O Governo moçambicano afastou a existência de qualquer responsabilidade da empresa gestora da barragem de Cahora Bassa nas graves cheias que atingiram o vale do Zambeze no mês passado, causando 285 mil pessoas afectadas. Pelo contrário, a empresa que administra a barragem no rio Zambeze - geriu a situação permitiu mesmo «evitar o pior», segundo Lusa.
O ministro moçambicano da Energi disse que regressava de uma visita à província de Tete (centro), considerou «gradual e responsável» a forma como a água foi sendo libertada da albufeira da barragem.
Na semana passada, numa sessão parlamentar dedicada ao balanço governamental sobre as calamidades que este ano afectaram Moçambique (além das cheias, o ciclone tropical Fávio), o principal partido da oposição, a RENAMO, acusou a Hidroeléctrica de «negligência» , responsabilizando a gestora de Cahora Bassa pela dimensão das inundações.
O excessivo enchimento da albufeira da barragem de Cahora Bassa, provocado por chuvas intensas que caíram nos países vizinhos (Maláui, Zimbabué e Zâmbia) levou à abertura progressiva das comportas do empreendimento, que chegaram a lançar 8.400 metros cúbicos de água por segundo (valor muito próximo do tecto máximo de 10.000 metros cúbicos por segundo).
Para a RENAMO, a Hidroeléctrica de Cahora Bassa deveria ter começado mais cedo a libertar água da sua albufeira, preparando com mais antecedência o provável aumento do caudal do rio no decurso da época chuvosa.
O ministro da Energia refuta esta tese, contrapondo que, os efeitos das inundações teriam sido mais devastadores na ausência da barragem de Cahora Bassa.
«É surpreendente que neste momento, quando estamos na fase final da reversão da HCB para gestão moçambicana, comecem a ser levantadas questões que nunca o foram nos últimos 30 anos» , disse.
Salvador Namburete lembrou, a propósito, que a transferência de capital da Hidroeléctrica, acordada em Outubro do ano passado entre Portugal e Moçambique, ainda não teve lugar.
Nos termos do acordo assinado em Maputo no ano passado pelo presidente moçambicano, Armando Guebuza, e pelo primeiro-ministro português, José Sócrates, Moçambique adquiriu a Portugal por 700 milhões de dólares (533,5 milhões de euros) 67 por cento do capital da Hidroeléctrica de Cahora Bassa, passando a ficar com 85 por cento do capital e o Estado português com 15 por cento.
Moçambique detinha 18 por cento e Portugal 82 por cento. O convénio estabelece Janeiro de 2008 como prazo para o pagamento pela compra do capital da HCB.
Recentemente, o Governo moçambicano adiantou que aguarda resposta a convites que endereçou a várias instituições financeiras para concessão de um empréstimo que assegure o pagamento.
«Actualmente, a HCB está sob gestão portuguesa» , lembrou o ministro, acrescentando que a maioria dos membros da administração da empresa ainda são portugueses.
No vale do Zambeze, as piores cheias dos últimos anos atingiram 285 mil pessoas, 107.534 das quais foram encaminhadas para centros de realojamento temporário.
Quase 122 mil das 285 mil pessoas afectadas correm ainda o risco de enfrentar uma situação de fome face à perda de colheitas nesta região do país (um total de 80 mil hectares de culturas diversas terão ficado perdidas).
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