma mãe, uma história, uma luta e uma bandeira.
Disse nosso general Emiliano Zapata que a terra é de quem a trabalha. Em breve serão 100 anos desde que seu grito de terra e liberdade sacudiu os campos e cidades do México. Assim voltará a ser. E voltaremos a fazer a terra nossa, não só porque somos nós quem a trabalhamos e a podemos produzir, também porque nós cuidamos e fazemos crescer, porque ela crescendo, crescemos nós.
Soubemos que seu quinto Congresso têm como lema: reforma agrária por justiça social e soberania popular quanta verdade há nestas palavras! Porque nenhuma nação pode se chamar verdadeiramente livre e soberana se a terra não é de quem a trabalha, e não pode haver justiça social enquanto se continue produzindo para o estrangeiro ladrão e não para o povo trabalhador,
Companheiros e companheiras:
Não sei se já o sabem, mas se já o sabem, repito: aqui, nas montanhas do sudeste mexicano há gente que os quer, que os admira e que aprende com vocês; há gente que sabe que não se renderão, há quem sabe que nossas lutas têm o mesmo destino: o da liberdade e da Justiça para nossa terra.
Saudações companheiros e companheiras,
que viva o vento de rebeldia que desde o Brasil aviva a resistência indígena no México
que viva o Movimento dos Sem Terra do Brasil
Desde a mesma América Latina em que Brasil e México reescrevem a palavra dignidade
Pelo Comitê Clandestino Revolucionário Indígena - comandância geral do Exército Zapatista de Libertação Nacional .
Subcomandante insurgente Marcus
Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter