Sob o convite inesperado de um e-mail amigo, fui fortuitamente parar a uma tertúlia cuja reflexão pretendia incidir sobre que alternativas a uma Europa neo-liberal. Numa atmosfera confortável e relaxada vi pessoas a chegarem, a unirem-se em torno de uma reflexão, de uma preocupação comum (para um mundo melhor?).
É necessário conhecer, analisar, para melhorar, para promover mudança no mundo em que nos encontramos e, quem tem preocupações apelidadas de esquerda deve unir-se e agir. Esta foi a conclusão geral que tirei das ricas intervenções que tive oportunidade de observar.
A Renovação Comunista, pela voz de Paulo Fidalgo, frisou a importância de uma organização supranacional europeia, mas em novos moldes, para que a riqueza seja mais eficientemente redistribuída, para a efectivação do ideal de igualdade que há tantos anos a filosofia comunista apregoa e deseja. Apesar de utilizando conceitos um tanto ou quanto anacrónicos, do meu ponto de vista, a análise comunista aponta caminhos interessantes de uma militância com objectivos concretos de promoção de maior bem-estar social, um desejo tão próximo e tão vivo das classes trabalhadoras.
Pela voz sindicalizada dessa classe, Florival Lança (dirigente da CGTP) frisou que o modelo social europeu ainda tem legitimidade e ainda é um instrumento que aponta para uma melhoria do bem-estar no espaço europeu. Perante isto, é necessário lutar contra o desencanto que povoa muitas mentes europeias, nomeadamente as mais afectadas por alguma ineficácia das politicas, e fazer crescer a fé por essa União Europeia cujo sonho ainda não se realizou mas que pode ser realizado.
Se é o sonho que comanda a vida, a fé por esse sonho tem que ser alimentada, fortalecida, para que o ideal europeu se concretize, para que efectivamente se verifique um bem estar generalizado e globalizado, pois sem dúvida que recursos existem, as escolhas que os comanda é que podem ser discutidas e questionadas, para que num futuro próximo se aperfeiçoem. Mas para que isso se verifique a multiplicação de desejos e vontades de esquerda têm que se organizar e unir assumindo a sua histórica função de promover mudanças sociais próximas de quem delas necessita. Isabel do Carmo (dirigente da ATTAC) chamou a atenção para esta questão.
Mas para isso nem os de esquerda nem os preocupados se podem manter acríticos e aceitar passivamente consensos sobre as questões socialmente importantes. É com esta mensagem fundamental que o Professor Medeiros Ferreira inicia a sua valiosíssima intervenção, fruto do seu conhecimento profundo da União Europeia e das questões politicas que a antecederam e envolvem. Mas a União Europeia para além do contracto que pressupõe entre cidadãos e estados, é também segundo o Professor, um elemento essencial de integração de uma globalização e de uma internacionalização de bem-estar social, governado por poderes públicos conscientes e activos. Mas tudo isto só é possível com cidadãos acordados e interessados para as questões práticas que há a discutir.
A pesar de duplamente leiga e interessada no assunto, sinto que posso dizer que foram três horas privilegiadas de contributos de quatro oradores e de vários participantes que, demonstrando preocupações sociais, económicas e culturais, fizeram-me alimentar a minha fé de que com pessoas tão informadas e preocupadas, a mudança é possível e realizar-se-á.
Joana Gomes
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